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[1777]

Arcebispo da Bahia, Sepulveda, Gouvêa Durão, Travassos, Baeta, João de Figueiredo, Pereira da Silva, Rodrigues de Bulo, Gouvêa Ozono, Ferreira de Moura, Bastos, Xavier de Arrujo, Ribeiro Saraiva, Rebello da Silva, Couto, Ribeiro Telles, e Andre da Ponte.

O senhor Secretario Freire leu pela segunda vez o projecto do senhor Borges Carneiro para a prohibição dos touros Feita a leitura, disse

O senhor Miranda: - Se estivessemos em estado em que todos podessem raciocinar filosoficamente, eu votaria pela extincção das corridas de touros. Entretanto este espectaculo agrada ao povo desta capital, esta costumado a elle. Chamão-lhe barbaro, porém póde olhar-se debaixo de differentes pontos de vista elle he um reato de nossos antigos costumes, e oxalá que hoje, em vez de se jogarem as cartas, jogássemos ainda a barra e a lança. O combatemos touros, que á primeira vista parece barbaro, tem não ser que de heroico. A nação Hespanhola he censurada de barbara por conservar ainda este espectaculo; porem não se considera que os mesmos que assim a criticão tem outros espectaculos não menos barbaros, e em que não ha o heroico perigo. que neste seda. Os povos do Norte, por exemplo, tem as carreiras de cavalos, e o combate dos gallos. Voto portanto que se não desterre similhante espectaculo.

O senhor Santos; - Eu sou do mesmo parecer; devemos conservar este espectaculo que he propriamente nacional, e que por mais barbaro que pareça, não contribue pouco para inspirar a emulação da gloria, e foitalecer o animo em vez de afeminalo. Nós temos retrogradado muito nesta parte depois que a civilisação tem desterrado alguns de nossos antigos costumes, e o que por um lado temos ganhado, temos perdido por outro. A arte de arrostar o perigo directa e afoitamente, não póde reputar-se barbara. He uma barbaridade apparente; mas entretanto eu antes quero ser atarado directamente, que por intriga, ou por modo indirecto. O valor publico não se mantem sem o risco; deixemos-nos de palavras sentimentaes; tanto mais, quanto he muito impolitico atacar uma cousa em que a Nação tem o seu gosto principal.

O senhor Borges Carneiro: - Eu voz com o adagio de Portugal: cum brutis non est luctandum. O homem deve luctar com o homem: alem disso tenho por principio que se deve seguir o fim da natureza. Ora qual foi o fim da natureza criando estes annues? foi para que o homem se podesse servir delles, e quando muito que sei vissem paia seu sustento; mas não foi de certo para que os martyrizasse, os enchesse de flexas, e se divertisse com elles, destruindo-os pouco a pouco por meio do fogo e do ferro. Taes não forão os fins pira que a Divindade pôz os outros animaes debaixo do poder do homem Bastaria para provir a barbaridade deste espectaculo, comparar as luzes do presente seculo com as do seculo em que foi introduzido; e as nossos com as dos povos, que o introduzírão. Este espectaculo foi introduzido nas Hespanhas pelos Godos, e Mouros: povos barbaros, que se regalavão com espalhar, e ver espalhar sangue; mas este não deve ser o gosto das nações civilizadas. Ha outras classes de espectaculos mais acommodaveis as luzes da epoca actual, como a musica, os jogos, etc., e não martyrizar estes animaes, que a Divindade deu sómente aos homens para se servirem delles. Diz-se que isto inspira valor publico, e que he necessario que o homem tenha o coração duro para sen ir na guerra; antes pelo contrario devem-se suavizar os costumes, e illustrar o povo, para que conheça os seus interesses, neste caso elle terá valor para repellir os que se oppozerem a estes interesses. Nãohe de taes espectaculos que nasce o valor. Diz-se tambem que este he o gosto do povo; pois se algumas pessoas estiverem tão costumadas que não possão passar sem este divertimento, podem ir ao maladourado campo de Santa Anna a saciar o seu appetite. Se aquelles animaes matarem a seus aggressores, fazem muito bem, porque são primeiro martyrizados por elles. Por tanto concluo que este espectaculo deve-se extinguir, porque he contrario as luzes do seculo, e á natureza humana. (Apoiado).

O senhor Bettencourt. - Esta moção accredita muito o illustre Deputado, seu autor, e assaz patenteia as suas idéas filantropicas, que muitas vezes neste augusto Congresso tem desenvolvido em abono da humanidade, e da pureza dos costumes: entretanto admira-me, como levado de tão filosoficas tenções, não incluiu no mesmo projecto a prohibição da caça, pois sendo todos os animaes e aves, entes sensitivos, não devião ser objecto de divertimento do homem; e não devia o caçador matar a ave innocente. Esta moção he impopular, e por isso inexeqivel em Portugal, e na Hespanha: já no tempo do Governo passado o Principal Sousa fazendo todos os esforços, nunca póde alcançar nem conseguir, que deixasse de haver corridas de touros, pois com o pretexto de capações, de experimentações para a conservação das raças de Ferras, sempre as houve; e porque? porque he propensão irresistivel dos habitantes da Peninsula, resultado da sua natural intrepidez, valor, agilidade, e força. Não se diga que he só dos Peninsulares esta paixão, eu direi que no Sul da França, onde ha criação de touros bravos, tambem ha o mesmo divertimento, e a mesma paixão; não he portanto exclusivo este divertimento das Hespanhas, como se diz por ventura, não tem todas as Nações seus espectaculos particulares, e que são tambem arriscados? Não tem os Inglezes o jogo do sôco, e dos gallos? Não tem as corridas a cavallo, onde a qualquer leve tropêço, ou embaraço, cavallo e cavalleiro ficão despedaçados? O seu governo tão illustrado, já acaso prohibiu taes apostas? E por ventura, ha arte neste espectaculo nenhuma. Pelo contrario he uma arte a de tourear, de capear, de farpear, e tem regras tão infalliveis, que jamais quem he perito naquella arte, póde ler risco algum; e zomba intrepido e airoso da braveza, força, e ferocidade do tomo. Este he o lado porque eu olho a questão. Em quanto a ser este um divertimento nacional, no qual encontro sempre pessoas de todas as classes e idades, nacionaes e estrangeiros, sabios e ignorantes (e até mesmo muitos daquelles, que lhe chamão barbaro e feroz),