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Diário das Sessões do Congressoo

Fui sempre contra o messianismo político, que tantas vezes tem perturbado, ao longo da sua história, a vida do povo português.

Acho que é péssimo confiar dum homem o que deve ser atributo de muitos c exigir duma individualidade, por mais poderosa que seja, a soma do trabalho fecundo e o número de soluções perfeitas que só podem resultar da colaboração de todos.

Educado numa escola política idealista, que aliás reconheço a existência de leis inalteráveis, regulando a vida espiritual dos Povos, como as há que regulam a vida dos astros, cedo me habituei a ter em mínima conta as faculdades sobrenaturais dos grandes condutores de homens, que, mesmo quando tem génio, apenas conseguem preparar maior número de escombros para soterrar a sua própria personalidade .que, sepultada nos destroços da catástrofe,.resta diminuta e, tantas vezes, mesquinha.

Mas estou em vos dizer, Senhores Senadores e Deputados, que daqui para o futuro, por todo o muito ou pouco tempo que ainda possa viver, um messianismo fica abrasando, com as labaredas da fé, a minha alma de crente da religião da Pátria.

E o messianismo do sacrifício, da abnegação e do martírio de todos os que sofreram, na guerra, a paixão dos seus inenarráveis calvários, não olhando ao peso da cruz que carregou os seus ombros e só pensando, mesmo nas horas de maior amargara, quam pequeno era o seu sacrifício em confronto com o amor, ini-comparávelmentc maior, devido à terra da Pátria.

Sim, vou ter um messianismo a guiar, a animar a minha vida.

Louvado ele seja por trazer à minha alma atribulada a semente de novos ideais e o estímulo de novas aspirações. Este rião engana. Elo é desinteressado e ó puro, ressumando lágrimas, transpirando sangue, de si fazendo espremer dor e paixão.

E é, ao mesmo tempo, um messianismo triunfal e sadio, partido da alma da Nação, intrinsecamente, fisiològicamente popular, incutindo fé, dando esperança, messianismo cheio de complecência e de bravura, de heroísmo e de perdão.

E quem o encarna são os dois corpos que lá estão em baixo, sagrados-despojos de dois heróis desconhecidos, quean -nimamente1 pelejaram e morreram, como que escondendo-se da sua grande obra, como que fugindo à sua própria glória.

Perante esses féretros eu me curvo, reverente e comovido, pedindo-lhes que nos dêem a inspiração e o alento para a grande obra que há ainda- a fazer.

Faço-o como Chefe do Estado e suponho que toda a Nação, não excluindo qua-quer credo político ou religioso, me acom-anhará nesta comovida oração «Pro-Pá-tria».

E, se é possível separar o homem da condição tam modesta do magistrado de situação tam alta, talvez o homem não destoe inteiramente na missão de, numa prece fremente, rogar, junto ao corpo dos desconhecidos, pela boa sorte da Nação, visto que ele tem procurado realizar uma obra de união e concórdia, e é união e. concórdia o que esses dois féretros nos recomendam nesta hora em que as suas cinzas, recolhidas no campo da Morte e da Honra, nos impõe o dever indiclinável de servirmos todos, sem excepção,.a Pátria, que de todos é, sem excepção também .

Senhores Congressistas j tenho a honra de os cumprimentar.

Ouvem-se repetidas palmas e aclamações.

O Sr. Presidente da República (exclama) :—Viva a Pátria! Novos aplausos e vivas.

O Sr. Presidente : — Está encerrada a sessão.

Eram 16 horas e l õ minutos.