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Sessão de 16 de Dezembro de 1918 13

almas apiedadas, as suas últimas palavras - "Não me apertem, rapazes!" - o não haviam de apertá-lo os seus rapazes que ao lado dele lutaram e venceram!?

Como não haviam de apertá-lo êsses rapazes que traziam nos braços, empapado em sangue, o seu ideal moribundo?!

Como não haviam de apertá-lo, procurando prender ao coração do maior de todos a vida que lhes fugia?!

"Não me apertem rapazes..." é a tortura de um sacrificado que fala quando tanto valor, tanta temeridade, tanta audácia, um ideal tam alto, um sonho de beleza e de verdade tombados num lago de sangue, prostrados por três balas assassinas sôbre o chão enlameado de uma gare não haviam de apertá-lo se pensavam poder conservar entre as mãos que o desespero enclavinhava aquela vida feita de confiança, de fé e de esperança no futuro da Pátria; e com beijos procuravam suavizar a sorte que êle tristemente pressentira e as feras lhe preparavam?!

Poucos momentos antes um mar de povo o aclamava, em apoteose ao eleito, e de repente, como três nãos, vibraram sôbre o súbito silêncio os três tiros assassinos, que sôbre todos verteram a agonia dum sonho mau.

Não! Era lá possível que dois ou três sicários, máquinas de matar, atiradas desde a sombra duma alfurja, poderem dominar, esmagar, com mão fatal a vontade de todos nós, duma Pátria, duma raça, lançando em louco empurrão para trevas alucinantes da incerteza os destinos da Nação!

Não podia ser, que até os olhos recusavam à visão do pesadelo... Eu próprio fui a Belém, na noite silente e fria, para poder convencer-me da assombrosa realidade...

Lá o vi no seu quarto sem galas, pobre e simples; hirto, pequeno, no seu pequeno e simples leito, com a face enérgica de herói banhada pelo lindo clarão da Morte; serena e límpida, com a serena limpidez da sua alma e do seu sonho... Lá fazia tam pequeno no seu leito, tam grande na sua vida e na sua morte, êsse enorme português, tam grande que a todos nós nos encheu o coração.

E só então me convenci da cruciante verdade...

Paira na alma de todos o mesmo desolado sentimento; escoam-se tristemente as horas de dor e de pranto; e com lágrimas puras, imaculadas de rancor, intriga, ou ódio, que devemos chorar a pura, imaculada memória do maior de todos nós. Façamos o pequeno sacrifício das nossas ruins paixões à lembrança daquele que fez o sacrifício imenso da própria vida sôbre o altar da sua Pátria!

Preferem os bons e os maus, que para todos depois há-de chegar seu momento e as horas más de retaliações e intrigas, como hão-de chegar em alvorada triunfal as horas boas de justiça tranquila, inflexível, serena, iluminadas pelo alvor da fé, deslumbradas pelo esplendor da verdade, tam claras, grandes e fortes como a alma do nosso herói que morreu assassinado!

O Sr. João de Castro: - Pedi a palavra, neste momento em nome da superioridade moral dos princípios que defendo dentro da Câmara, para me associar, comovidamente, às homenagens de pesar do Parlamento Português pela morte do Chefe do Estado.

Nós estamos, sem dúvida, atravessando o momento mais grave de toda a nossa história; mas, Sr. Presidente, hoje mais do que nunca, em nome do Partido Socialista Português, eu proclamo, do alto desta tribuna, que para vencer esta situação nada podem as violências, os crimes, os assassinatos.

Só se vencerá com a liberdade, com a justiça, com o direito, com o respeito por todos os princípios, por todas as correntes da opinião pública, com o acatamento sincero das leis do país.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. António Cidrais: - A hora vai adiantada e eu não devia roubar tempo à Câmara, porque a minha palavra sem valor nada viria acrescentar à consagração que ao ilustre morto, Sr. Dr. Sidónio Pais, foi já feita nesta sessão assim cheia de solene recolhimento.

Pago, porêm, uma dívida de gratidão, interpretando o sentir de uma classe que, sem dúvida, constitui a maioria do país.