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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Bandeira Coelho, na sessão de 30 de agosto, que devia ler-se a pag. 465, col. 1.ª

O sr. Bandeira Coelho (sobre a ordem). — Ainda bem que o sr. presidente do conselho vem occupar o seu logar, porque eu estava receiando que s. ex.ª se ausentasse d'esta casa no momento em que entrasse em discussão este assumpto.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Marquez d'Avila e de Bolama): — Se v. ex.ª me concede licença eu dou uma explicação.

O sr. Presidente: — A explicação eu a darei ao sr. deputado em occasião opportuna.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: — Bem.

O Orador: — Dizia eu que estimava que o sr. Presidente do conselho estivesse presente, porquanto na sua ausencia eu mal podia fazer as reflexões que tenciono apresentar.

Como v. ex.ª sabe, eu hontem vi me na impossibilidade de usar da palavra, porque s. ex.ª estava empenhado n'uma discussão importante na outra casa do parlamento, a camara estava quasi deserta, e eu necessitava principalmente de que o sr. presidente do conselho e ministro do reino me ouvisse na parte que lhe diz respeito...

O sr. Presidente: — Tenho a dizer ao sr. deputado que o sr. presidente do conselho carece de se retirar para a camara dos dignos pares, porque tem de usar ali da palavra, que lhe ficou reservada da sessão anterior, e não póde estar nas duas casas do parlamento ao mesmo tempo.

O governo está aqui competentemente representado.

Tenha a bondade de continuar.

O Orador: — A minha moção de ordem é a seguinte (leu).

É modesta como v. ex.ª vê esta moção.

Eu proponho-me a demonstrar á camara que não houve no reino a mais completa tranquillidade publica.

Preciso de toda a benevolencia da camara; e imploro-lh'a.

Entro n'este debate com acanhamento e repugnancia.

Tenho de fallar n'uma occasião em que a camara está cansada d'esta questão, que tem sido tão longa; tenho de fallar desprovido de recursos oratorios, quando n'esta discussão se têem empenhado palavras tão eloquentes; e tenho sobretudo de fallar de mim, o que me é muito desagradavel.

Para não cansar a attenção da camara, limitar-me-hei o mais possivel nas minhas observações; e se me escapar alguma palavra que não seja parlamentar, peço a v. ex.ª me avise, porque a retiro immediatamente.

Parece-me que nunca dei documento algum de ter faltado ao respeito que devo a esta camara (apoiados), e espero que não será n'esta occasião que me desviarei d'este proposito.

Tenho principalmente de responder a uma provocação que me foi feita pelo sr. ministro do reino. Eu tinha tenção de ser muito resumido e moderado nas minhas palavras, e de tratar de me esquecer de acontecimentos que desejava que nunca tivessem tido logar (apoiados).

Mas desde que s. ex.ª disse d'aquellas cadeiras, que não tinha conhecimento dos factos que se tinham passado em Vouzella, e que com um ar de desdem perguntou para um illustre deputado, que alludiu a esses acontecimentos, «se tinha havido muito sangue?!» Vejo-me na necessidade de responder a esta provocação, de contar singela e verdadeiramente os factos que se passaram, e de pedir á camara que avalie não só o procedimento do governo e das suas auctoridades mas tambem o meu procedimento (apoiados).

É triste que um homem que trata unicamente de cumprir a lei se veja constantemente obrigado a lutar contra a auctoridade, que sendo a primeira que tinha obrigação de a fazer cumprir, é pelo contrario a primeira a violenta-la e a despreza-la! (Muitos apoiados.)

Tenho tido a honra de ser eleito deputado cinco vezes consecutivamente. Em nenhuma d'estas vezes tive sequer tentação de abusar da auctoridade. Fui eleito tres vezes contra a auctoridade, e nas duas vezes era que ella me não foi hostil não tive contendor. Em negocios eleitoraes estou, pois, limpo de toda a mancha (apoiados), e posso fallar desassombradamente.

Tambem nunca da minha bôca saíu palavra nenhuma; contra o caracter pessoal dos meus adversarios, nem auctorisei que se usasse d'esses meios para os desconceituar na opinião publica. Respeitei sempre o caracter pessoal do que foi agora meu adversario. O meu principio é que vote cada um como entender, levado d'esta ou d'aquella idéa, e que se respeitem todos, porque a todos cabe igual direito (apoiados). Nunca tratei de desconceituar os meus contrarios com calumnias.

Apresentei-me candidato da opposição na ultima luta eleitoral. Se alguma vez me convenci de que tinha elementos superabundantes para vencer foi d'esta vez; e confesso que não imaginava que a minha eleição podesse ser combatida pelo governo.

Começou, porém, a correr que havia um plano, que se