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SESSÃO N.° 6 DE 11 DE JANEIRO DE 1907 7

nuando a manter o mesmo cuidado que tinha empregado desde o principio.

A força, em logar de carregar violentamente e usar das espadas em defesa das proprias pessoas, tal não fez.

O commandante da força mandou disparar alguns tiros de revolver com pontarias altas, nenhuma duvida podendo haver de que assim se procedeu e realizou.

O Sr. Affonso Costa: - Isso não é exacto.

O Orador: - Para isso não preciso da affirmação do illustre Deputado nem da do commandante da força; se os tiros não tivessem sido disparados com pontarias altas, se não tivessem sido disparados para o ar, é evidente que teria havido muitos feridos. (Muitos apoiados).

O Sr. Affonso Costa: - V Exa. dá-me licença? V. Exa. deve basear a sua argumentação em factos. Quando se atiraram as pedradas já o operario estava ferido.

O Orador: - Hontem S. Exa. não fez senão interromper-me. Não me mostrei enfadado com isso, e só no uso do meu direito estranhei a falta de serenidade com que sou ouvido, quando eu não interrompo ninguem.

Da minha boca não saiu uma unica palavra que pudesse melindrar o illustre Deputado. (Muitos apoiados).

Respeito sempre em todos os casos os meus adversarios, e por isso tenho direito a ser respeitado. Nunca appello para a violencia; o país que julgue todos.

Oh! Sr. Affonso Costa, nos estamos tratando de um assunto que é conhecido por muitos milhares de pessoas no Porto, e por isso era absoluta e materialmente impossivel que se os tiros tivessem sido disparados sobre a multidão, não resultassem dezenas de ferimentos.

É portanto incontestavel que os tiros foram disparados para o ar. Não é preciso para o provar o testemunho, nem appellar para a dignidade de ninguem. Vê-se que se os tiros não fossem disparados para o ar devia haver dezenas de feridos. (Apoiados).

Diz-se no relatorio que foram disparados 20 tiros. O Sr. Affonso Costa estranhou o facto dizendo que só podiam ser disparados 18 ou 24 tiros, pois que o official tinha mandado fazer fogo só a 6 soldados.

Porque não poderão ser 20, 21 ou 22? Não sabe S. Exa. como isso se faz?

Nessa rua onde se passou isto estavam abertas trincheiras, os candieiros estavam apagados, as pedras choviam sobre os cavallos e sobre os soldados; se tivessem disparado maior numero de tiros, maior numero de desgraças se teriam dado. (Apoiados).

O que é preciso é conhecer o numero de tiros que se dispararam e comparar case numero com o das cargas que os revolveres podiam conter. (Apoiados). É evidente - e V. Exa. comprehende que assim é - que os factos analysados lançam uma convicção ao espirito dos que me ouvem.

O commandante da força declara que deu ordem a seis soldados para dispararem, mas é mais do que possivel é mesmo certo que nem todos pudessem disparar. Portanto, repito, o que é preciso é verificar as munições que os revolveres podiam conter. Mas, mesmo que fossem 18, 20 ou 24 tiros, é impossivel que elles não tivessem produzido um grande numero de desgraças se tivessem sido disparados sobre a multidão e numa rua, relativamente estreita, como é a de Santa Catarina. Não podia, pois, querer a responsabilidade do official que commandava a força publica, que já tinha carregado e continuou a carregar sobre a multidão, e de que nenhum mal resultou.

Como é, por consequencia, que um official que assim procede, que demonstra assim o sen perfeito tino, a sua grande cautela e cuidado, mandava dar tiros sobre o povo?

Mas mais do que isso.

Foi o proprio illustre Deputado que disse aqui que, em seguida a esses tiros, quando o official continuava carregando e se dirigiu para a rua onde está a casa em que S. Exa. se hospedou, elle lhe pedira supplicantemente. que convidasse o povo a retirar-se.

O Sr. Affonso Costa: - O que eu disse foi que elle pedia supplicantemente aos soldados que não disparassem mais tiros, e ao mesmo tempo a que convidasse eu o povo a não dar mais vivas.

Isto prova a indisciplina d'esses soldados.

O que eu peço a V. Exa. é que não altere os factos.

O Orador: - Eu não altero nada, porque nada preciso alterar.

Trocam-se ápartes.

Se é um argumento mau, o que o illustre Deputado pode desejar de mais valioso para si é que eu argumente mal, porque com isso só prejudico a minha causa.

O Sr. Deputado Affonso Costa, ouvindo serenamente e respondendo-me triumphante hoje ou amanhã, terá conseguido dois resultados:

Em primeiro logar mostrar que sabe ouvir e em segundo logar que lhe assiste a razão. (Apoiados).

A maioria tem demonstrado nesta questão a maior tolerancia. (Apoiados).

Mas continuo na mesma ordem de considerações em que estava.

Quer o Sr. Dr. Affonso Costa que o commandante da força fosse pedir aos soldados que não atirassem sobre o povo. Então elle não tem responsabilidade nenhuma; os soldados é que desobedeceram.

Mas a segunda não nega o illustre Deputado: que o official lhe pediu para que o ajudasse a manter a ordem.

Então um official que commanda 50 cavallos, com soldados armados e se dirige a quem está na janela a pedir auxilio, esse official mandou disparar sobre a multidão? {Muitos apoiados).

Não está demonstrado á saciedade, com os meios de persuasão de que elle usou para conseguir o seu resultado

O Sr. Affonso Costa: - É que elle via que o povo respondia aos tiros com pedras.

O Orador: - Como V. Exa. vê, nunca mais, nem no dia seguinte, nem de então para cá tornou o povo a proceder de maneira a infringir as ordens das autoridades, nem á provocar a intervenção da força armada.

Esse official procedeu, de maneira a demonstrar que queria cumprir as ordens e tambem que é um official eminentemente proprio para estar numa corporação que, pela sua propria natureza, se tem de encontrar muitas vezes em contacto com o povo; procedeu de forma a demonstrar que está muito bem onde está e soube executar as ordens recebidas, com energia e com firmeza, mas com todas as contemplações.

O Sr. Presidente: - Previno V. Exa. de que daqui a 5 minutos se passa á ordem do dia.

O Orador: - Terrivel cousa!

Eu não quero terminar, sem desde já responder ao unico facto novo que o illustre Deputado trouxe a esta discussão, qual é o de que não ha duvida nenhuma de que o infeliz operario Oliveira Barros foi victimado pela guarda municipal ou pela policia, porque a bala que o feriu