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Sessão de 7 de Abril de 1921

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valor dos nossos soldados e marinheiros, ficámos surpreendidos com tamanho poder de sacrifício e tam intrépido frenesim de vitória.

De então para todo o sempre, ficaram enlaçados, para os julgamentos da Posteridade, os campos de batalha e as bancadas do Parlamento, e de maneira tal que jamais se ergnerá aqui uma voz, para debater algum grande problema nacional, sem se acordar um eco inapagá-vel e severo no campo onde foram as trincheiras, chamando à circunspecção, à serenidade e à ponderação a consciência daquele que agitar com as suas faculdades de legislador os interesses da sua Pátria.

Fizemos, soldados e legisladores, uma obra comum de que podemos nesta hora desvanecer-nos, mas ela importa à nossa consciência tamanha responsabilidade que será. uma hedionda traição esquecê-la ou preveter-lhe o significado.

Mostrámos, aqui, com as nossas resoluções, que a fé dos contratos é, entre os povos, um tributo de honra, como entre os homens. Amigos '& aliados da Inglaterra, correspondemos logo, sem hesitações, ao apelo que ela nos fez. E nós, que, desde o primeiro momento, nos tínhamos oferecido para secundar o seu esforço, alvoroçadamente caminhámos para seu lado, assim que ela, precisando do nosso auxílio, nos dirigiu um convite formal.

Mas não só ÍSHO.

Sabedores dos riscos —e eles eram evidentes— que corria a Civilização do mundo, quisemos compartilhar dos sacrifícios de quem a defendia.

Talada estava a Bélgica, simpático torrão em que florescia a fina flor da lealdade. Invadida estava a França, o alto, maravilhoso expoente do génio latino. Ameaçada estava a Itália, a mãe fecunda, em cujos seios se gerou a mais nobre concepção de arte moderna. A própria Inglaterra, cujo poder e esplêndida força são indispensáveis ao equilíbrio do mundo, embora sendo inexpugnável no seu altivo rochedo, estava-se dessangrando no melhor da sua mocidade valorosa, praticando o esforço inaudito de dar, pelo voluntariado, em poucos meses —vertiginoso exemplo som igual!— alguns milhões de soldados que correram a inscre-

ver-se nos exércitos britânicos, sob a única pressão do seu patriotismo.

Portugal vibrou então, imediatamente, à contemplação de tanto heroísmo e tanta desgraça. Se a civilização houvesse de se salvar, e nunca disso duvidámos, não queríamos que ela se salvasse sem o nosso concurso; se ela houvesse de morrer, não queríamos que morresse sem o seu cadáver ir também tingido do nosso sangue de combatentes.

Fomos sempre 'assim, sentimentais e fraternos. Tivemos sempre o prazer de nos dar aos outros, acamaradando nos riscos e perigos.

Todos os povos sentem a impregnar-lhes a estrutura étnica, a necessidade de viver. E é por isso que eles vivem.

Nós tivemos sempre mais do que isso, porque temos tido inalteràvelmente a ânsia de conviver. E conviver é, como disse o Poeta, acompanhar, colaborar, fra-ternizar, em suma. Foi por isso que fizemos as descobertas. Por essa razão nos lançámos nas conquistas. E o abraço estreito, comovido, estertoroso quási, com que, por terra e por mar, abraçámos o mundo, não significa mais que o anseio de chamar outros povos até nós, trazendo civilizações inferiores ao rútilo, deslumbrante convívio da nossa civilização de povo eleito, de povo chefe.

Sendo assim, toda a gente .compreenderá que nos deixássemos dominar por excitações heróicas nos começos da guerra c a jóven República Portuguesa fosse arrebatada por uma espécie, de misticismo para as lutas do Dever, esperando, inquieta e nervosa, o momento de ser útil à causa comum.

Outras razões mais fortes e menos sentimentais, porém, nos atraíam para a diabólica mas gloriosa fornalha onde se estavam caldeando novos aspectos do Direito e novas formas da Liberdade.