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SESSÃO N.º 11 DE 23 DE JANEIRO DE 1896 71

tente, que se estendia aos territorios mais importantes de Inhambane e Lourenço Marques. Em agosto d'esse anno, tendo-se apenas cerca de 20 soldados pretos em Angoane, revoltaram-se ahi, contra a nossa auctoridasw, 3:000 subditos do Mahazul, regulo da Magaia, que, no entretanto, fugiram, reforçando-se logo aquelle commando militar. Mahazul chamou ao seu partido os regulos da Zixaxa e da Moamba, aproveitando-se do effeito da elevação do imposto o accendendo n'elles ambições do gloria. Os restantes regulos tributarios recusaram-se a tomar armas por nós. Apenas Ingoanase, regulo do Maputo, fóra das Terras da Corôa, mas dentro da nossa esphera de influencia, mandou-nos 4:000 auxiliares, que chegaram até a Catembe, e que de lá se retiraram apenas receberam de nós 1:000 espingardas Albani, ludibriando-nos completamente e entregando-se a pilhagem, a devastação e ao incendio, som escapar a nossa propria residencia da Bella Vista. Ingoanase, segundo parece, fizera antes um tratado de paz e amisade com o regulo da Zixaxa, e os seus indunas receberam, na Catembe, um ultimatum do Gungunhana, que ameaçava Maputo com a guerra, se marchasse contra os insurrectos. A rebellião, embora surda na maior area, e só manifesta na Magaia, na Zixaxa e por algum tempo na Moamba, chegava de um lado ás terras de Gaza e do outro ao extremo meridional da provincia. Significa isto que os sublevados tinham ao seu dispor cerca da 12:000 combatentes e que este numero, só a politica d'aquelles tivesse uma boa marcha, podia ser elevado a setenta ou oitenta mil.

Lourenço Marques estava desguarnecida. A defesa foi confiada a um punhado do soldados da policia, aos marinheiros da corveta Retinha de Portugal, aos empregados publicos, aos particulares - portuguezes, parses, baneanos, mouros e outros estrangeiros - e depois aos pequenos contingentes de caçadores da provincia, que tiveram ordem de evacuar Angoane. A força regular não chegava a ser de 200 homens, europeus e africanos. A linha de fortificação, feita á pressa com paliçadas primitivas e fracas barricadas, só depois poude ser aperfeiçoada com 12 bock-houses de grande auxilio. Não havia lanchas de guerra para o Incomati e na bahia tinhamos apenas a Rainha de Portugal, vinda de Moçambique e do Ibo.

Os da Magaia e da Zixaxa cortaram logo as communicações com a Cherinda, a Manhiça e Magul, expulsaram do Incomati e das suas margens os europeus e os asiaticos, entregaram-se a toda a especie de violencias e approximaram-se porfim da cidade com intuitos sinistros. Estava n'ella paralysado o commercio e ia ahi reinar o terror. Tres vezes se dirigiram contra ella os rebeldes, sendo seria a tentativa de 14 do outubro, e não cessando, no entretanto, as devastações e mortes avulsas nos arredores. A resistencia teria sido impossivel, só as hordas da Zixaxa, da Magaia e da Moamba atacassem então simultaneamente Lourenço Marques, assim como a chacina de quasi toda a população teria sido inevitavel, se na noite de 23 de setembro, Mamatibejana, regulo da Zixaxa, houvesse dado o assalto. No meio de tudo isto havia panicos formidaveis, com todos os desconcertos e scenas de desordem moral que produz a previsão de uma catastrophe.

Ao mesmo tempo acreditava a Europa que não podiamos regularizar a situação e garantir em Lourenço Marques a segurança publica. Na bahia fundeavam navios de guerra estrangeiros. A canhoneira ingleza Thrush desembarcava todas as noites parte da sua guarnição, para defender o consulado britannico. Tinhamos dissabores internacionaes que tornavam mais perigosa a conjunctura o carregavam ainda mais o horisonte já sombreado de difficuldades.

Era por tudo isto cruel a anciedade na metropole. Os factos evidenciavam de um modo terrivel a nossa decadencia, desprestigio e fraqueza em Moçambique. A pequenez das nossas forças, a importancia relativa dos insurrectos, a possibilidade de tomar um caracter agudo a rebellião latente na parte restante do sul da provincia, a opinião que do nosso abatimento reinava na Europa, os interesses estrangeiros relacionados com Lourenço Marques, faziam-nos esperar a cada momento noticias que dessem mais um golpe formidavel na alma da patria.

Tal ora a situação nos mezes de agosto, setembro e outubro de 1894. Dir-se-ia que a nossa longa decadencia na Africa oriental ia ser liquidada por fim com algum acontecimento funesto! (Apoiados.)

Mas a cidade de Lourenço Marques pondo conter os rebeldes, em respeito, com os sons fracos recursos, e chegada a primeira expedição do cominando do sr. major José Ribeiro, começou-se a castigar os insurrectos e a consolidar o nosso dominio, já em fins de 1894 e principios de 1895. (Apoiados.)

O commando militar de Angoane foi reoccupado. Lanchas de guerra metralhavam as margens do Incomati e as ilhas Xefinas, caindo então varado por uma bala o mallogrado temente Filippe Nunes. Por terra faziamos reconhecimentos a Magaia, havendo algumas escaramuças e fugindo diante dos nossos soldados o inimigo. Na madrugada de 2 de fevereiro, a nossa columna, estanciada em Marraquene, cheia de fadigas e privações, depois de uma longa e horrivel tempestade, ora atacada por tres mil pretos arrojados e valentes o conseguia rechassal-os em condições heroicas. (Muitos apoiados.) Roto o quadrado portuguez, o esforço brilhante dos nossos officiaes, a firmeza de caçadores 2 da metropole e a protecção manifesta da Providencia, deram-nos ainda em taes circumstancias uma victoria.

Mas evidenciava-se tambem ahi que os rebeldes estavam resolvidos a luctar contra as nossas forças. Este facto inilludivel, o grau a que chegava antes o nosso desprestigio, a necessidade de firmar o nosso dominio, as relações do Gungunhana com os da Magaia e da Zixaxa e a successão dos acontecimentos levaram-nos a empresas importantes, em que os soldados da segunda expedição, do cominando do sr. coronel Galhardo, o os camaradas do terra e mar empenhados na mesma obra patriotica, serviram benemeritamento o paiz, coroando-se de gloria. (Muitos apoiados. - Vozes: - Muito bem.) Synthotisando os motivos dos restantes factos militares de 1895, vê-se o intuito de defender a linha ferrea do Lourenço Marques, assegurar na cidade d'isto nome o movimento mercantil, pacificar as Terras da Corôa, castigar o Mamatibejana e o Mahazul, submetter o Gungunhana, destruir a suserania africana dos vátuas, avassallar os povos indigenas que lhes estavam mais ou menos enfeudados, ao norte e ao sul do Limpopo, e firmar de um modo decisivo a nossa soberania em toda a parte meridional de Moçambique. Para isso tomamos posições seguras ou fortificamo-nos regularmente em Angoane, Marracuene, Incanhene, Manhiça, Magul Chinavave, Magudo, Stokolo, Sabio, Ressano Garcia, Inhampura, Miichiche, Cumbana, Inhamme, Mocumbi, Guambe, Chicomo e Chengane, navegando, por outro lado, pequenos barcos de guerra no Incomati, no Limpopo, no Motamba e no Inharrime. Á medida que se desenvolvia este systema de postos e operações, completavamos a vassallagem das terras de alem do Incomati, iniciavamos as sujeições necessarias nas margens do Limpopo e do Inharrime, afirmavamos pela força a nossa soberania, e faziamos recuar para os dominios do Gungunhana o resto das hordas rebeldes da Zixaxa e da Magaia. Quando o Gungunharia ordenou por fim aos seus que atacassem os nossos na Cossine, precipitava o desfecho glorioso do drama. As mangas do potentado de Casa compostas de landins e vatuas aguerridos, foram desbaratadas em Magul, Magudo e Coololla. E, como consequencia necessaria destas victorias e das operações do Limpopo, a Manjacaze foi arrasada, renderam-se os povos das margens d'aquelle rio, o regulo da Zixaxa foi aprisionado polo valente commandante do Chongane e o proprio Gun-