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14 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

cedeu mostrou minuciosamente, e com a eloquencia do sentimento, os sacrificios por que passaram, o que mais augmenta o valor d'sses heroes.

O combate de Coelella, a tomada de Majancaze, a derrota dos aguerridos vátuas, o incendio do kraal do Gungunhana e tantas outras proezas brilhantes, são factos de tal ordem que só por si fariam a gloria de uma nação.

Gungunhana era o terrivel regulo que constantemente nos inquietava n'quella parte do nosso dominio africano. Valente, prestigioso, e até intelligente, com um numeroso exercito de aguerridos vátuas, muito bem armados, era a sombra negra que a todos os instantes sobresaltava todos os governos e todas as auctoridades n'quella nossa provincia ultramarina.

Subjugamol-o, vencemol-o, era cousa que a muitos se antolhava empreza difficil e arriscada, mas necessaria á tranquillidade e á manutenção do nosso dominio ali.

Não desanimou o nosso intelligente, illustrado e prestimoso commissario regio? o sr. conselheiro Antonio Ennes, nem duvidaram pôr em execução os desejos e planos do governo e d'aquelle alto funccionario os valentes e illustrados officiaes a quem fora confiada a expedição.

O temido Grungunhana foi derrotado; o prestigio entre os seus estava abatido e aniquilado, mas elle estava ainda em liberdade, o que constituia um perigo para o futuro.

O epilogo d'essa brilhante epopêa coube aos valentes officiaes Mousinho, Couto e Miranda, ao medico Amaral e aos quarenta é seis soldados que os acompanhavam.

É quasi miraculoso! Faz-nos até lembrar as victorias dos tempos biblicos.

Se percorrermos as paginas da historia dificilmente ali encontraremos um facto tão assombroso.

Com uma tão limitada força ir arrancar ao seu novo covil de Chaimite o famoso Grungunhana, prendel-o e o filho e o do Molungo, em frente de 3:000 vátuas, é a ultima expressão de coragem, é um assombro de ousadia!

Os feitos valorosos do valente coronel Galhardo, do major, hoje tenente coronel, Sousa Machado, de todos os outros distinctos officiaes, a valentia dos nossos soldados, tiveram a sua corôa, o seu epilogo glorioso com a prisão do famigerado Gungunhana.

Emquanto na Africa se mostrava que nas veias do soldado portuguez ainda girava o sangue dos antigos gigantes da historia lusitana, na Índia e em Timor se affirmava, e por um modo brilhante, que elle era o mesmo em toda a parte.

Na India, um Principe da casa de Bragança, irmão do nosso Rei, tão valente como patriota, escrevia com a espada na mão mais uma pagina gloriosa na gloriosa chronica dos principes portuguezes.

Sr. presidente, se olharmos para a Abyssinia, para Madagáscar, para Cuba e para outras partes, mais um motivo temos a justificar o nosso enthusiasmo, e para agradecermos a Deus tantos favores.

É que Deus ainda conserva fito em nós o olhar com que abençoava dos, céus a bandeira outr'ora triumphante das santas quinas. É porque elle, sempre justo, providencial e bom, quiz agora consolar-nos das nossas desventuras.

Depois d'isto ninguem póde dizer que n'esta terra de Portugal existe um adormecimento de todos os sentimentos grandiosos, e que a nossa bandeira dourada pelo sol que alumiava os dias felizes de outr'ora, se transformou em mortalha funebre que envolve a alma da patria.

Não está moribunda uma nação, que cheia de ardor e fé viva, assim se aferra aos altares da patria, e que tem no valor dos seus filhos uma garantia da sua existencia.

Se é pobre o nosso lar, estreitas as nossas fronteiras, é rica a nossa historia e largo o nosso futuro.

Mas não somos tão pequenos que não cheguemos ainda com mão armada á Africa e á India.

Mostrámos ao mundo que sabemos e podemos manter o nosso dominio colonial, e que não vivemos só das tradições, posto que tão gloriosas, quando assim acabâmos de affirmar, e por um modo tão extraordinario, a nossa existencia no presente e as nossas esperanças no futuro.

Votemos a proposta do digno par, meu respeitavel amigo e chefe, o sr. Antonio de Serpa, e saudemos d'aqui os nossos valentes militares que na Africa e na India escreveram com o seu sangue uma das paginas mais fulgurantes da historia da patria.

Tenho dito.

O sr. Baptista de Andrade: - Sr. presidente, tendo eu a honra de ser o mais antigo official da armada portugueza, e, conhecendo, por experiencia propria, os muitos perigos e privações que se soarem nas guerras do ultramar, entendi dever pedir a palavra para declarar, em meu nome e no dos meus camaradas, que nos associâmos de todo o coração ás manifestações commemorativas dos grandes feitos praticados por aquelles que tanto se distinguiram, e honraram o nome portuguez nos recentes combates da India e da Africa. Depois do que tão abalisados oradores acabaram de expor, eu, sr. presidente, nada mais tenho a dizer.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. presidente do conselho.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Como está ainda inscripto o sr. conde de Lagoaça, eu peço a v. exa. para me reservar a palavra para depois de s. exa.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. conde de Lagoaça.

O sr. Conde de Lagoaça: - Sr. presidente, não foi propriamente para celebrar os feitos gloriosos das armas portuguezas no ultramar, que eu pedi a palavra. Não que eu não estremecesse de jubilo, como bom cidadão portuguez, ao ter conhecimento de tão heróicas façanhas, principalmente da ultima para nós decisiva, a prisão do celebre Gungunhana; mas, sr. presidente, sinto que me fallecem os dotes oratorios para a celebração condigna de tantas glorias e alem d'isso, depois das palavras eloquentes e enthusiastas de tantos e tão illustres collegas meus, nada saberia acrescentar.

Parece-me, porém, sr. presidente que, involuntariamente, de certo, houve da parte dos nossos illustres collegas uma lacuna que, creio, se deve preencher.

Se é justo, justissimo, que se façam enthusiasticos e calorosos elogios aos nossos soldados victoriosos, e que mesmo se faça tudo quanto possivel for para receber condignamente esse punhado de valentes que tiveram a fortuna de regressar victoriosos á patria e ao seio de suas familias, justo me parece tambem que manifestemos o nosso sentimento para com os pobres e valentes soldados que no serviço de sua patria perderam a vida n'aquellas inhospitas regiões.

Não era bom que lá fora se dissesse que não tinha havido aqui uma palavra de dor, de sentimento e de saudade para esses gloriosos portuguezes que tão heroicamente deram a sua vida na defeza da patria.

Proponho, portanto, sr. presidente, que na acta da sessão se lance um voto de profundo sentimento pela morte desses valentes e desditosos soldados.

Parece-me tambem de toda a justiça que na acta se lance um voto de louvor e profundo reconhecimento á benemerita sociedade da Cruz Vermelha, que tantos e tão relevantes serviços tem prestado á patria e ao exercito nas nossas campanhas ultramarinas. (Apoiados.)

Foi simplesmente para apresentar estas propostas que eu pedi a palavra, sentindo não possuir o talento e a eloquencia do meu querido amigo, o sr. Antonio Candido, que sinto não ver presente, para n'esta occasião poder festejar em phrase brilhante e alevantada os gloriosos feitos e do heroicos, que o valoroso exercito portuguez acaba de praticar em terras de alem mar.

Tenho dito.