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5 DE JUNHO DE 2015 23

a ligação fluvial a Olisipo (Lisboa) para quem chegava, pela via romana que ligava esta cidade a Mérida

(capital da província romana da Lusitânia).

O que é hoje a Vila do Monte de Caparica foi em tempos considerada uma das mais ricas povoações do

concelho de Almada, tendo sido a sede da paróquia desde a sua existência e tem sido ao longo dos tempos

um lugar com uma enorme vivência social, tendo sido aí fundada a Associação Filarmónica Protetora Monte

Pio de Nossa Senhora do Monte de Caparica, no ano de 1865. Esta instituição fornecia socorro e

medicamentos às pessoas mais carenciadas. Em 1878 foi fundada uma outra associação mutualista chamada

de Monte Pio Caparicano de Nossa Senhora do Rosário e mais tarde surgiu a Monte Pio de Nossa Senhora do

Cabo.

Para além do mutualismo os monte caparicanos desempenharam um papel preeminente tanto no recreio

como na cultura, tendo desenvolvido grande atividade e criado duas famosas filarmónicas, sendo a mais

antiga reconhecida pelo nome de “Marroquinos” e a mais recente por “Caldeireiros”, tendo estas mantido uma

forte rivalidade, extinguindo-se, ambas, no final do século XIX. Em meados de 1876 veio para o Monte de

Caparica o industrial António da Silva, que acabou por instalar, em propriedade sua, o Teatro Garrett, com a

notável capacidade para 300 pessoas.

Para além de outras pessoas ligadas à política e ao meio social e político do concelho de Almada, é de

salientar o grande poeta e escritor romântico Raimundo António de Bulhão Pato, que viveu grande parte da

sua vida no Monte de Caparica e que é autor de muitas obras entre as quais figura o “Livro do Monte”, que foi

editado em 1896. Bulhão Pato faleceu no Monte de Caparica e está sepultado no cemitério da vila.

Já no século XX foram instalando-se na Caparica diversas indústrias e após a construção da Ponte 25 de

Abril de 1974, a paisagem é modificada definitivamente com a diminuição das áreas agrícolas e florestais e

com um surto urbanístico, existindo um incremento do sector terciário e ocorrendo alterações de nível social

que se prolongam até hoje. A Freguesia de Caparica que, em 1950, possuía uma população maioritariamente

constituída por operários, inicia pela década de 60 uma mudança do tipo da população residente, em que

começaram a fixar-se profissionais de serviços que, por motivos vários, não conseguem habitação em Almada.

2. Caparica a Freguesia — Razões da Nossa Singularidade

Os “caparicanos” erigiram em 1442 a primeira ermida a Santa Maria do Monte, mas tinham de continuar,

como até aí, a sepultar os seus mortos em terreno sagrado ou seja no cemitério das paróquias de Almada. A

distância, as inundações, e os tempos de peste, não tornavam possível levar os seus defuntos a sepultar à

igreja e ao cemitério da vila de Almada, para além de que esses mesmo obstáculos impediam, por vezes, os

habitantes da “Caparica” de receberem os sacramentos e por vezes até morriam sem os receberem e as

crianças chegavam a falecer sem o batismo. Esta situação que pelos seus custos e incómodos, para além da

distância entre as sepulturas dos entes queridos e as famílias que queriam continuar a prestar-lhes culto, levou

a que uma senhora ilustre da “Caparica”, chamada de Isabel Gomes, levada pela caridade e zelo religioso, se

dirigisse por escrito, ao Papa, em Roma para que a Caparica fosse elevada ao estatuto de paróquia e tivesse

direito a uma igreja consagrada. Será importante recordar que nesses tempos idos, os cristãos só deviam ser

sepultados em terreno sagrado, i.e. cemitérios que existem à volta das igrejas e não em locais profanos.

É neste período que também é erigida a Torre Velha de São Sebastião da Caparica, classificada

Monumento Nacional em 2012. Esta fortificação ampliada no reinado de D. Sebastião aumentou em muito a

importância estratégica-militar da Caparica, porque permitia defender a entrada da Barra do Tejo, porque

cruzava o fogo da sua artilharia com o da Torre Nova, mais conhecida como a Torre de Belém.

O núcleo antigo do Monte de Caparica desenvolveu-se em redor da Igreja e ao longo das vias que

atravessavam a povoação e a ligavam à Quinta da Torre e aos lugares de Fonte Santa e Porto Brandão, uma

pequena mas típica povoação ribeirinha de pescadores e catraieiros.

O Porto Brandão, que serviu de entreposto comercial e porto da Caparica, conheceu um assinalável

desenvolvimento quando aqui funcionou, entre 1815 e o início do século XX, junto à Torre Velha, o Lazareto

do Porto de Lisboa, espaço destinado às quarentenas de passageiros e mercadorias que chegavam em navios

cujo porto de origem eram países tropicais. O novo edifício do Lazareto foi construído entre 1867 e 1869,

tendo sido, à época, considerada uma das mais avançadas instalações do género na Europa.

Com a reforma administrativa de 1878, o concelho de Almada passou a ser constituído por duas paróquias

civis: Almada (que resultava da fusão de Santa Maria do Castelo e Santiago) e Nossa Senhora do Monte de