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1552-D DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

No reconhecimento do engenheiro temos:

[Ver tabela na imagem]

ou conta redonda 150 kilometros, o que dá em media réis 12:647$274 por kilometro.

E contando com os encargos do capital durante a construcção, que está calculado em 1:390$000 réis por kilometro, temos a despeza media kilometrica de 14:037^274 réis.

Ora:

150 kilometros a 17:000$000 dá .... 2.550:000$000
150 kilometros a 14:000$000 dá .... 2.100:000$000
Differença a menos .... 450:000$000

A companhia tem só aqui um lucro de 450 contos de réis. (Apoiados da esquerda.)

É esta a quantia que tem logo á primeira vista o afortunado concessionario que tenha a felicidade de tomar o contrato. (Apoiados da esquerda.)

Mas esta proposta está architectada de modo tal, que se o concessionario for amigo ganha, mas se não for e não untar as molas com que gira toda esta machina, póde conseguir-se que perca.

Portanto, ainda que ficasse com a construcção uma companhia que não estivesse antecedentemente entendida com poderosas influencias, necessariamente havia do harmonisar-se, porque senão perdia os olhos da cara.

O engenheiro calculava tambem a despeza de exploração em 500$000 réis por kilometro.

O projecto, porém, fixa em 1:200$000 réis.

Logo

180 kilometros a 500$000 réis .... 90 contos de réis
180 kilometros a 1:200$000 réis .... 216 »
Differença todos os annos de .... 126 »

A mais todos os annos 126 contos de réis!

Assim, se eu continuar a analysar detidamente este projecto dá-me uma quantia fabulosa, que é uma margem de lucros para o concessionario.

Eu desejo immenso que o caminho de ferro se construa e ainda que reconheça que a occasião não e a mais propria não teria duvida alguma em votar o projecto, comtanto que o sr. ministro declarasse, que o governo o construia por sua conta, (Apoiados da esquerda.) e que essa condição ficasse expressa na 1.ª

Eu tenho absoluta confiança no sr. ministro da marinha, desejo muito ser-lhe agradavel, mas o modo como o projecto vem elaborado é que não póde ser.

O sr. ministro baseia a sua proposta n'um simples reconhecimento. Nem sequer o ante-projecto está feito.

O sr. ministro o que deve, é mandar fazer os estudos definitivos e n'elles deve fixar-se:

1.º A largura da via;

2.° A base kilometrica.

Só depois d'isto é que se deveria abrir o concurso, porque então haveriam bases seguras, o que agora não temos. (Apoiados.)

Tudo que não soja assim, são alçapões por onde se poderão escoar centenas de contos para as algibeiras dos favoritos.

Para que se veja quanto tudo isto foi armado no ar, basta que diga que o sr. Julio de Vilhena ainda está em duvida qual ha de ser a base da licitação.

Disse s. exa. que podia ser a taxa do juro garantida, ou o custo kilometrico.
Parece que foi uma inspiração de momento.

Estive muito attento a toda esta discussão e as lucidas considerações do sr. Fernando Palha deixaram no meu espirito a profunda convicção de que o caminho de ferro em vez de partir de Mossamedes deve partir de Benguella. Não vi rebater com argumentos de peso as rasões apresentadas pelo sr. Fernando Palha.

Tenho visto, para defender o caminho de ferro de Mossamedes exagerar muito a importancia das pequenas colonias da Chella, que têem custado muito dinheiro e que a final se compõem de três ou quatro centenas de pessoas brancas.

O proprio director da primeira, o sr. Camara Leme, diz no seu relatorio de 31 de dezembro de 1885, o seguinte:

«Os terrenos do Lubango, como quasi todos os do plan'alto, são em geral mais fracos do que a zona baixa, precisando em absoluto de correctivos tendentes á sua melhoração.»

O sr. relator diz, que o porto de Mossamedes é de primeira ordem e o de Benguella nem é porto.

A verdade é, que no porto de Mossamedes só n'uma pequena parte, ao sul, ha um ancoradouro; no resto, ao norte, ou não se encontra fundo, como dizem os maritimos, isto é, a profundidade é muito grande e não se presta a ancoragem, ou a forte calema não permitte com segurança a ancoragem.

S. exa. não quer lembrar-se, que proximo de Benguella, a uns 30 kilometros apenas, fica o melhor porto da costa occidental de Africa, o porto de Lobito, que é uma verdadeira doca natural.

O commercio de Mossamedes é a sexta ou a decima parte do de Benguela.

O de Benguella foi em

1886 .... 2.400:000 toneladas
1887 .... 3.100:000 »
1888 .... 5.400:000 »

incluindo importação e exportação.

Benguella é o porto onde amuem as correntes commerciaes do interior ao sul de Angola, e o caminho de ferro entraria muito facilmente pelo vale do rio Catumbella até Caconda, porto muito salubre o fertil, donde se poderia dirigir para o Bihé a leste, e para o Cubango ao sul, apanhando um commercio immenso e servindo os terrenos mais aptos á colonisação europêa.

Pois tudo isto se despreza, a nada se attende e sem dados seguros vae approvar-se a construcção de um caminho de ferro, que nos ha de custar muitos sacrificios. (Apoiados.)

O sr. Fernando Palha pronunciou-se pela construcção por conta do estado, e tambem não ouvi rasões que rebatessem a argumentação do illustre parlamentar. (Apoiados.)

S. exa. mostrou tambem, que o caminho de ferro de via reduzida bastava para as necessidades locaes, e todos sabem quanto o caminho de ferro de via reduzida sáe mais barato, porque tem curvas mais apertadas, rampas maiores, etc., etc.

Pois nenhuma rasão se deu para nos convencer, que n'este caso a via larga deve ser preferida á via reduzida. (Apoiados.)

Já vê, portanto, v. exa. que nos faltam muitos dados e esclarecimentos para podermos votar com conhecimento de causa este projecto. (Apoiados.)

O sr. Emygdio Navarro vendo a reluctancia, que a camara tinha em approvar este projecto, propoz para simplificar a questão, que o governo ficasse com a explora-