O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

II SÉRIE-B — NÚMERO 81

10

no nosso País.

Situada na Av.ª Lourenço Peixinho, n.os 168/170, e agora condenada à demolição, a Vivenda Aleluia foi

mandada construir por Gervásio Pinho das Neves Aleluia (1898-1986), um dos proprietários da Fábrica Aleluia,

tendo no seu piso térreo funcionado a loja da fábrica, a Selectarte, cujo espaço foi mais tarde ocupado por uma

pastelaria com o mesmo nome. O projeto, datado de 1929, é da autoria de Francisco da Silva Rocha, integrando

um valioso património cerâmico e decorativo que merece ser conservado in situ.

A Vivenda Aleluia é representativa da fase final do trabalho de Silva Rocha, o expoente máximo da arquitetura

Arte Nova em Portugal, responsável pelo conjunto construtivo mais expressivo desta corrente artística no nosso

País, com reconhecimento internacional. O projeto aproxima-se da tipologia da «casa portuguesa», preconizada

por Raul Lino, constituindo-se como uma peça fundamental para a compreensão da evolução da obra de Silva

Rocha. Embora deva ser entendida como parte de um conjunto de edificações do mesmo autor e do mesmo

período, a Vivenda Aleluia destaca-se pela riqueza e originalidade do seu programa decorativo, bem como pela

sua importância para o património urbanístico de Aveiro, uma vez que corresponde à fase de abertura da antiga

Avenida Central.

O programa decorativo da Vivenda Aleluia corporiza o gosto eclético do seu proprietário, sendo demonstrativo

da produção da Fábrica Aleluia à época da sua construção. O edifício integra painéis azulejares revivalistas com

elementos neobarrocos; silhares em azulejaria de padrão, criados especificamente para cada divisão, bem como

emolduramentos geométricos e remates em azulejaria marmoreada de vivo colorido. Os painéis figurativos

exteriores centram-se na exaltação da relação entre o Homem e a Natureza, incluindo a representação de S.

Francisco de Assis; alegorias ao trabalho, através de referências a atividades rurais e as paisagens da Ria, com

os tradicionais barcos moliceiros. Do vasto património azulejar é de destacar, pela sua raridade, o painel situado

à entrada no patamar superior, da autoria do próprio Gervásio Aleluia, uma vez que é o único painel de grande

escala e qualidade conhecido com a sua assinatura. Gervásio Aleluia, pintor e diretor artístico da fábrica, desde

a morte de seu pai, em meados da década de 1930, terá também sido responsável pela conceção de

apontamentos decorativos Art Déco, nomeadamente o revestimento azulejar monocromático do fogão de sala,

que inclui um friso figurativo de inspiração clássica estilizada com alegorias à dança e à música. Do programa

decorativo são ainda de referir o exuberante lustre, composto por elementos cerâmicos de cariz vegetalista e

enrolamentos pintados manualmente com cores contrastantes, os vitrais coloridos compostos por elementos

geométricos, o trabalho de marcenaria artística em tetos e portas, bem como os gradeamentos exteriores das

montras do piso térreo, em serralharia com elementos ondulantes, ao gosto Arte Nova.

Para além da sua importância artística e arquitetónica, a Vivenda Aleluia é um símbolo do legado da indústria

cerâmica na cidade de Aveiro. Ao longo de todo o Século XX, a Fábrica Aleluia produziu azulejaria e variadas

peças de cerâmica, dando emprego a gerações de aveirenses que se cruzavam com as suas instalações no

centro nevrálgico da cidade. Os seus painéis podem encontrar-se de norte a sul do País, tendo recebido

encomendas internacionais de vulto, levando a marca Aleluia-Aveiro a várias partes do mundo. O legado desta

fábrica, que sempre esteve associado ao nome da cidade, deve ser tratado com dignidade e reconhecimento.

Este legado não pertence só a Aveiro, pertence ao País e a todos os que visitam a cidade.

Cada vez mais dominada por um fluxo turístico em crescimento, Aveiro não pode delapidar o rico património

material e imaterial herdado das gerações passadas e destinado às gerações futuras, é este património que

alimenta o turismo cultural. A Vivenda Aleluia não pode ficar à mercê da tirania de um pequeno grupo seduzido

pela especulação imobiliária, prejudicando assim o futuro cultural da cidade.

Porque entendemos que a conservação do património é um empreendimento para o futuro, solicitamos ao

Sr. Ministro da Cultura a classificação e proteção imediata da Vivenda Aleluia, impedindo a sua demolição.

Data de entrada na Assembleia da República: 4 de abril de 2023.

Primeira peticionária: Rita Gomes Ferrão.

Nota: Desta petição foram subscritores 1491 cidadãos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.