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28 DE OUTUBRO DE 1987

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económico que permitiu o surto industrial mais poderoso e concentrado de toda a região Centro do País. Foi, na verdade, a partir das actividades florestais que as populações começaram a aparecer e a fixar-se.

Da Marinha (certamente por ser perto do mar), pequeno aglomerado a leste do pinhal, não há notícias antes dos primórdios do século xvi. No entanto, a conhecida praia de São Pedro de Muel (actualmente integrada na freguesia da Marinha Grande) é já referida em 1151 na carta de doação passada por D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Alcobaça e parece ser a existência de Muel (do árabe «Moer») anterior à fundação da nacionalidade.

Os primeiros moradores da Marinha Grande terão sido os couteiros de D. Dinis e os guardas do pinhal, que se dedicaram aos trabalhos florestais, aperfeiçoando as madeiras que serviram para a construção das naus das descobertas, registando-se em 1527 uma população de 80 habitantes. Como escreveu o poeta Afonso Lopes Vieira, foram eles que «transformaram a mata no gótico pinhal lenhador, compondo, assim, o prólogo não escrito de Os Lusíadas».

A primeira notícia documental referente à Marinha Grande data de 1590, quando os seus moradores, depois de erguerem uma ermida, pediram e obtiveram licença do respectivo bispo para aí dizer missa.

Em 1600 é criada a freguesia da Marinha Grande, que contava 268 fogos, mantendo-se a sua população a viver em exclusivo do pinhal, pouco crescendo até meados do século xvm.

Até que em 1748 aconteceu a grande explosão, com o estabelecimento na Marinha Grande da indústria do vidro, transferida da Fábrica Real de Coina, uma vez que esta havia já esgotado os pinhais vizinhos, procurando então o seu proprietário uma nova localização que tivesse em conta as condicionantes económicas. Contudo, a primeira fábrica de vidro atravessou ainda vicissitudes várias que levaram o governo a ter de intervir.

E é então que em 1769 a política desenvolvimentista do marquês de Pombal levou D. José a chamar à corte o inglês Guilherme Stephens, a quem pediu que assumisse a administração da fábrica, o qual, com toda a sua força e entusiasmo, haveria de ficar para sempre ligado à história da Marinha Grande.

Com o auxílio de cinco mestres genoveses e de operários portugueses, aí se inicia a história industrial da Marinha Grande e, por que não dizê-lo, de Portugal. Em 1788 Guilherme Stephens afirmou publicamente que «a produção da fábrica é superior ao consumo de Portugal e seus domínios e os seus operários rivalizam com os melhores do Mundo».

Após a morte de Guilherme Stephens, a sua administração foi continuada por seu irmão Diogo Stephens, que, por morte em 1826, legou a fábrica ao Estado, a qual contava já 500 operários.

Com todo este dinamismo, a Marinha Grande começou a transformar-se numa verdadeira «Meca» para milhares e milhares de pessoas em busca de um emprego, as quais, por sua vez, geraram novas e dinâmicas actividades, que se foram alargando ao longo dos anos. Em 1892, por foral de D. Carlos, a Marinha Grande é elevada à categoria de vila. Até fins do século xix ainda foram criadas mais sete fábricas, registando a Marinha Grande em 1900 uma população de 5666 habitantes, para em 1911 registar já 6897 habitantes.

Porém, não era só na Marinha Grande que a indústria se desenvolvia, uma vez que também na freguesia de Vieira de Leiria, que foi criada em 1740, e principalmente a partir de 1820, se verificou a instalação de pequenas indústrias, sabendo-se que em 1840 a sua população era já um aglomerado significativo, composto por construtores navais, vidreiros, pescadores, limeiros, ferreiros e serradores.

Entretanto, em 1917 é confirmado o estatuto de município da Marinha Grande, portanto já no tempo da República, quando muitas outras povoações portuguesas perderam essa prerrogativa. Por esse facto, a Marinha Grande é bem o exemplo de um tempo novo em que o direito de município se conquista mercê do desenvolvimento real produzido pela revolução industrial.

Foi alguns anos mais tarde, em 1924, que se começou a desenhar a segunda grande explosão industrial da Marinha Grande, quando um antigo operário da ex--Fábrica Nacional se propôs reproduzir a partir de ferro fundido nacional os moldes essenciais à fabricação do vidro, que até aí sempre haviam sido importados da Inglaterra e da Alemanha. De tal modo obteve sucesso que em 1929 instalou na Marinha Grande a primeira unidade industrial portuguesa do ramo.

Poucos anos mais tarde, com o aparecimento do plástico, a indústria de moldes viu reforçada a sua importância, tendo sido produzido em 1934 o primeiro molde português do género, fundando-se em 1946 a primeira unidade industrial exclusivamente destinada à produção dos mesmos. Beneficiando do florescimento da indústria de plásticos (e vice-versa) que se verificou em Leiria, bem como da instalação da primeira empresa do ramo na Marinha Grande, esta indústria veio ganhar nova dinâmica expansionista.

Acompanhando este surto de crescimento industrial, verificou-se, paralelamente, um acentuado crescimento populacional, registando-se em 1950 uma população na vila da Marinha Grande da ordem dos 10 300 habitantes, para em 1960 registar já cerca de 16 000.

Este desenvolvimento industrial e populacional implicou, inevitavelmente, o crescimento do sector terciário da Marinha Grande, onde, nomeadamente, o sector de serviços registou na década de 60-70 considerável ascenso de 17,1% para 22,3%, não mais parando de crescer até aos nossos dias. Esta década foi, apesar do enorme fluxo emigratório verificado no País, uma década de crescimento populacionala, industrial e comercial, registando a vila da Marinha Grande mais de 18 000 habitantes em 1970.

De então para cá não mais esse crescimento cessou, sendo hoje a vila da Marinha Grande possuidora de uma actividade industrial invejável, acompanhada de uma actividade comercial diversificada, que fazem girar em torno de si não só os seus 30 000 habitantes, mas também as populações de todos os municípios da região.

Assim surge como actividade tradicionalmente principal, como não poderia deixar de ser, a indústria vidreira, que mobiliza cerca de 7000 trabalhadores, que se distribuem por mais de 80 empresas, uma das quais com mais de 1000 trabalhadores e cinco com mais de 600. Garrafaria, com cerca de 2500 trabalhadores e uma produção de 30 000 000 unidades por mês, cristalaria, com cerca de 4000 trabalhadores, transformação de vidro e material para laboratório são os princi-