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Sessão de 16 de Dezembro de 1918 17

sível que seja divinizado, que seja talvez amnistiado pelos seus amigos políticos. É necessário que isso se evite. (Muitos apoiados).

O Sr. Nobre de Melo:-Não mais se deitarão flores sôbre sepulturas de criminosos. (Muitos apoiados).

O Orador: - É proceder contra êle, mas por meios legais, da mesma forma que êle procedeu com o Sr. Presidente da República. Precisamos matá-lo, mas claramente, à luz do dia. Não sou como outros, que ontem, ao saberem desta minha intenção, me disseram: "Não, nós não podemos votar um projecto que restabeleça a pena do morte. É melhor talvez matá-lo no caminho". Declaro a V. Exa., e tomo a responsabilidade da afirmação que faço, pela muita dedicação que me figa à memória de Sidónio Pais, declaro a V. Exa. que seria capaz de ir matar êsse bandido à prisão. Mas, em todo o caso, melhor fica à nossa situação que façamos as cousas às claras, tomando a responsabilidade daquilo que fazemos.

Sei que muitas pessoas há que desaprovam a pena de morte; mas é preciso notar que nos países mais civilizados essa pena existe.

É preciso notarmos que nos últimos anos o atentado pessoal é uma arma política corrente.

É preciso notar que se fez a propaganda dêste atentado. Devemos, pois, sentir bem a necessidade de pôr um dique a essa corrente infamíssima, para que amanhã não suceda ninguêm em Portugal querer ser o Chefe do Estado, por se ver à mercê de bandidos, como aquele que, depois de matar, pede de mãos postas... que o não matem.

Não querendo perturbar a sessão do hoje com a apresentação dum projecto de lei restabelecendo a pena de morte para o crime de assassínio de Chefes do Estado, declaro, todavia, desde já que na próxima sessão eu e um grupo de Deputados, um grande grupo, viremos aqui apresentar êsse projecto.

Há-de compreender-se que necessitamos vingar o nosso chorado Presidente, Dr. Sidónio Pais, que foi o maior amigo de Portugal.

Eu era-lhe muito dedicado, e não podia deixar de ter êste desabafo.

Terminando, só peço que todos se unam e que todos vinguem a morte de tam grande vulto, como eu o quero vingar.

S. Exa. não reviu.

O Sr. Pedro Fazenda: - Pedi a palavra, como Deputado republicano independente, para associar-me ao voto de sentimento, de pesar profundo, proposto por V. Exa., pelo brutal, estúpido, monstruoso assassinato do Sr. Presidente da República.

Foi mais uma nódoa de sangue lançada na história nacional... E, Sr. Presidente, porventura a mais infamante...

Se não fossem os nossos feitos imorredouros, que brilham como constelações na História da Civilização, muitos portugueses, neste momento angustioso, que nos vexa perante o mundo inteiro, sentiriam talvez mágua de o ser! Tal é o aniquilamento a que os erros políticos, as loucuras de sicários nos têm reduzido! E, ou nós - os que queremos o engrandecimento da Pátria-conseguimos dominar a desordem, ou arriscaremos a independência nacional.

Agora que uma nova era histórica vai surgir, as nacionalidades que não contenham os germes de vitalidade progressiva serão necessáriamente absorvidos, porque seria não completar a obra de civilização consentir na sobrevivência de organismos intoxicados.

Unamo-nos, pois, Sr. Presidente, para continuar a obra iniciada pelo Sr. Dr. Sidónio Pais, que será até a única, a mais grata homenagem que poderemos prestar à sua memória: E necessário diluir no mesmo sentimento patriótico as divergências partidárias dos que têm cooperado nessa obra de redenção republicana.

E oxalá o esforço colectivo de todos triunfe! E digo oxalá, porque ainda há poucas horas, no quarto modesto onde faz o cadáver do Sr. Dr. Sidónio Pais, eu senti - pela primeira vez senti! - e por isso mesmo com maior intensidade, que só o pulso firme dum homem de génio poderia realizar a obra de reconstrução, ou antes formação nacional. Senti-me cheio de desalento e saudade, porque,