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28 DE FEVEREIRO DE 1987

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D. Dinis, seu genial plantador, deparamos subitamente, por entre o rendilhado de ramagens contorcidas, selvagens e verdes, com o mar Atlântico, bramindo em melopeia de búzio, ora para norte, contra rochedos e arribas, ora para sul, em areias vastas que se acantilam em impressionantes dunas, olha-se aquela maravilha, como se houvéssemos recorrido tn mente à visão suprema de uma gigantesca rosa azul, de pétalas a desfolharem-se cambiantes brancas e de acidulado enxofre.

Ê uma ideal costa de três praias salientes: Pedrógão, Vieira de Leiria e São Pedro de Muel. Por assim dizer, elas são a porta batimétrica, formada por largo fundo de areia, por onde se escoa o sistema hidrográfico da bacia do Lis.

Pois bem, é este começar em extensão de cerca de 35 km que vem do lado do norte da desértica praia do Osso da Baleia, encravada na Mata do Urso, e acaba para sul, na falésia da Nossa Senhora da Vitória, na remota praia das Paredes, anterior à fundação da Pederneira, da Nazaré, quase paralela às vertentes ocidentais.

A mata assenta sobre um terreno levemente acidentado e é de 114m no lugar do Facho, altitude, no citar do Guia de Portugal, das mais notáveis dunas e, assim, a predominância nelas do pinheiro bravio, robusto e de grande porte, incute à perspectiva natural do pinhal, surraipa, depósitos lacustres e mar uma característica fundamental e distinta, como fecho do vale anticlinal, cujo maciço tifónico é coberto de infrálias.

Não há dúvida de que toda a história desta região se fixa no mar e no pinhal.

A maioria dos etnógrafos são de opinião de que, se a pesca não é caça na vida do homem, é pelo menos coincidente, pois nas mais velhas estações paleolíticas encontram-se conchas e alguns restos de peixes — ostreiras do Atlântico peninsular, que se tornaram famosas, e, assim, é de crer fosse remota a fixação de pesca de outros povos nesta costa.

Há notícias de as Paredes terem servido de porto ainda antes da fundação da nacionalidade e em São Pedro de Muel há indícios de ocupação árabe. Segundo o relatado por Frei Manuel dos Santos, foi doada por D. Afonso Henriques aos monges da Abadia de Alcobaça e, através das épocas, muito frequentada por príncipes e senhores eclesiásticos. Recordamos alguns dos nomes dessa tradição ilustre, como o pitoresco Penedo da Saudade, onde, segundo a lenda, a duquesa de Caminha ia chorar a morte prematura do seu marido.

«Para começarmos o nosso passeio», escreveu Afonso Lopes Vieira, «São Pedro de Muel, de nova demanda, sairemos, pois, dessas terras de Moer que me são queridas, e digo Muel porque assim se designava Muel no foral de D. Afonso Henriques, em que o nosso primeiro rei fez doação em latim do foral — até Muel junto ao mar.»

Foi esta a história, a tão nobre etimologia de Muel, que aconselhou a que se escrevesse Muel com o, donde nasceu uma espécie de querida ortográfica.

Ê, pois, assente que a formação externa do nome e o seu sentido intrínseco tiveram base em dois elementos: o da existência de moinhos, certamente de água, onde se ia moer milho, e o do santo orago

São Pedro, o que lhe veio a conferir classificação de toponímia, embora mais tarde passasse a padroeira a ser Nossa Senhora da Piedade.

É uma povoação muito bela, cheia de pitoresco e de disposição em presépio, aonde se chega por rodovias vindas de Pataias, da Marinha Grande ou da Vieira, sempre desfrutando uma paisagem idílica, revestida de frescas ramagens em vários tons verdes, aqui e ali salpicadas pelo amarelão das flores de acácia e de giestas bravias.

O seu aspecto de conforto, bom gosto e ar lavado empolga os mais exigentes. Descendo por uma rua até ao Largo da Praia circundada por muitas travessas marginadas de interessantíssimas moradias, algumas com típicas varandas de madeira, ornadas de flores e de plantas rústicas, havendo para norte uma larga avenida em direcção ao farol implantado junto ao Penedo da Saudade, verdadeira varanda em ex-plendor sobre o mar, chega-se a uma nacarada concha de areia e penedos.

Alteada do revoltear bravio das ondas, edificadas assim sobre rochas eruptivas e sedimentares, aninha--se mesmo à beira do talhão mais famoso do Pinhal de Leiria.

A praia e o mar de São Pedro de Muel. É uma costa muito caprichosa e bela, completamente diferente das duas de que falámos, em que uma penedia transformada em paredão, que vai descendo em escadas, lhe dá espectáculo e feição, abrigando a praia de banhos, que se estende para sul, numa areia enfeitada de concheias e pedrinhas, alcantiladas, depois, por falésias, ribados e rochedos, por onde escorregam bálsamos floridos de amarelo e róseo: tem um re? corte misterioso, e atraente, com pedras cismáticas e grutas, por onde se derrama um cheiro forte a resina e a sal. Seguir essas madres prainhas e enseadas, desde o limite norte das Pedras Negras às rochas segmentadas de Agua de Madeiros, é assistir a uma evocação de nomes, com a sua própria história: Praia Velha, Penedo do Cabo, Descida da Areia, com a lagoa da Concha, Buraco do Prego, Pedra Rachada, Penedo da Saudade, Bode, Caldeiras, Arco Piornes, Camaroeira de Dentro, Camaroeira de Fora, São Julião, Furna, Pedra da Passada, Pires, Mesa e Castelo, Frades de fora, Frades de Dentro, Lexandrina de Fora, Lexandrina de Dentro, Praia de São Pedro, Poço das Cantigas, Pedra da Lapa, Penedo do Mexilhão, Penedito, Praia do José Costa, Praia das Valeiras, Pedra Lisa e Pedra da Maré. O mar aqui é sempre uma festa sem sentido, são risos, soluços, gritos, cantos e lágrimas, num reparo de atitudes e remoinhos, numa cor de lousa, que às vezes verdeja com veios de brancura, em afago de lua.

Não tem barcos de pesca do arrasto, mas gozam-na frequentadores cosmopolistas, em barracas armadas, de um e de outro lado do socalco do Casino, pertencentes aos seguintes banheiros: Manuel Tojeira Júnior (Lecas), Mário Boiça e João da Nazaré.

Presentemente está enriquecida de um conjunto de blocos turísticos em frente à piscina, com restaurante e outros atractivos.

São Pedro de Muel beneficia de um conjunto arquitectónico sem precedentes na orla marítima de norte a sul; quando visitada, dá prazer aos visitantes voltarem a rever novas e constantes vivendas de estilo maravilhosas.