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II SÉRIE — NÚMERO 29

de natureza muito mais estrutural do que conjuntural, pondo em causa o carácter temporário que inicialmente lhe era imputado. Encontra-se, presentemente, generalizada a todas as economias —membros da OCDE, Terceiro Mundo e países da Europa de Leste—, afectando de forma significativa, além das estruturas sociais, os domínios económico e financeiro.

A análise da envolvente externa da economia portuguesa procurará referir os aspectos mais relevantes desta situação, circunscrevendo-se, no entanto, ao quadro mais restrito dos países da OCDE, área em que Portugal se integra e no âmbito da qual estabelece a quase totalidade das suas relações económicas e financeiras.

Esta zona atravessou em 1982 uma fase de estagnação económica marcada por elevados graus de incerteza e risco, em particular nos domínios cambial e financeiro. Com efeito, a recuperação da actividade prevista pela OCDE para o corrente ano não se veio a confirmar, tendo-se verificado, pelo contrário, uma queda do produto, quer a nível do conjunto da zona (—0,2%), quer entre os 7 principais países industrializados (—0,3%).

O comportamento da economia americana, com — 1,6 % no crescimento do produto, foi, em grande medida, determinante, não só pelo efeito de arrastamento que poderia ter tido nos outros membros da zona (o peso desta economia na área da OCDE é de cerca de 40 %), como pelos reflexos, a nível das taxas de juro e das taxas de câmbio, das políticas monetária e fiscal prosseguidas pelas autoridades norte-americanas. A generalidade dos restantes países da OCDE continuou também a prosseguir políticas internas marcadamente restritivas, subordinadas a objectivos de contenção da inflação e ou de controle do défice da respectiva balança de transações correntes. Assim, a procura interna no conjunto da OCDE permaneceu estagnada, apresentando mesmo uma ligeira queda, em termos reais, nos 7 principais países industrializados. A evolução da procura externa dirigida à OCDE não permitiu, por outro lado, compensar o fraco ritmo da procura interna. As exportações desta área com destino ao resto do Mundo apresentaram, com efeito, uma queda, em volume, de cerca de —5,5 %, agravada por uma redução dos preços de exportação dos produtos manufacturados de perto de — 1,5 %.

As perspectivas para 1983 são ligeiramente mais optimistas, prevendo a OCDE um crescimento do produto da ordem de 1,8 % para o conjunto da área e de 1,9 % para os 7 principais países industrializados. Esta ligeira retoma está, no entanto, dependente, mais uma vez, da evolução da economia dos EUA, que deverá, segundo a OCDE, apresentar um crescimento de cerca de 2,3 % no próximo ano. A falta de previsões oficiais norte-americanas e a contínua reafirmação das políticas monetária e fiscal levantam, contudo, algumas interrogações quanto à retoma prevista pela OCDE para este país, que, a verificar-se, apenas deverá ser significativa no 2.° semestre do próximo ano.

Estas dúvidas são ainda reforçadas pelo facto de os agentes económicos neste país se terem comportado ultimamente em termos que denotam falta de confiança: os consumidores aforram mais do que o previsto, receando talvez o desemprego e a eventual quebra dos seus rendimentos futuros; as empresas, com

compromissos financeiros muito elevados, têm como objectivo prioritário reestruturar os seus balanços, cortando nos projectos de investimento e não acumulando stocks; os bancos, com o acumular de créditos duvidosos, quer por parte das empresas, quer, nalguns casos, de países, não têm possibilidades de implementar políticas agressivas de financiamento.

O crescimento do produto em 1983, a verificar-se, deverá ser sustentado por um aumento idêntico na procura interna a nível da OCDE e por uma recuperação significativa (7,5 %) das exportações desta área com destino ao resto do Mundo. Esta ficará a dever-se, em certa medida, a um restabelecimento das exportações para a OPEP, da ordem dos 14 %, compensando a queda, em volume, de — 15 % que se prevê para este ano.

As consequências da actual conjuntura internacional — queda da actividade económica e estagnação do comércio internacional— têm sido profundas a nível da situação económica interna da quase generalidade dos membros da OCDE. Os países, ao adoptarem políticas monetárias e fiscais restritivas para contenção da inflação e ou controle do défice da balança de transacções correntes, têm reduzido substancialmente o crescimento do produto, com consequências fortemente negativas no mercado de emprego. O desemprego tem, assim, aumentado generalizadamente, quer pela incapacidade de criação de novos postos de trabalho, quer em muitos casos, pela própria redução do volume de emprego.

A nível dos principais países industrializados, em

1982 só o Japão apresentou um crescimento ligeiro do emprego (0,9 %), compatível com a evolução positiva do produto da ordem dos 2,5 %. Em 1983 o Japão poderá continuar a ser excepção neste conjunto de países, a não ser que se venha a verificar a desejada retoma da actividade económica norte-americana. Esta poderia arrastar um incremento do emprego da ordem de 1,1 %, após uma queda em 1982, que deverá rondar os —0,7 %.

Neste contexto, a taxa de desemprego dos 7 principais países industrializados atingirá em 1982 cerca de 8,1 % (6,6 % era 1981), devendo agravar-se em

1983 para um nível próximo dos 9 %. Para o conjunto da OCDE a taxa de desemprego aproximar-se-á em 1982 dos 9 % (7,1 % em 1981) e em 1983 dos 9,5 %, o que corresponderá a 33,3 milhões de desempregados. Na Europa há, inclusivamente, países cuja taxa de desemprego no corrente ano ultrapassa já os 10 % — Irlanda, 10%, Reino Unido, 12,2%, Bélgica, 12,5 %, e Espanha, 16,1 % — e cuja situação a OCDE prevê ainda que se deteriore em 1983.

Em muitos países o aumento do número de desempregados tem sido ainda acompanhado de um crescimento médio das remunerações salariais àquem da evolução apresentada pelos preços.

A nível da Europa, os dados disponíveis indicam que este desfasamento, da ordem de 1 a 2 pontos, se deve ter verificado em 1982 na quase generalidade dos países europeus, à excepção da Grécia e da Itália, prevendo a França uma evolução idêntica para os dois indicadores. Em 1983 deverá continuar a registar-se um ritmo de crescimento das remunerações salariais ligeiramente inferior ao dos preços. A França admite-o