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uma tal defesa podesse ser adduzida para justificar o procedimento irregular do Sr. Presidente do Conselho! Fica-se intendendo que o Presidente do Conselho comparece, e pode comparecer nos logares onde não tem obrigação de fallar, ou dar conta dos seus actos! É inadmissivel uma tal defesa, além de ser pouco exacto o fundamento, porque todos tem presenceado, que o Sr. Duque de Saldanha não apparece embrulhado n'um capote, nem se conserva no theatro unicamente um quarto de hora a ouvir Mad. Alboni! Apresenta-se quasi diariamente nos espectaculos publicos, onde se demora todo o tempo que elles duram, com ar alegre e satisfeito, e em prova do que dizia, offerecia o testimunho de todos os habitantes da capital.

Que sentia ter descido a similhantes detalhes, mas a culpa fora do Sr. Ministro do Reino, que julgou dever defender o seu collega, fazendo delle uma triste pintura, e que não pode por isso decidir se o discurso do Sr. Ministro do Reino foi uma defesa ou uma ironia! Que era certamente melhor que o Sr. Ministro do Reino defendesse o Presidente do Conselho com razões, e não com gracejos (apoiados).

E extranhou tambem o Sr. Ministro do Reino que o orador viesse trazer para esta discussão o movimento da chamada regeneração! Se tivera presentes os Diarios das Camaras desde 1842 até 1846 poderia mostrar pelos proprios discursos do Sr. Ministro, que S. Ex.ª durante esse periodo se occupou muitas vezes do acontecimento de 1842. Que não sabe elle orador a razão por que os seus adversarios politicos tinham direito de fazer referencia a um facto de que julgam poder tirar partido contra elle orador, querendo impedi-lo de empregar similhante meio em circumstancias iguaes. Que o Sr. Ministro do Reino recorrera a argumentos dê sentimentalismo para desinvolver sympathia a favor do Sr. Duque de Saldanha, e pretender lançar sobre o orador e seus amigos todo o odioso, não só por se acharem elles culpados na accusação que foi dirigida contra o Sr. Presidente do Conselho, mas porque este nada havia lucrado com o movimento da regeneração, tendo apenas recuperado aquellas posições de que havia sido espoliado gota a gota por elle orador! Pedia antes de tudo, ao Sr. Ministro do Reino, declarasse positiva e claramente quem eram esses individuos que haviam lucrado tanto como o Duque de Saldanha pelo acontecimento de 1842. Que já n'outra sessão mostrára evidentemente a grande differença que existia entre o movimento de 1842 e o de 1851. Que bastaria attender, que depois da restauração da Carta em 1842 nem um unico Alferes havia sido despachado; que o proprio commandante das força militares, que apoiaram aquelle movimento, e que se acha sentado adiante delle orador, não tivera promoção alguma; e que sem fallar de outros muitos, elle orador, sendo aliás o Presidente da Junta provisoria, nenhuma graça havia recebido. Que muito depois foram, é verdade, alguns dos que apoiaram esse movimento, promovidos a differentes logares, mas que ninguem poderá deixar, de reconhecer, que se attendêra sómente ao seu merecimento.

Sentia que o Sr. Ministro do Reino, na defeza que apresentava do seu collega, proferisse inexactidões que davam logar a uma analyse bem pouco vantajosa para o Sr. Duque de Saldanha. Que não era verdade ter S. Ex.ª resgatado sómente as posições de que se dizia expoliado antes da regeneração; e a frase espoliação gota a gota não podia ser sustentada, nem em vista dos principios, nem em vista dos procedimentos do nobre Duque. Que fora, sim, demittido de membro do Supremo Conselho de Justiça militar, e de primeiro Ajudante de El-Rei, porque o nobre Duque faltando a todos os deveres de respeito que as leis militares impõem ao inferior para com o seu superior (e ninguém pode duvidar que o Ministro da Guerra, militarmente fallando, é superior ao Marechal do Exercito) escrevera officios altamente injuriosos ao Sr. Ministro da Guerra, e que este julgára, e com razão, que não podia continuar a ser conservado em cargos que o Governo considerava de commissão, um militar que assim faltava aos seus deveres, e que pela sua posição de Marechal do Exercito devia ser o primeiro a dar o exemplo de subordinação e respeito para com o seu superior. Que bem longe de dever extranhar-se um similhante acto do Governo, a que havia tido a honra de presidir, devia pelo contrario ser tido como suave, porque noutro qualquer paiz um conselho de guerra deveria ter applicado ao Duque de Saldanha as penas que as leis militares estabelecem contra os militares insubordinados, e que faltam ao respeito aos seus superiores. Pedia se considerasse em boa fé este negocio, e se dissesse se era possivel conservar n'uma repartição dependente do Ministerio da Guerra um Marechal que praticasse actos de similhante natureza?!

Que tambem fora dimittido de Mordomo-mór, mas que este negocio fora já devidamente explicado n'outra occasião, e que agora diria muito resumidamente, que a dimissão procedera de haver o Duque de Saldanha pertendido aproveitar a sua posição de Mordomo-mór, para constantemente mover intrigas junto do Chefe do listado, acabando por entregar ao mesmo Chefe do Estado uma exposição, na qual se proferiam as maiores calumnias contra o Ministerio daquella época.

Que não póde deixar de sustentar, que é contra as conveniencias politicas, e contra os principios, que exista ao lado do Chefe do Estado, quem aproveita toda a occasião de promover intrigas, as quaes podem dar em resultado a instabilidade dos negocios, e muitas vezes o transtorno da ordem publica.

Perguntaria ao Sr. Ministro do Reino, se o nobre Duque de Saldanha resgatou, pelo movimento da regeneração, o cargo de Conselheiro de Estado, de que se diz o orador o havia dimittido; pois era certo que o Duque de Saldanha não havia sido dimittido de similhante cargo, nem por elle orador, nem por outro algum Ministro; e que assim o Sr. Ministro do Reino havia, nesta parte, proferido uma grande inexatidão, pois é sabido, que o Sr. Duque de Saldanha se dimittiu voluntariamente de tão alto cargo, durante a revolução de 1846. Notava, comtudo, haver muito impropriamente ter-se trazido este caso para a discussão, porque dava logar a que elle orador dissesse, que, não obstante ter o Sr. Duque de Saldanha sido restituído a um tal cargo, porque imperiosas circumstancias exigiam a sua comparencia nos Conselho do Chefe do Estado, ainda depois dessa restituição, nem uma só vez alli compareceu! Perguntaria tambem ao Sr. Ministro do Reino, se foi para resgatar o cargo de Commandante em Chefe do Exercito, que S. Ex.ª emprehendeu o movimento regeneratorio, ou se elle orador o havia effectivamente dimittido de um similhante cargo? Que não podendo dar-se uma resposta affirmativa á segunda parte da pergunta, podia sem escrupulo dizer-se que tal movimento fora emprehendido para deslocar as dragonas de Commandante em Chefe do Exercito dos hombros de El-Rei, Esposo da Rainha, para os hombros do Duque de Saldanha!!!

Seria melhor (exclamou o orador) que se não fizesse allusão a similhante objectos, porque a sua discussão obriga a explicações pouco favoraveis á pessoa, que se pertende defender.

Que se admirara o Sr. Ministro do Reino de haver elle orador dito, que divisava nos semblantes da maioria a approvação de todas as razões que apresentára, para censurar a falta de comparencia do Presidente do Conselho nas Camaras legislativas, e que não sabia a razão por que ò digno Par fallára de risadas, como resposta a essas razões, quando nem dos bancos dos Ministros, nem da maioria taes risadas tinham saído! Em primeiro logar, não sabia como o Sr. Ministro do Reino se julgava auctorisado para dizer, que elle orador se referira a risadas saídas da maioria. Que nunca fora sua intenção, nem tivera pensamento de attribuir o argumento das risadas á maioria, porque nella contava muitos amigos pessoaes, e não seria elle orador quem proferisse uma asserção, que do outro lado poderia ser tomada como offensa; mas que appellava para a consciencia de todos, sobre a procedencia das razões, que havia adduzido para censurar a falta de comparencia do Presidente do Conselho nos debates parlamentares.

Que o Sr. Ministro do Reino intender, que o orador dava uma pessima idéa da sua administração quando asseverou — que se alguns dos actos que tem agora sido praticados, tivessem logar naquella administração, a bandeira da revolta teria sido levantada, e teria effectivamente feito uma revolução. Que as revoluções não se fazem agora porque a imprensa não tem algemas, e porque as cadêas estão vasias de presos politicos! Parecia impossivel (continuou o orador), que o Sr. Ministro do Reino falle por esta fórma na presença dos que tem conhecimento dos factos da época. S. Ex.ª não podia deixar de conceber, que á roda do Governo estão os que sempre arvoraram a bandeira das revoltas, que a imprensa não está agora mais livre do que em épocas anteriores, porque nunca ella fora tão perseguida, como durante a administração actual. Não era bastante fazer referencia a uma lei que se julga mais ou menos coercitiva dos abusos de liberdade de imprensa, é necessario attender mais particularmente ao facto da perseguição, e por cada uma querela contra a imprensa, dada durante a administração de que o orador fora presidente, poderia apresentar dez querelas, durante a administração actual! Pedia ao Sr. Ministro do Reino apresentasse a estatistica das querelas dadas n'uma e n'outra época, e se conheceria então a verdade do que elle orador acabava de expôr. Finalmente, que as cadêas não estão tambem agora mais vasias de prezos politicos, do que durante a administração de 18 de Junho. Que alguns existiam até esse dia ou presos nas cadêas ou fugitivos, mas que todos elles eram victimas do Duque de Saldanha, e aos quaes elle orador, e os seus collegas deram liberdade por isso mesmo que o primeiro acto que aconselharam ao Chefe do Estado, apenas organisado esse Ministerio (de 18 de Junho) foi uma amnistia ampla para esses crimes politicos. — Podiam os seus adversarios escrever artigos de jornaes, falsificar os factos e a opinião publica, mas fiquem bem certos de que sempre que vierem á discussão hão-de ficar confundidos, porque os factos fallam mais alto, e convencem mais do que as figuras rethoricas, e os gracejos do Sr. Ministro do Reino.

Dadas estas explicações em resposta ao que no intender delle orador fora impropriamente trazido á discussão pelo Sr. Ministro do Reino, passou a occupar-se da parte séria do discurso do dito Sr. Ministro, e que é relativa ao contheudo da correspondencia publicada na Independencia Belga. — O orador senti-o não poder referir exactamente palavra por palavra o contheudo da carta que o Sr. Ministro do Reino agora lêra, para explicar o verdadeiro sentido da outra carta publicada na Independencia Belga. Disse, porém, que faria a diligencia para referir com a maior exactidão possivel, ao menos o sentido das ditas frazes, e que pedia ao Sr. Ministro do Reino rectificasse qualquer erro, que elle orador por ventura commettesse.

«Disse o Sr. Duque de Saldanha (continua o orador), que para mostrar quanto elle deseja não ferir as susceptibilidades dos seus adversarios politicos riscara em todas as cartas, menos em duas, as expressões que elle imagina serem aquellas, que feriram o orador, mas que o sentido dellas era obvio, e que só tivera em vista a sua propria defeza, por quanto elle intendera que a imprensa da opposiçao, accusando-o tão gravemente pelo acontecimento da tentativa de rapto, e tendo, accusado o Presidente da Administração

precedente fazendo-lhe imputações graves; nenhuma outra cousa tinha em vista senão colloca-los na mesma posição, a fim de que a razão dada pelo sobredito Presidente do Conselho da Administração anterior, não chamando os seus accusadores aos Tribunaes, colhesse em sua defeza não chamando igualmente o Duque de Saldanha aos Tribunaes os seus accusadores pela tentativa do rapto, no que se haviam enganado, porque elle logo annunciára, que ia effectivamente chamar aos Tribunaes os ditos seus accusadores.

Se estas não são as expressões, ou pelo menos o sentido das phrases, que se conteem na carta do Sr. Duque de Saldanha, a qual o Sr. Ministro do Reino acaba de ler, peço a S. Ex.ª tenha a bondade de fazer a devida rectificação.

O Sr. Ministro do Reino — O que posso fazer é repetir a leitura, e parece-mo que isso satisfará mais, porque aquillo que está escripto fórma para mim uma especie de texto de que não posso affastar-me, mas se for necessario fazer a glosa eu a farei. Creio que não & na traducção que o digno Par tem duvida.

O orador — A intelligencia que dá ás palavras...

O Sr. Ministro — Pois eu leio (leu).

O orador — Muito bem, observo pois que não intendi mal (disse o digno Par), e comprehendi exactamente o pensamento do nobre Duque. Tenho comtudo o sentimento de dizer que a explicação dada, só me poderia satisfazer se ella não estivesse em desaccordo com um paragrapho da carta publicada na Independencia Belga. O nobre Duque escreveu, que a imprensa periodica da opposiçao o accusou do crime de tentativa de rapto de uma menina de doze annos -para caiar com seu filho, com o unico fim de destruir a situação politica, atacando-a e dei acreditando-a na pessoa do seu chefe (elle Duque de Saldanha) com o pensamento talvez de justificar por este meio chefe da situação precedente das graves imputações em outra época dirigidas contra elle (Conde de Thomar).

Com estas palavras não quiz o Sr. Duque de Saldanha offender-me, tractou só da sua defeza. O que pertendeu foi mostrar, que se eu tinha deixado correr á revelia graves insinuações, que me foram dirigidas pela imprensa da opposição, elle, longe de proceder assim, havia chamado aos Tribunaes o seus accusadores!

O nobre Duque de Saldanha esqueceu-se sem duvida de que na carta publicada na Independencia Belga, confessa S. Ex.» ter, como eu, supportado insinuações malevolas e pérfidas, e por estas nunca S. Ex.ª chamou aos Tribunaes os seus accusadores!

(Segue-se um pequeno dialogo entro o orador e o Sr. Ministro do Reino, sobre a exactidão da traducção do paragrapho a que se fez referencia, que se omitte por pouco importante, é porque a final se mostraram accordes).

Toda a Camara, porém, sabe que o Sr. Duque do Saldanha foi uma e muitas vezes accusado pela imprensa da opposiçao, e especialmente por um jornal, que hoje defende a politica do Governo — de ladrão, concussionario, Ministro vendedor de graças e contractos, e presidente da administração mais deshonesta que tem, havido neste paiz!!! Tenho para mim (diz o orador) que todas estas accusações foram falsas, mas contra mim nunca se dirigiram nenhumas mais graves.

Se eu (continua) não chamei aos Tribunaes ordinarios os meus accusadores, qual foi o procedimento do Duque de Saldanha? Toda a Camara sabe tambem, que o Sr. Duque de Saldanha nunca chamou aos Tribunaes nenhum dos periodicos, que tão clara, positiva, o gravemente o accusaram. Se as nossas situações a este respeito (diz expressivamente o orador) eram identicas, como pode S. Ex.ª fazer referencia a este meu procedimento, inculcando que é mais cavalheiro e mais honrado o seu procedimento, chamando agora aos Tribunaes os seus accusadores na accusação à tentativa do rapto!? E como póde S. Ex.ª justificar a allusão, que na dita correspondencia faz á minha pessoa, lembrando accusações que nenhum dos meus inimigos se tem atrevido a tomar como base de um processo por mim tantas vezes reclamado no Parlamento?! O Sr. Duque de Saldanha accusou-me nos seus papeis officiaes, e tinha obrigação de me fazer processar; os meus inimigos accusaram-me e tomaram o compromisso de repetir essa accusação, quando tivessem uma cadeira no Parlamento. Uns e outros faltaram, e depois do que se passou na sessão de 1834, quando eu comparecendo pela primeira vez na Camara lhes lancei a luva, que não ousaram levantar, são todos réos diante de mim, e não podem já mais levantar a voz para fallar em accusações passadas (muitos apoiados).

O Sr. Duque de Saldanha, desprezando todas as graves accusações que mencionei (diz o orador), intendeu que só devia chamar aos tribunaes os seus accusadores pela accusação da tentativa do rapto. Não quero descortinar os motivos do procedimento de S. Ex.ª Não me importa mesmo saber a forte razão que o levou a querer-se justificar dentro e fora do paiz. Escreva S. Ex.ª quantas correspondencias quizer, publique quantas justificações lhe aprouver, mas não faça nellas allusões desleaes aos seus adversarios. Se eu me não importo com o Sr. Duque de Saldanha, se me não importa que S. Ex.ª procure uma rica herdeira para casar com seu filho, empregando meios licitos ou illicitos, para que ha-de S. Ex.ª lembrar-se de mim, afigurando-se-lhe que eu sou a sombra de Nino, que o acompanha no remanso do seu gabinete, no meio dos seus prazeres, e talvez nos seus proprios desgostos!...

Não serei eu quem venha tractar nesta Camara da questão da tentativa do rapto, e das circumstancias que o acompanharam; esse facto aconteceu estando eu no campo, separado inteiramente de todos os negocios, e formei desde logo tenção de nunca dizer uma palavra a tal respeito. A que proposito veio então o Sr. Duque de Saldanha arrastar o meu nome e do partido a que pertenço para uma tal questão? A que proposito dizer S. Ex.ª, como diz, ou pelo menos como dá claramente a intender, que a senhora viuva Ferreira se tornou instrumento docil da perseguição politica, que dirigem contra S. Ex.ª os homens do partido, cuja preponderancia S. Ex.ª paralisou no paiz, não os comprimindo com mão de ferro, mas pelos meios do doçura e de legalidade que toda a Europa conhece?

Esse partido era incapaz do vergonhoso procedimento que lhe imputa o Sr. Duque de Saldanha: esse partido era incapaz de crear uma falsidade e uma calumnia para prejudicar o caracter do chefe da situação (apoiados),

E como póde dizer-se que foi o partido decaído que creou a falsidade e calumnia de que le queixa o Sr. Duque de Saldanha? E como poderá tambem dizer-se que se teve em vista a justificação do chefe da administração precedente? Todos sabem que o Sr. Duque de Saldanha, não obstante ser uma tal accusação repetida em todos os jornaes da opposiçao, apenas chamou aos tribunaes dois desses jornaes o Periodico dos Pobres do Porto, e o Português (impresso nesta capital). Quanto ao primeiro sabem todos que foi um dos jornaes que mais concorreu pelos seus artigos para a regeneração, e que S. Ex.ª durante a sua estada no Porto, nos momentos em que triumphou, o escolheu para sou orgão official! Se mais tarde se desavieram, e se aquelle periodico conheceu o erro que praticára, são questões que me não importam. Quanto ao Portuguez, foi este periodico estabelecido para combater a minha politica, sempre a combateu, e ainda a combate. Como poderia então acreditar-se que estes jornaes, accusando o Duque de Saldanha do crime da tentativa do rapto, tiveram em vista justificar-me?!! Isto 6 uma verdadeira stulticia!!..

Se o nobre Duque de Saldanha pede provas aos seus accusadores na tentativa do rapto, porque não havemos nós pedir tambem prova a S. Ex.ª nas insinuações que nos dirige, pertendendo fazer acreditar que eu e o meu partido inventámos uma calumnia, e fazemos da questão da tentativa do rapto uma questão politica? Porque não teremos nós tambem, o direito para dizer que S. Ex.ª, não podendo justificar-se na presença da moral e das Leis, faz da mesma questão uma questão politica, para um partido que o sustente na mesma questão?..

Não me faço cargo de desenvolver os meios de doçura o legalidade com que o nobre Duque de Saldanha comprimiu o partido decaído, e de que elle diz estar sciente toda a Europa! Deixo tudo isso á consideração da Camara, limitando-me unicamente a dizer que Deos nos livre de tornarmos a ver um Marechal do exercito á frente da soldadesca desenfreada para fazer o que todos sabem.

Sr. Presidente estou cançado, e supposto tenha ainda muito quê dizer sobre -a questão, reservo-mo para quando tiver de responder ao Sr. Ministro do Reino, que segundo tenho observado, tem tomado muitas notas durante este meu discurso. Concluo dizendo, que se o Sr. Ministro do Reino se tivesse limitado a declarar, que o Duque de Saldanha, escrevendo a carta publicada na Independencia Belga, não tivera o pensamento de offender-nos, accusando-nos de havermos creado o que elle chama odiosa calumnia da tentativa do rapto para os fins politicos, eu me teria dado por satisfeito, o não teria entrado no desenvolvimento de outros pontos em que, segundo creio, não fez figurar bem o seu constituinte. Finalmente, como eu tenho do dirigir-me á redacção da Independencia Belga, a fim do desvanecer qualquer má impressão que tenha produzido a carta do Sr. Duque de Saldanha a respeito do partido a que pertenço, peço ao Sr. Ministro do Reino que mande para a Mesa cópia do paragrapho da carta do nobre Duque, dirigida a S. Ex.ª porque copiando eu, como tenciono copiar, textualmente, as phrases de S. Ex.ª, não poderei incorrer na nota do menos exacto (apoiados).

O Sr. Ministro do Reino — Eu não desejo dar ao digno Par o enfadamento de fallar ainda terceira vez; porque me parece, pelo que lho ouvi das primeiras, que póde embora fallar terceira e quarta — não dirá mais do que disse em seu favor, em elogio aos seus amigos e partidarios, e em louvor dos jornaes que hasteiam a sua bandeira. (O Sr. Conde de Thomar — Eu não disse tal). Pois não fallou em si e no seu partido? O digno Par ajuntou todas as defensas, todas as fortificações e intrincheiramentos: armou as suas baterias, e tractou de defender-se de todos, e de ofender a todos os seus adversarios, que foi provocar ao tempo passado, depois de os fulminar no presente. Bem, bem haja S. Ex.ª folgo de ver diante de mim tão corajoso inimigo. Dá gosto combater assim. É verdade que não creio merecer a S. Ex.as palavras ironicas que me dirige sem razão alguma; porém são-lhe permittidas como allivio a algum dissabor que as minhas lhe causaram. Tacha-me S. Ex.ª de gracioso no sentido offensivo do termo. Nunca tive a pretenção de engraçado: estaria isso mui mal á minha pessoa, já pela idade que tenho, já pela situação em que me acho. Nunca me lembrei de tal; mas diga o digno Par qual frase minha ouviu elle, que se qualifique de menos grave, do menos polida, e menos parlamentar? Por certo, préso-me de não cair em vulgarismos, nem usar de linguagem que não seja a de homens de bem, e conhecida na sociedade civilisada. E se uma ou outra vez se observa algum sorriso nos que me ouvem, serei eu responsavel por esse effeito? Em contraposição ao meu estylo facil e aos meus modos pouco severos, traz o digno Par nas suas expressões um furor encommendado, uma ira vehemente, que transparece em todos os seus mo