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SEPARATA — NÚMERO 33

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Assembleia da República, 25 de setembro de 2020.

As Deputadas e o Deputado do PAN: Bebiana Cunha — Inês de Sousa Real — Nelson Basílio Silva.

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PROJETO DE LEI N.º 535/XIV/2.ª

CONSAGRA O DIREITO DE DESCONEXÃO PROFISSIONAL, PROCEDENDO À DÉCIMA SEXTA

ALTERAÇÃO AO CÓDIGO DO TRABALHO, APROVADO PELA LEI N.º 7/2009, DE 12 DE FEVEREIRO

Exposição de motivos

Uma das formas de degradação das relações laborais que se vem verificando atualmente materializa-se na

perturbação, por parte da entidade patronal, dos períodos de descanso do trabalhador, através do recurso a

meios informáticos ou eletrónicos, impossibilitando que este se «desligue» do trabalho. Deste modo, os

trabalhadores veem a sua vida contaminada pelo trabalho, que lhes invade a casa, os fins-de-semana e as

férias, via telemóvel ou email, estando, nos últimos anos, a criar-se uma cultura de estar «sempre ligado».

O excesso de trabalho e a incapacidade de desconexão promovem um ambiente de permanente stress e

exaustão, tornando as pessoas trabalhadoras a tempo inteiro. Ora, inegáveis são as consequências negativas

que esta situação acarreta para a vida das pessoas. Recentemente, Pedro Afonso, psiquiatra, considerou que

este paradigma da conexão permanente está a disseminar, passiva e harmoniosamente, um «novo tipo de

esclavagismo» nas sociedades mais avançadas. Em entrevista, este afirmou que «As novas tecnologias levaram

a que o trabalho começasse a invadir a esfera pessoal e fizeram com que, ao trabalho cumprido

presencialmente, se some um outro trabalho que não é contabilizado nem remunerado. As pessoas sentem-se

sequestradas pela pressão laboral». Este especialista admite que é uma questão de tempo até que surjam

problemas maiores: «os relacionados com a saúde física e psíquica e com o recurso aos psicofármacos, mas

também com conflitos conjugais graves e divórcios».

Um estudo realizado em 2016 sobre o impacto do excesso de carga laboral na saúde psíquica e familiar, no

qual foram inquiridos 439 antigos alunos da AESE Bussiness School, em Lisboa, com uma média etária um

pouco acima de 40 anos, concluiu que 53% trabalham, em média, 54 horas semanais, 57% admitiram trabalhar

também em casa e 11% só conseguiram manter a sua atividade laboral porque estavam a fazer uso de

psicofármacos, designadamente antidepressivos e ansiolíticos.

A nível europeu, dos 31 países que participaram num inquérito de opinião sobre segurança e saúde

ocupacional, da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, em maio de 2013, Portugal era o

terceiro país com maior percentagem de trabalhadores a referir que o stress relacionado com a atividade

profissional é muito comum (28%).

Com efeito, de acordo com a literatura, o stress e a exaustão laborais podem provocar sintomas depressivos,

ansiedade e perturbações de sono, além de um rol de doenças físicas, como a hipertensão, doenças

cardiovasculares e diabetes. Segundo uma pesquisa realizada no Reino Unido pelo regulador Britânico Health

and Safety Executive, 43% das faltas dos trabalhadores por doença estavam relacionadas com stress. Nos

Estados Unidos, a American Psychological Association considera que os fatores de stress mais comuns são o

trabalho e o dinheiro, sendo que o stress frequentemente resulta em irritabilidade, raiva, ansiedade e

nervosismo.

Para além disto, cada vez mais estudos confirmam que trabalhar ininterruptamente não é sinónimo de

excelência e produtividade, podendo levar ao burnout (estado caracterizado por níveis extremos de exaustão,

despersonalização e quebra do sentimento de realização profissional), bem como a processos de tomada de

decisão pobres. Ainda segundo dados da Associação Portuguesa de Psicologia da Saúde Ocupacional, 13,7%