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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 365

zem os principios e as declarações dos ministros (apoiados).

De mais, é voz publica, todos o sabiam, muitas e repetidas vezes se disse na camara electiva, sem que o governo o contestasse, que entre o sr. conde de Samodães e a commissão de fazenda havia divergencias em pontos importantes, e com effeito de tal ordem eram ellas que deram occasião a essa guerra surda, tambem tão fallada, e por isso já de todos conhecida; tão conhecida, sr. presidente, que, não digo bem chamando-lhe guerra surda, pois que já era clara e visivel, comtudo podia dizer se surda talvez, porque nem todos os membros do gabinete, assim como nem todos os membros da commissão, estavam combinados nesse proceder e n'esse ataque ao ministro da fazenda; o caso porém deu-se, as cousas passaram se da maneira que todos sabem, que todos vêem e que todos admiram, pelas continuadas contradicções entre o que se declarava e o modo como se procedia.

Ainda mais, sr. presidente, é voz publica que ultimamente em conselho de ministros tinha sido tomado um accordo, como firme resolução, que demittindo-se algum dos membros do gabinete, se demittiriam todos. Resolveu-se, nada mais nada menos em conselho de ministros, que o ministerio se demittisse collectivamente, porque elle era solidario.

É pois necessario, sr. presidente, que o governo explique clara, categorica e precisamente estes phenomenos, as circumstancias que acompanharam esta recomposição ministerial, e como os homens que faziam guerra a mais tenaz ao governo, que diversificavam com elle em pontos de administração, como mostravam na commissão de fazenda da camara dos senhores deputados, foram, elles mesmos, chamados para occupar os logares que vagavam n'aquellas cadeiras.

Comprehendo que houvesse uma recomposição ministerial, comprehendo mesmo que s. exas. tivessem, em boa harmonia, combinado em saír um ou outro ministro, pela conveniencia de reforçar por alguma fórma o ministerio com gente da maioria; mas o que não posso comprehender é que homens que tivessem apoiado este governo, ultimamente lhe fizessem uma guerra atrocissima, e com especialidade ao sr. ministro da fazenda, procurando lhe por todos os modos difficuldades, não lhe relatando projectos, modificando lhe outros, não lhe dando parecer sobre o orçamento; guerra esta que affectava todo o governo que tinha aceitado o programma e systema do sr. conde de Samodães. Não comprehendo, com sentimento o digo, como seja possivel, com dignidade, occupar conjunctamente aquellas cadeiras o sr. bispo de Vizeu com os novos ministros! Esta surpreza é tanto maior, esta admiração é tanto mais elevada, quanto eu me persuado que um prelado, despido das vaidades humanas, deve sempre marchar com os olhos fitos no dever e a consciencia tranquilla e pura.

Eu entendo que não havia nada que podesse atacar e offender a solidariedade ministerial, desde o momento em que houvesse uma combinação entre os ministros que saíam e aquelles que ficavam. Mas, desde que as cousas se passaram de um modo inteiramante irregular, não o comprehendo, porque o veda a moralidade, porque o vedam os principios (apoiados).

Desejo saber como explica o sr. ministro do reino a solidariedade ministerial com a entrada dos srs. Saraiva e Cortez. Desejo saber quaes os motivos que originaram a demissão do sr. conde de Samodães, e quaes os pontos governativos em que houve desaccordo. Desejo ainda saber qual o systema do gabinete reconstruido.

Estas perguntas que acabo de fazer ao governo são perguntas a que exijo se me responda bem explicitamente, sobretudo o sr. ministro do reino, porque s. exa., permitta-se me a expressão, illudiu completamente a camara, e eu não creio que um prelado, um bispo, na elevada posição que occupa, viesse aqui dizer uma cousa que não fosse seria, porque um prelado não póde nem deve fallar senão a verdade. S. exa. deve explicar esses factos por honra sua; tem obrigação de o fazer, assim o ordena a sua missão, bem como o decoro e a dignidade do logar que occupa. Julgo por conseguinte que, compenetrado de tão justas considerações, s. exa. ha de dar uma explicação rasoavel.

Ha, sr. presidente, um ponto grave, sobre o qual chamo especialmente a attençao da camara, e sobre o qual preciso uma resposta formal do governo; este ponto, pela sua elevada importancia, não é de politica pequena que fazemos aqui; digo pequena, porque é uma politica que se póde chamar de familia caseira, ou como muito bem quizerem, e que na verdade é pequena em relação a uma outra politica, muito maior, grande se póde dizer, pelo muito que nos interessa, politica que prende com a nossa autonomia, independencia e liberdade; esse ponto é o que se refere á união iberica.

Sr. presidente, hoje que estou convencido de que o sr. marquez de Sá anda illudido, e não sabe as cousas como ellas se passam, os manejos que se urdem, os planos que se traçam, tenho graves, gravissimas apprehensões ácerca do governo. Depois de ouvir as revelações feitas pelo sr. marquez de Sabugosa numa das passadas sessões, o governo tem por obrigação expressa fazer declarações sobre este ponto, porque é um dos negocios serios e melindrosos, que dizem respeito á independencia de Portugal e á dignidade nacional.

Sr. presidente, eu, como fazia tenção de trazer esta questão ao parlamento, tinha prevenido o sr. ministro da marinha, que é aquelle sobre que recaem as suspeitas do digno par a que me referi; suspeitas estas que influenciam tanto mais o meu espirito, quanto mais considero a lealdade e o apoio que tem dado ao governo este brioso cavalheiro, e em cujas veias corre o sangue de verdadeiro portuguez. (O sr. Marquez de Sabugosa: - Peço a palavra.)

Não sei se repetirei bem as expressões do digno par, mas s. exa. as rectificará. Quando se notava que o governo não tinha um jornal unico ao qual pagasse, disse aqui s. exa. que = se o governo não tinha realmente jornal subsidiado, no que fazia muito bem, comtudo se não lhe pagava cem dinheiro, pagava lhe muito mais caro, parecia dar lhe o maior de todos os subsidios, pelo facto da adherencia, pelo menos de um dos ministros, ás idéas ibericas de um jornal de que n'outro tempo tinha sido collaborador, e hoje representa no gabinete =. S. exa. n'esta parte accusava, já se vê, o sr. ministro da marinha.

O sr. Marguez de Sabugosa: - Eu não accusei.

O Orador: - As palavras de que s. exa. se serviu, s. exa. as póde rectificar, mas a idéa parece-me que foi esta (apoiados).

Sr. presidente, estas apprehensões, estas suspeitas, são tanto mais serias e graves quanto mais elevada está a pessoa pela posição que occupa; dirigem se a um ministro da corôa, ministro esse que tinha as suas idéas bem conhecidas, bem claras e bem patentes, nos escriptos de outras eras; portanto se ainda hoje s. exa. não renega os seus escriptos, e sustentando as suas opiniões deseja essa união, contra a qual todo aquelle, que tem um coração verdadeiramente portuguez, protesta energicamente, é réu convicto de alta traição e o governo a que pertence.

Sr. presidente, eu digo, e repito, que tenho tristes apprehensões, porque entre os corretores, entre os homens que se encarregaram de arranjar ministros para se sentarem n'aquellas cadeiras, entre esses corretores contava-se um cavalheiro que tinha relações directas com a imprensa que se corresponde com os inimigos da nossa independencia, e é proprietario e collaborador de um d'esses jornaes.

Bem sei, sr. presidente, que a imprensa póde sustentar quaesquer idéas, theorias ou doutrinas, porque a manifestação do pensamento é livre, mas um ministro da corôa é que não póde consentir que a imprensa que o apoia e com que está ligado propague e publique escriptos dos sectarios