O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE — NÚMERO 41

12

Depois da transição da revolução para o constitucionalismo, da estabilização da democracia partidária, da

adesão europeia e da adoção do euro, das expectativas elevadas da viragem do século e de algumas

frustrações, entretanto, vividas, bem como da resposta abnegada dos Portugueses, esperam-nos cinco anos

de busca de unidade, de pacificação, de reforçada coesão nacional, de encontro complexo entre democracia e

internacionalização estratégica, dentro e fora de fronteiras, e entre crescimento, emprego e justiça social, de

um lado, e viabilidade financeira, do outro, de criação de consonâncias nos sistemas sociais e políticos, de

incessante construção de uma comunidade convivial e solidária.

Nunca perdendo a fé em Portugal e na nossa secular capacidade para vencer as crises. Nunca descrendo

da democracia. Nunca deixando morrer a esperança. Nunca esquecendo que o que nos une é muito mais

importante e duradouro do que aquilo que nos divide.

Persistindo quando a tentação seja desistir. Convertendo incompreensões em ânimo redobrado. Preferindo

os pequenos gestos que aproximam às grandes proclamações que afastam.

Com honestidade. Com paciência. Com perseverança. Com temperança. Com coragem. Com humildade.

É arrimado a estes valores e animado destes propósitos que inicia o seu mandato o quinto Presidente da

República livremente eleito em democracia e que saúda fraternalmente os candidatos, aqui presentes, que

civicamente disputaram as eleições do passado dia 24 de janeiro.

Aplausos do PSD, do PS, do BE e do CDS-PP.

E, porque, livremente eleito pelo voto popular, Presidente de todos sem exceção.

Um Presidente que não é nem a favor nem contra ninguém. Assim será politicamente, do princípio ao fim

do seu mandato.

Mas, socialmente, a favor do jovem que quer exercitar as suas qualificações e, debalde, procura emprego.

Da mulher que espera ver mais reconhecido o seu papel num mundo ainda tão desigual.

Do pensionista ou reformado que sonhou, há 30 ou 40 anos, com um 25 de Abril que não corresponde ao

seu atual horizonte de vida.

Do cientista à procura de incentivos sempre adiados.

Do agricultor, do comerciante, do industrial, que, dia-a-dia, sobrevive ao mundo de obstáculos que o

rodeiam.

Do trabalhador por conta de outrem ou independente, que paga os impostos que vão sustentando muito

dos sistemas que legitimamente protegem os que mais sofrem no nosso Estado social.

Do novo e ousado talento que vai mudando a nossa sociedade e a nossa economia.

Da IPSS, da Misericórdia, da instituição mais próxima das pessoas — nas Regiões Autónomas e nas

autarquias —, que cuida de muitos, de quem ninguém mais pode cuidar melhor.

Do que, no interior ainda distante, nas Ilhas, às vezes esquecidas, nas comunidades que povoam o mundo,

é permanentemente retrato da nossa tenacidade como Nação.

De todos estes e de muitos mais, o Presidente da República é o Presidente de todos.

Sem promessas fáceis, ou programas que se sabe não pode cumprir, mas com determinação constante,

assumindo, em plenitude, os seus poderes e deveres. Sem querer ser mais do que a Constituição permite,

sem aceitar ser menos do que a Constituição impõe.

Aplausos do PSD, do PS e do CDS-PP.

Um servidor da causa pública. Que o mesmo é dizer, um servidor desta Pátria de quase nove séculos.

Pátria que nos interpela a cada passo, exigindo muito mais e muito melhor.

Mas a resposta vem de um dos nossos maiores, Miguel Torga, que escreveu em 1987, vai para 30 anos:

«O difícil para cada português não é sê-lo; é compreender-se. Nunca soubemos olhar-nos a frio no espelho da

vida. A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie de obscura inocência com que atuamos na história. A poder e a

valer, nem sempre temos consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as

capacidades alheias e minimizamos maceradamente as nossas, sem nos lembrarmos sequer que uma criatura

só não presta quando deixou de ser inquieta. E nós somos a própria inquietação encarnada. Foi ela que nos

fez transpor todos os limites espaciais e conhecer todas as longitudes humanas (…)