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Diário da Câmara do,; Deputados

Antes da ordem do dia

O Sr. Leote do Rego: — Sr. Presidente: há tempo quando o Presidente do Congresso convidou o Sr. Dr. António Gran-jo a subir a esta tribuna, S. Ex.:l disse que se não fosse esse convite nunca teria a audácia de aqui vir.

Eu subi, não por ousadia, mas por medo de estar no meu lugar olhando de frente para os Demóstenes de 1820 sorrindo-so da minha pobre eloquência. Aqui Bestou de costas para eles, não me vêem. É verdade que corro o risco da manopla de Fernandes Tomás vir a cair sobre a minha cabeça; mas certamente Sr. Presidente V. Ex.a me protegerá.

Vim a esta tribuna ainda por outra razão. Por culpa da maioria dos meus colegas tenho hoje uns galões muito grossos. Mas como ó cada vez mais grossa a lista dos navios incapazes de navegar, eu poucas probabilidades tenho de voltar a embarcar. Amando sinceramente o mar. emquanto aqui estou tenho a ilusão de estar sobre a ponte dum navio.

Sr. Presidente: tendo já pedido licença para me ausentar para o estrangeiro em breves dias deixarei o meu lugar nesta Câmara. Mas como se fala jnuito em dissolução, como elixir salvador — nós os portugueses, talyez por termos sangue árabe, acreditamos muito facilmente nos elixires de longa e de curta vida, nos Messias, no D. Sebastião, na Senhora da Aparecida, nas chinesas dos bichos — o além disso, porque tendo a audácia de chamar a atenção do Governo defunto para a necessidade de comprimir as despesas em ouro com vários funcionários no estrangeiro, logo recebi, entre outras ameaças, a de não ter mais votos; ó, portanto, mais que provável não entrar mais nesta Câmara.

Por isso, Sr. Presidente, e por despedida, não quero deixar de falar deste lugar a todos os portugueses e mais especialmente àqueles que amanhã ou daqui a um mês virão confortar aquelas dez cadeiras viúvas há já quinze dias.

Não serão palavras de desalento, toque de finados. Não as pronunciará nunca quem como eu jamais perdeu a fé, a confiança nos destinos da Pátria. (Apoiados).

Quem, como eu, sabe bem que essa Pátria dilacerada por muitos infortúnios,.

essa Pátria enforma, por mais incapazes que sejam os médicos que lhe ponham à cabeceira, há-de salvar-se, há-de triunfar, há-de viver. Lá está o povo 30in as suas admiráveis qualidades e instintos para acudir na hora própria. (Apoiados).

Mas que desgraçado país este em que ó necessário que o povo diga a cada passo a última palavra, às vezes mesmo com as armas na mão, para ensinar aos dirigentes o caminho do dever!

Que elite é essa que, apenas se dissipa a fumarada dos canhões e das barricadas. e que as últimas pàsadas do terra caeni sobre os que dão a vida pelo prestígio e grandeza da sua Pátria, rasga o mandato que ]he confiaram, para voitar a entre-gar-so ao seu prazer predilecto: a discórdia, a luta política, a baix£, intriga e a todo esse cortejo de cousas mesquinhas o perversas que só servem para abastar-dar o carácter e o talento, climinuir-nos aos olhos dos verdadeiros republicanos e servir de gáudio ao estrangeiro. (Apoiados).

Ás desgraças e erros alhíios não devem servir de consolação. Mas a verdade ó que em toda a parte há paixões políticas, há partidos, há parlamentarismo em crise, crises tremendas económicas, financeiras e sociais. De resto, Sr. Presidente, acabamos de sair da mais tremenda das

guerras.

Quantos anos não serão necessários para que o mundo inteiro volte ao equilíbrio, à vida normal ; ou quem sabe se, já de novo sob a máscara da paz, se não está preparando uma outra guerra bem mais cruel, mais antipática, porque será seni uni ideal, sern bandeiras :, ventre contra ventre; a fera humana, arrancados os, últimos farrapos da máscara, inostrando--se bem mais inferior ao que era no tempo das cavernas. (Apoiados),