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SESSÃO N.° 3 DE 11 DE JANEIRO DE 1902 5

Guerra, seja posta desde já em discussão. (Vozes: - Muito bem).

(O discurso será publicado na integra e em appendice a esta sessão quando S. Exa. devolver as notas tachygraphicas}.

O Sr. Francisco Beirão: - Sr. Presidente: a minoria progressista, em nome da qual tenho mais uma vez a honra immerecida (Não apoiados) e a grata satisfação de falar, associa-se unanime e compungida a todos os sentimentos, que acabam de ser expressos a proposito da morte d'esse valente cabo de guerra, que se chamou em vida Mousinho de Albuquerque. (Vozes: - Muito bem).

Na hora sombria, que vamos atravessando, em que toda a esperança parece esmagar-se entro a audacia impenitente de uns, e a culposa indiferença de muitos, ajusta-se bem ao rigor do destino que esta Camara inicie as suas sessões, não traduzindo as aspirações generosas da nação, mas celebrando as exequias de tantos homens illustres, flores alterosas da nossa raça, que a morte implacavel, como o tyranno antigo, vae desbastando com a sua ferrea e lugubre vara! (Repetidos apoiados}.

Hontem Antonio Ennes, hoje Mousinho de Albuquerque. Hontem arrefecia pouco a pouco até á immobilidade completa o cerebro possante que previra, concebera e planeara uma empresa digna dos tempos heroicos, hoje... hoje paralysa-se, inopinadamente, o braço alteroso d'aquelle que um dia, verdadeiro alferes-mor da nação, soube desfraldar, perante o gentio indomito e a Europa maravilhada, o velho estandarte cuja sombra foi a primeira a desenhar-se nas terras adustas do continente africano!

De Mousinho de Albuquerque disse eu tudo quanto pensava, na sua propria presença numa reunião celebre, a que, representante do Governo e Deputado pelo Porto, tive a honra de presidir nessa cidade e onde a palavra correcta do Dr. Leopoldo Mourão, a eloquencia imaginosa de Luiz de Magalhães, o verbo tribunicio de José de Alpoim, fizeram ao heroe a mais justa e merecida de todas as apotheoses. (Apoiados}.

Foi então que elle, recebendo uma artistica espada do honra, que lhe fôra offerecida, jurou perante todos, que nunca a desembainharia senão em defesa do Rei e da patria. Do Rei e da patria... que aquelle grande espirito nunca comprehendeu desunidos ou separados. Quantas vezes nessa verdadeira marcha triumphal em que elle percorreu o país, quantas vezes elle soube e quis que os excessos de enthusiasmo que saudavam nelle o soldado da patria, fossem tambem rendida homenagem ao leal servidor, d'aquelle que se honrava com a sua amizade (Apoiados) e que hoje deplora a perda do amigo, como a patria deplora a morte do seu cabo de guerra 1

Mousinho foi um verdadeiro português, com todas as grandes qualidades, e - porque não hei de dizê-lo?- tambem com todos os excessos da nossa raça; mas foi, ainda mais, um homem, trabalhado, talvez, das duvidas do tempo, tocado de uma ponta do pessimismo, mas em todo o caso um homem no sentido elevado e nobre da palavra.

Conheceu como poucos os gozos inebriantes da gloria, experimentou talvez como ninguem as perturbadoras alegrias da popularidade. Tudo mereceu e tudo foi justo. Elle porem é que se não deixou tomar dos fumos da vaidade, e acima da gloria Q da popularidade pôs sempre a affirmação do seu caracter e o cumprimento do seu dever. (Muitos apoiados).

Sr. Presidente: associo-me, tambem, á proposta que o Sr. Ministro da Guerra mandou para a mesa e em nome d'este lado da Camara não tenho duvida em votar, exa. cepcionalmente para ella, a dispensa do Regimento e em approvar até por acclamação a propria pensão, porque não me esqueço que se no dia da festa e do triumpho eu pude ter a subida honra de offerecer o braço a uma das mais nobres damas da familia Mousinho, não quero regatear nem sequer demorar á sua nobilissima viuva, no dia de luto, da orphandade e da viuvez, a homenagem a que tem direito.

A bravura, que foi talvez a qualidade primacial da personalidade de Mousinho, em tanta maneira original, essa lendaria bravura se teve qualquer desfallecimento, foi só um, o primeiro, o ultimo, o unico. Verdadeira allucinação! Lamentemo-lo.

Chegado ao cimo da montanha luminosa não se resignou a descer-lhe o aspero declive, o tomado de subita vertigem deixou-se tombar até se desfazer na lagea do sepulchro!

Que admira? Tambem o sol com ser o astro radioso que a todo o Universo dá luz e calor e vida, tambem o sol, por algumas d'essas calidas tardes de estio, em que a ardencia suffoca, o suão abrasa, e se evolam da terra não sei que capitosos effluvios, tambem o sol, em vez de immergir suavemente nos saudosos cambiantes do crepusculo, precipita-se numa rubra faixa como se quisesse desapparecer de todo num louco turbilhão de sangue e fogo!

Que admira, e que importa?

O sol renasce sereno n brilhante; como elle, Mousinho de Albuquerque ha de ámanhã, - e amanhã é hoje mesmo, - resplandecer na historia e no logar eminente que alcançou por direito de conquista!

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O Sr. Alexandre Sarsfield: - Sr. Presidente: a circumstancia fortuita de ser eu o unico membro d'esta Camara que teve a honra e a fortuna de combater ao lado d'esse soldado glorioso que hoje a patria pranteia e o exercito chora, impõe-me o dever de não ficar silencioso no meio d'esta commemoração, e de vir tambem trazer aqui o preito da minha homenagem sentida, a magua da minha saudade, o testemunho da minha admiração, por esse vulto heroico que tão alto soube erguer o nome e a bandeira portuguesa. (Apoiados}.

Sr. Presidente: quando o nosso país, adormecido na morbida indolencia de uma prolongada vida de paz, julgava ver tambem adormecidos no coração de seus filhos os sentimentos viris o masculos da antiga raça portuguesa, foi acordado, foi sacudido pela realidade quente, vibrante, do esforço de seus soldados, que dos sirenes africanos vieram restituir-lhe o prestigio e o renome a que tem direito, em face da civilização, apontando-o á Europa inteira na continuação da sua missão historica.

D'esses soldados, Sr. Presidente, elle foi o maior. (Apoiados}.

Tão grande, que a fama da sua coragem, da sua audacia nunca excedida, do esforçado valor da sua espada gloriosa não coube na estreita faixa de Portugal, e transpondo as fronteiras foi repercutir-se por essa Europa alem, na affirmação solemne, que os portugueses de hoje são os mesmos do que os portugueses dos tempos epicos da nossa brilhante historia. (Apoiados}.

E é por isso que o Adamastor, ha longos annos afastado dos alcantis e das fragas do promontorio da Boa Esperança, la estava em Chaimite, com os mesmos olhos encovados, com a mesma barba esqualida, mas como que sorrindo para os soldados de Mousinho de Albuquerque porque via nelles os legitimos irmãos dos marinheiros de Bartholumeu Dias. (Apoiados).

Sr. Presidente: em Coolella, que foi sem contestação o mais notavel combate que Portugal feriu em terras de Africa nos tempos modernos, não só pelas consequencias politicas que d'ahi advieram para o país, como pela enorme desproporcionalidade no numero dos combatentes, eu vi, na mais serena impassibilidade, com a mais estoica coragem, Mousinho, no centro do quadrado, como que a sorrir para o desencadear da tempestade.

Nós eramos poucos. Os inimigos contavam-se aos milhares.

Nós estávamos ali num quadrado estreito, apertado, em massa compacta.

Elles formavam um grande semi-circulo, de mais de l