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Diário da Câmara dos Deputados
Pois, apesar disto, a despesa ordinária com a guarda, segundo o Orçamento de 1922-1923, excedia apenas em escudos 1:610. 037$38 a proposta agora; e, com as subvenções e mais alcavalas para fardamentos e quartéis, a despesa proposta para o próximo ano económico excede a anterior em 6:442. 186$12!
Será a culpa dos monárquicos, da guerra ou da paz?
Entre as verbas que mereceram o meu reparo encontrei as relativas a cavalos e à sua ração.
O problema deve interessar-nos, visto que, infelizmente, não é possível pôr em prática a milagrosa economia do cavalo do inglês, e aquelas verbas são de monta.
Para cada bucéfalo da guarda republicana 4$50 por dia, e para cada um do exército 5$75!
Não pode ser!
Protesto! Protesto, Sr. Presidente, contra êste regime de casta em plena democracia!
Risos.
O Sr. Carvalho da Silva: — É contra a Constituïção!
O Orador: — Já que não é possível entre os racionais, imponha-se ao menos entre os irracionais perfeita igualdade em questões de comida...
Também muito ao de leve desejo abordar ainda um dos máximos problemas nacionais.
Quero referir-me à instrução pública, ou antes, à inversa: ao analfabetismo. E permita-me V. Ex.ª, Sr. Dr. Brito Camacho, que eu mais uma vez perturbe o silêncio dos seus discursos, proferidos nos para sempre «saüdosos» tempos dá propaganda, lendo à Câmara uma passagem do que disse na sessão n.º 16, de 25 de Maio de 1908:
Lê.
Pensava assim o Sr. Dr. Brito Camacho em plena monarquia.
Assim pensa, por certo, hoje o Sr. Dr. Brito Camacho em plena República. Faço-lhe esta justiça.
Apoiados.
Pois bem:
Em plena monarquia, ainda em 1900, por exemplo, segundo o testemunho insuspeito do Sr. Queiroz Veloso, hoje republicano e director geral do ensino, ou cousa parecida, a percentagem de analfabetos era de 60 a 65 por cento e não de 75 por cento e isto porque, para o cômputo, se não deviam levar em conta as crianças que ainda não tivessem atingido a idade escolar.
E o que se passa agora?
Cumpriram-se os vaticínios, as aspirações, as promessas do Sr. Dr. Brito Camacho?
Foi a instrução o «primeiro» o «maior» cuidado da tal República que ainda em 1908 era um mito?
Fez-se, segundo S. Ex.ª, «dêste país de «analfabetos» um país de cidadãos com a perfeita compreensão dos seus deveres cívicos»?
Não, Sr. Presidente!
Não sou só eu que o digo. Di-lo aquele lado da Câmara; di-lo o próprio Partido Democrático, pela bôca da comissão do orçamento do ano passado!
A ampulheta está a esgotar-se mas permita-me V. Ex.ª que ou leia:
Lê.
É isto! Veja-se a falência do regime confessada pela mais insuspeita das suas facções!
Veja-se a confissão expressa da incompetência, da incúria, do desmazêlo até em relação àquilo que constituía o principal estandarte das reivindicações dos paladinos da República: já guerra ao analfabetismo!
Apoiados.
Ora o Sr. Dr. Brito Camacho, que é homem de bem, pensa hoje o que pensava em 1908; e por isso, tem S. Ex.ª a palavra para dizer aos senhores como então disse, mutatis mutandis, que tal facto é a condenação inexorável da República», é «o seu maior crime», e confessar que esta República não é constituída «por cidadãos com a perfeita compreensão dos seus deveres cívicos».
E assim eu, sem ter procuração para tal, atrevo-me a declarar à Câmara e ao Pais, para que o saibam e o meditem, que esta é uma das razões por que o Sr. Dr. Manuel de Brito Camacho é hoje um desiludido da República.
Por outro lado, a prostituição, a devassidão e o crime cresceram assustadoramente sem repressão e sem freio moral, e...