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Diário da Câmara dos Deputados
procuração alguma do Sr. Ministro da Instrução Pública, devo afirmar que o ataque transcendentíssimo que o Sr. Nuno Simões fez ao parecer foi de todo o ponto injusto. E se a memória me não falha fui eu que requeri, em Julho último e a Câmara aprovou, que entrasse em discussão êste projecto, porquanto afigurava-se-me bastante desprestigioso para o Poder Central manter o professor Elias de Aguiar numa situação equívoca, êle que há longos anos desempenha com notável proficiência o lugar de professor de música da Faculdade de Letras, e é regente do Orfeão de Coimbra.
Sussurro.
O Orador: — Eu ontem tive o cuidado de dizer nesta Câmara, que não posso falar emquanto esta Assemblea não der atenção ao que estou dizendo.
Eu desisto da palavra, com a declaração de que nunca mais usarei dela, se a Câmara não consentir que me faça ouvir.
O Sr. Presidente: — Peço a atenção da Câmara.
O Orador: — Eu lastimo que o Sr. Ministro da Instrução Pública não esteja presente, tanto mais que S. Ex.ª sabia que, antes da ordem do dia, se ia discutir êste projecto.
Êste facto é único nos anais parlamentares, e a presença de S. Ex.ª tanto mais necessária quanto é certo que apesar dêste projecto não ter importância alguma, tem levantado enorme celeuma nesta Câmara.
Os Srs. Nuno Simões e Tôrres Garcia atacando êste projecto apresentaram argumentos que eu classifico de pueris, um dos quais foi, por exemplo, de que António Jóice, quando regia o Orfeão de Coimbra, o fizera gratuitamente.
Sr. Presidente: devo dizer que êste argumento cai pela base, porque nem António Jóice, o alto fundador do Orfeão de Coimbra, nem qualquer dos seus sucessores — excepção feita de Elias de Aguiar — desempenharam as funções de professor de música na Faculdade de Letras de Lisboa.
Os serviços que Elias de Aguiar tem prestado na Faculdade de Letras têm sido enormes; e com tanto carinho, amor e conhecimento — porque é um verdadeiro artista — êle tem sabido reger a cadeira de História de Música e das Instituições do Canto Coral, que eu posso afirmar à Câmara que ela é das mais freqüentadas da Faculdade de Coimbra.
Apesar de ser o regente do Orfeão, mantém com os alunos aquela amizade que não permite abusos e aquele carinho e interêsse que tem feito da Academia de Coimbra alguma cousa que se impõe perante o país.
Disse muito bem o Sr. Ministro de Instrução Pública que a nomeação de Elias de Aguiar tinha sido feita à sombra duma disposição legal e que só ao Parlamento compete fixar-lhe os vencimentos.
Foi o que se fez.
Sr. Presidente: não há nada mais desprestigioso para o Parlamento e para o Poder Central, do que estar exigindo-se responsabilidades a um professor numa Faculdade de Letras, e não se lhe pagar.
Sabe o Sr. Nuno Simões os altos benefícios que podem resultar para uma maior aproximarão entre os diferentes países, das visitas dos orfeãos ao estrangeiro, e neste momento recordo o carinho, o afecto, as provas de consideração e deferência, que ainda há bem pouco tempo a Espanha tributou ao Orfeão do Pôrto, quando ali foi de passeio.
De resto, Sr. Presidente, para quem conheça a vida de Coimbra, especialmente nos seus últimos anos, não pode ser indiferente a manutenção do actual Orfeão.
Êle representa alguma cousa de grande e belo, e tem conseguido, apesar das divergências políticas, que a Academia de Coimbra se mantenha forte e unida.
Nestas condições, é com o mais vivo aplauso e com a maior satisfação que dou o meu voto ao projecto que se discute.
Devo dizer que e projecto em discussão não só aproveita à Universidade do Coimbra, como aproveita a Lisboa e Pôrto, e devo dizer que o padre Elias de Aguiar, se não é, na expressão do Sr. Nuno Simões, o grande Elias, é no emtanto alguém no nosso país pela sua vastíssima cultura. S. Ex.ª é professor da Faculdade de Letras, é formado pela antiga Faculdade de Teologia e é formado pela Faculdade de Direito. Pela situação em que se encontra merece a consideração de todos e minha muito principalmente que sou