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II SÉRIE-A — NÚMERO 64 10

nomeadamente, no Médio Tejo, no Oeste, em Coimbra, no Algarve ou a integração da Maternidade Alfredo da

Costa e do Hospital Curry Cabral no Centro Hospitalar Lisboa Central.

Em abril de 2014, foi publicada a Portaria n.º 82/2014, de 10 de abril, que procede à classificação dos

hospitais em quatro grupos. Mas na prática esta Portaria impõe a desclassificação e desqualificação da

esmagadora maioria dos hospitais, através da redução de serviços, de valências e especialidades e de

profissionais de saúde, conduzindo ao despedimento de milhares de trabalhadores.

A publicação da Portaria 82/2014, de 10 abril, inseria-se na estratégia política do Governo PSD/CDS de

destruição do Serviço Nacional de Saúde e de privatização da saúde. Reduz-se a capacidade de resposta na

rede pública, para se abrir no privado e assegurar “clientes” para os grandes hospitais privados e chorudos

lucros aos grupos económicos à custa da saúde das pessoas.

A portaria prevê o encerramento de 24 maternidades pelo facto de não integrar a especialidade de obstetrícia

nos hospitais classificados no Grupo I; a eliminação das especialidades de endocrinologia e estomatologia dos

hospitais públicos; o encerramento do Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto; o encerramento dos serviços de

cirurgia cardiotorácica nos Hospitais de Gaia e de Santa Cruz; o encerramento de serviços de cirurgia pediátrica

ficando apenas esta valência circunscrita a Porto, Lisboa e Coimbra. A contestação à Portaria teve e continua a

ter expressão de norte a sul do país. Populações, profissionais de saúde e autarcas têm-se oposto à redução

de serviços e valências hospitalares.

Nos últimos anos foram dados passos significativos no sentido da privatização dos hospitais públicos, com a

introdução do modelo de gestão empresarial, onde a vertente economicista e de mercantilização da saúde ganha

uma maior dimensão, enquanto a vertente clínica é progressivamente desvalorizada. Primeiro foi a constituição

dos hospitais como sociedades anónimas (SA), depois vieram as entidades públicas empresariais (EPE) e

simultaneamente foi-se desenvolvimento do modelo de gestão clínica em parcerias público privadas (PPP).

No entanto, o Governo PSD/CDS-PP quis ir mais longe na privatização dos hospitais do SNS, de que a

entrega dos hospitais do SNS à gestão das Misericórdias é um claro exemplo. Aliás, o conceito de separar o

financiador do prestador significa que para o Estado remete-se a função de regulador e de financiador da

atividade privada com os recursos públicos, cabendo aos privados a prestação dos cuidados de saúde. É um

extraordinário negócio, os portugueses pagam e os privados acumulam os lucros, numa área onde não existe

risco, porque “os clientes” (na perspetiva dos grupos económicos e financeiros) estão assegurados, assim como

a atividade assistencial.

O modelo empresarial da gestão hospitalar foi apresentado pelos seus defensores como sendo mais eficiente

do ponto de vista financeiro e mais eficaz na prestação de cuidados de saúde, desvalorizando a gestão direta

da Administração Pública. Dizia-se que com este modelo se iria pôr fim às derrapagens, aos gastos supérfluos

e que reduziriam as dívidas. Substituiu-se os profissionais de saúde por gestores para a fazer a gestão dos

hospitais. Porém, ao fim de uma década de gestão hospitalar empresarial verificamos que nenhum dos objetivos

foi alcançado. A dívida continuou a não se vislumbrou vantagens do ponto de vista da melhoria da gestão

hospitalar.

Mantém-se o modelo de contratualização da produção assistencial, a política de subfinanciamento crónico

dos hospitais, de não resolução das ineficiências estruturais e de organização, sem a realização de

investimentos nas infraestruturas que permita melhorar a qualidade dos cuidados de saúde prestados e otimizar

a utilização dos recursos públicos.

A transformação dos hospitais públicos do SNS em entidades SA, posteriormente EPE possibilitou em grande

linha a retirada de direitos aos trabalhadores e contribuiu para a desregulamentação das carreiras dos

profissionais de saúde. A retirada de direitos dos profissionais de saúde constituía também um dos objetivos da

empresarialização dos hospitais. Foram introduzidos os contratos individuais de trabalho com condições de

trabalho diferentes dos contratos de trabalho em funções públicas – reduziram salários, aumentaram o horário

de trabalho, entre outros.

Quatro anos de Governo PSD/CDS e as consequências nefastas das opções políticas estão bem à vista e

fazem-se também sentir, e de uma forma cada vez mais acentuada, na degradação generalizada do

funcionamento dos serviços públicos de saúde como resultado do aprofundamento de uma política de

subfinanciamento do SNS, os elevados tempos de espera para consultas de especialidade e de cirurgias ou a