O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

17 DE DEZEMBRO DE 1982

397

necessidade de conter a procura interna para fazer face ao desequilibrio externo. O crescimento dos salários, da ordem dos 21 % a 22 %, poderá corresponder a uma ligeira quebra, em termos reais, visto que os preços não deverão aumentar, na média dos 12 meses, mais de 23 % no ano em curso.

Em termos de rendimento disponível, não é provável que os outros factores contribuam significativamente para a sustentação do consumo privado, pois, quer as transferências externas (remessas de emigrantes), quer as internas, deverão crescer menos do que os preços. Nestas condições, o crescimento real do consumo privado conduz a uma redução da poupança interna.

Relativamente ao consumo público, os dados disponíveis apontam para uma desaceleração, em termos reais, mas devendo atingir ainda níveis da ordem dos 3 % a 4 % em média anual, que, em grande parte, será explicável pelas admissões de funcionários nos departamentos de saúde e educação c também da justiça.

Quanto ao investimento, os indicadores parcelares disponíveis neste momento relativamente aos consumos de aço e cimento apontam para um crescimento mais lento da componente construção a que se vem assistindo desde a segunda metade de 1981. Esta desaceleração segue-se a um período de rápido crescimento do investimento na construção.

Por outro lado, alguns indicadores — índice da produção industrial da indústria pesada, importação dc bens de equipamento e material de transporte — apontara para a manutenção de um ritmo ainda elevado para a formação de capital em equipamentos. Para tal andamento terão contribuído também os investimentos levados a cabo por algumas empresas públicas.

2 — Oferta

Do lado da oferta, há a salientar a recuperação sensível das produções dos sectores agrícola e energético. De facto, após os maus resultados de 1981 provocados por condições climatéricas excepcionalmente adversas, estima-se que o produto de «Agricultura e pescas» cresça 6 %, em termos reais, e o de «Energia» 7 %, também em termos reais. A produção agrícola de 1982 terá correspondido à de ano normal, de acordo com as médias do último decénio, embora ainda inferior a resultados alcançados no passado e muito aquém das necessidades do País.

A actividade industrial deverá recuperar moderadamente — o índice da produção industrial geral aumentou 5 % no 1.° semestre e o da indústria transformadora 3,8 % —, enquanto o sector da construção deverá apresentar ainda algum crescimento.

O sector de serviços deverá também apresentar alguma desaceleração, na sequência do abrandamento do consumo e do comportamento do sector do turismo.

3 — Relações externas

No 1.° semestre de 1982 o défice da balança de transacções correntes atingiu 2225 milhões de dólares, contra 1772 milhões em igual período do ano anterior. Para o conjunto do ano estima-se um défice de cerca de 3 biliões de dólares, apesar da melhoria da ordem

dos 440 milhões de dólares que se prevê na balança de mercadorias.

Tal situação ficará a dever-se essencialmente, ao aparecimento de um saldo negativo na balança de serviços, ao comportamento desfavorável das remessas de emigrantes e ao crescimento dos juros pagos ao exterior.

O pagamento de juros ao exterior contribuiu significativamente para o agravamento do desequilíbrio externo. Só nesta rubrica de rendimentos de capitais líquidos o agravamento previsto para 1982 é da ordem dos 400 milhões de dólares, em consequência da dívida acumulada ao longo dos anos e do nível elevado das taxas de juro nos mercados internacionais.

No que respeita às exportações de bens e serviços, a despeito do crescimento, em volume, das exportações de mercadorias, prevê-se uma estagnação, devido ao comportamento recessivo das exportações de serviços, nomeadamente do turismo e da reparação naval.

Quanto às exportações de mercadorias, após um crescimento, em volume, superior a 6 % no 1semestre, correspondendo a um ganho sensível de partes de mercado, aponta-se para uma evolução da mesma ordem para o conjunto do ano. Assim, apesar da conjuntura internacional desfavorável — a procura interna na zona da OCDE manteve-se estagnada, contrariamente às previsões de finais do ano anterior—, ficar--se-á próximo do objectivo do aumento, em volume, das exportações de mercadorias fixado pelo Governo para 1982.

Os comportamentos sectoriais verificados no í.° semestre do ano em curso mostram que para a variação positiva das nossas exportações o contributo essencial proveio dos novos sectores, com realce para os novos produtos químicos (aromáticos) e material de transporte (nomeadamente a indústria automóvel e seus componentes), e também dos têxteis e confecções, que cresceram a um ritmo bastante superior à média.

Os comportamentos de alguns sectores tradicionais poderão, no entanto, inverter-se no 2.° semestre, com melhorias significativas nos sectores de bens alimentares, madeiras e cortiças e um ritmo de crescimento menos acelerado nos têxteis e confecções.

No entanto, o andamento previsto em volume não é acompanhado por uma evolução de preços que traduza os ganhos inicialmente previstos em termos de troca, face à descida dos preços do petróleo e dos produtos alimentares, e, consequentemente, as receitas de exportações, em dólares, tenderão a apresentar uma variação ligeiramente negativa.

As importações de bens e serviços deverão crescer, em volume, no decurso de 1982 acima de 4 %, devido às importações de mercadorias, que se prevê registem um crescimento de cerca de 4,5 %, enquanto as importações de electricidade, anormalmente elevadas em 1981, contribuirão para a atenuação da evolução global.

As compras ao exterior de produtos agrícolas e combustíveis estão na base da referida previsão, com crescimento da ordem dos 6 %, em volume. Por outro lado, as importações mais ligadas à actividade económica — produtos intermediários —, reflectindo alguma desaceleração, deverão ficar aquém dos 3 %; as importações de bens manufacturados — máquinas e material de transporte— devem apresentar um crescimento mais significativo, superior a 6 %.