O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 12 DE JUNHO DE 1890 653

não estão findas, (Apoiados.) seria dar explicações que tem! todo o risco de prejudicar essas negociações. (Apoiados.) Um verdadeiro crime seria deixarmo-nos ir atraz de qualquer sentimento de defeza inspirado pelo prurido de mostrar um patriotismo facil - tanto mais facil quanto e certo que no publico são levantados os homens que fallam ao sentimento e á paixão, - e tanto mais natural quanto é certo que a opinião menos illustrada e menos reflectida póde transviar-se vendo callar essa defeza e apontados como os verdadeiros propugnadores das conveniências do paiz, aquelles que estão ali! (Indicando a esquerda. - Vozes: - Muito bem, muito bem.)
Mas seria um verdadeiro crime que esses que trabalham com toda a boa vontade, e dedicadamente, embora na sombra, para servirem uma causa que é a causa do paiz, se deixassem arrastar pela necessidade de uma defeza extemporanea, embora legitima, sacrificando os interesses da patria a uma discussão que se não sabe até onde iria. (Apoiados.- Vozes: - Muito bem.)
Acima de tudo a patria. Que me defenda agora das accusações do sr. Ressano Garcia?! Não serei eu que o faça no actual momento! Não. (Vozes: - Muito bem.)
O illustre deputado quer discutir? Pois eu não discutirei. O illustre deputado quer explicações do governo? Pois eu declaro que não as posso dar. (Apoiados.)
E, posta a questão de confiança, a camara resolverá. Se quizer tomar a responsabilidade da discussão, eu é que não a assumo.
Se entender que é mais conveniente deixar a discussão para outra occasião, acceitando as minhas declarações e as minhas reservas, desde esse momento a camara, que é sempre a verdadeira representação do paiz, será a mais genuina defensora dos seus interesses.
Algumas phrases do illustre deputado foram, permitta-me s. exa. que eu lhe diga, demasiado duras e demasiado injustas.
S. exa. disse, na sua linguagem alevantada e imaginosa, que na provincia de Moçambique factos se têem dado que são percursores de mais profundas perturbações, porque as pequenas trepidações são sempre o prenuncio dos grandes abalos.
Quaes são as pequenas trepidações?
São as que resultaram do ultimatum de 11 de janeiro! E chama-lhe s. exa. pequenas! Quaes são as grandes?
De quem é a responsabilidade?
Eu não quero discutir a questão, mas...
O sr. Ressano Garcia: - Bem se vê.
O Orador: - Sr. presidente, por um lado aggridem-me porque não dou explicações, e á primeira phrase aggridem-me porque as dou!
O sr. Ressano Garcia: - Em sessão publica não as queremos. Pois o illustre deputado não levou tanto tempo a dizer que o silencio era um crime? E se o silencio é um crime a palavra não é uma virtude?
O Orador: - Então quem foi que fallou nas trepidações e nos abalos, quem é que citou os artigos da Gazet de Portugal e dos jornaes inglezes?
Quem discutiu Chilorna e Valladim, Zambeze e Gaza?
(Interrupção do sr. Ressano Garcia que não pôde ser ouvida.)
O illustre deputado umas vezes investe commigo por que fallo, outras vezes faz-me perguntas e não admitte resposta!
O que é que eu disse a respeito da questão? O ultimatum de 11 de janeiro, não é a questão, é um facto que todos viram e apreciaram; mas eu não discuti esse facto o que disse é que o ultimatum vinha no fim de quatro annos de governo progressista e se alguma responsabilidade existia, - que eu não discuto, - não era minha.
Então v. exa. vê que eu tomei a pasta dos estrangeiro em uma occasião em que a patria estava humilhada, em que o sentimento popular estava exacerbado em que
O paiz se sentia ferido na sua honra, no seu brio, nas suas radicções, em tudo; vê que eu levei a consciencia das minhas responsabilidades até ao ponto de calar em mim tudo que possa prejudicar as negociações, unicamente, para não trahír os deveres da minha missão, e na occasião em que eu, sem responsabilidades previas, tomo em mão essa questão e me dedico a ella, de alma vida; e coração, para a resolver, (Apoiados,) é s. exa. que me vem increpar,- a mim! S. exa.!! Não digo mais nada; mas quem de certo não me podia arguir, era qualquer membro do ministerio transacto. (Apoiados.)
O illustre deputado referiu-se a differentes factos, porque quiz discutir largamente o assumpto, fallou da tomada de Chilomo e perguntou se não havia ali uma violação do statuo quo.
Citou palavras minhas em que eu dizia que procurava, pela parte que me dizia respeito, assegurar a manutenção do statuo quo, assim como, pela sua parte, procurava a Inglaterra assegural-o tambem.
Pois quando forem publicados os documentos que dizem respeito a esse assumpto, o illustre deputado verá quanto isto é verdade e quanto tenho procurado, quanto me tenho esforçado, em relação a todos os incidentes e em relação a todos os factos, por manter o statuo que a fim de que elle não venha perturbar as negociações pendentes.
Não pense o illustre deputado que me passou desapercebido o que respeita a Chilomo.
Tratando de me informar das circumstancias do que ali se tinha dado, para logo obtive como resposta do governo inglez ao representante de Portugal, que nem o facto se tinha praticado por intervenção do governo de Inglaterra, nem ao tempo em que eu fazia a porgunta, havia sequer conhecimento official de que tal occorrencia se tivesse dado.
Pelo que toca ao artigo da Gazeta de Portugal, direi que posso responder por mim e pelo que affirmo; responder pela Gazeta de Portugal, alem de todas as responsabilidades que já tenho, é duro! (Apoiados.)
S. exa. referiu-se á navegação do Zambeze, assumpto sobre o qual eu já aqui disse o que tinha que dizer, renovando agora as minhas declarações e confirmando-as, isto é, que em cousa alguma foi abandonada a defeza dos direitos de Portugal, nem alterado o estado em que tinha encontrado essa questão.
S. exa. para me aggredir, até leu os jornaes inglezes; como se não bastasse a responsabilidade que já me attribuia pela Gazeta de Portugal vem até com jornaes que se publicam em Inglaterra!
Ora imagine o illustre deputado, num momento de sinceridade e serenidade, que eu queria chamar o meu illustrado predecessor á responsabilidade do que dizia a imprensa ingleza, pouco tempo antes do ultimatum!
Veja s. exa. que effeito rhetorico eu podia produzir aqui, em phrase energica, em palavras altamente soantes, duras e crueis contra Portugal, unicamente para mostrar que o sr. Barros Cromes, a ser responsável por aquelles artigos, por aquelles escriptos, era de certo, o maior criminoso contra o seu paiz, contra a sua patria!
Ora, francamente, é para admirar que accusações d'esta ordem partam do illustre deputado, que foi homem do governo, porque se o não fosse, emfim, tinha a inexperiencia que é natural n'aquelles que ainda não passaram pelo poder, que não sabem o que é tratar dos negocios do estado, o que é assumir responsabilidades graves, encarar as questões de face serenamente, com a consciencia do que ellas valem e do alcance que ellas têem. Mas s. exa.! Um homem d'estado, não sabe o que é tratar dos negocios do estado! Aggredir-me citando jornaes, aggredir-me pelo que disse a Gazeta de Portugal e até pelo que escrevera um jornal inglez sobre engenheria!
Confesse que não está isto no seu papel de membro que fôra de um governo, que de certo se esforçou por bem servir a causa do paiz.
40*