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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Custodio José Vieira pronunciado na sessão de 28 de fevereiro, e que devia ler-se a pag. 483, col. 1.ª

O sr. Custodio José Vieira: — Sr. presidente, a necessidade que sinto de convencer cabalmente a camara de que sei reprimir os meus impetos e conter as minhas paixões, faz com que desde o principio d'esta sessão tenha vivo desejo (o que n'outras circumstancias não seria muito rasoavel) de tomar parte em debate bem irritante, e por isso sinto que me não chegasse a vez na discussão da moção de censura, na qual teria proferido verdades talvez bem amargas, de que porventura agora estaria arrependido, pois que o successo mostrou que não eram necessarias. Depois arrefeceu-me o animo porque não previa occasião azada, e n'esta disposição me achava ainda ha dois ou tres dias, quando o enxerto, segundo a metaphora do sr. ministro da fazenda, do sr. Pedro Franco, no discurso do sr. Pinheiro Chagas, a meu pesar me tirou d'ella. A meu pesar, porque numa questão puramente economica não ha grande merito em ser moderado, conservando inalteravel serenidade de espirito. Por outro lado, porém, folgo de que assim acontecesse porque tinha pressa de me desempenhar de uma divida sagrada.

Sim, sr. presidente, foi aqui mesmo que no principio da sessão passada em mim se verificou um phenomeno nervoso, que se julgou de gravidade que felizmente não teve, e que me tornou objecto da mais solicita benevolencia, tanto de amigos como de adversarios, constituindo-me isso na obrigação de aproveitar o primeiro ensejo para protestar a cada um em particular e a todos em geral de modo mais solomne a minha eterna gratidão, como a todos protesto, sem especialisar ninguem, porque, se o houvesse de fazer, pediria licença aos meus amigos para especialisar os adversarios, que não foram de certo menos solicitos nem menos benevolos (Apoiados.) e não era d'elles que eu tinha direito a esperal-o, mas isso prova a boa indole portugueza, que tanto credito nos tem grangeado, principalmento nos ultimos tempos lá fóra, e prova tambem (permitia V. ex.ª e a camara que o diga) que me fizeram justiça acreditando-me dotado da mesma indole, pois que em verdade as mesmas coleras se esvaem em palavras e me deixam sempre a atmosphera da alma mais limpida e serena. E não quero que o meu reconhecimento se traduza simplesmente n'estas singelas palavras, antes farei quanto em mim caiba para corresponder á bondade com que fui tratado, sem comtudo me transformar, que não posso e correria o risco de desmerecer, nem me modificarei por fórma que perca o meu feitio, porque creio que se não exigirá tanto de mim.

Posto, pois, isto seja-me licito declarar que prefiro as rudezas heróicas dos tempos homericos ás mentidas delicadezas da cavallaria medieval.

Entrando agora no assumpto espero que v. ex.ª e a camara não estranhem que eu pelo que respeita ao imposto em geral, professe opinião talvez singular e sem duvida contraria á que aqui se tem sustentado n'este debate. Eu bem sei que o imposto é o eterno engeitado, e condemnado de todos os tempos. Bem sei que o seu nascimento é sempre saudado com o mais estrepitoso coro de maldições, a que de ordinario se junta talvez a do proprio progenitor, porque bom é que se saiba e diga que nem este lhe tem affeição, antes