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Sessão de 16 de Dezembro de 1918 7

O Orador: — Eu não sou um ingrato.

Rememoro, com a mais funda saudade a íntima alegria do dia 8 de Dezembro de 1917, alegria de resto, a breve trecho sombreada por um luto cruel de família.

A revolução triunfante não era, evidentemente, o triunfo pleno do meu ideal religioso, ou político, mas era o desafogo duma violenta opressão, desafogo tanto mais de comover quanto; mais inesperado.

Desde que o chamado movimento das espadas, tinha naufragado no 14 de Maio, que fizera reverter o país a uma situação ainda pior se possível, do que o statu que ante, eu, e creio que comigo muitos, tínhamos absolutamente perdido a esperança de salvação.

Apelava-se para qualquer transformação que porventura as futuras, condições da paz pudessem trazer-nos.

Mas apelava-se, vagamente, porque o homem nunca pode renunciar inteiramente à esperança, mas sem convicção, sem nenhuns visos de probabilidade.

Pois a obra que todos reputávamos inverosímil, realizou-a Sidónio Pais num rasgo verdadeiramente heróico.

Foi dêste homem, deste herói, dêste chefe, que uma mão, não sei se mais criminosa do que imbecil, se mais imbecil do que criminosa; nos privou em poucos minutos.

Sr. Presidente ontem num jornal, referindo-se ao atentado: Vingança! Vingança!

Eu não acompanho esse grito, porque a vingança dos homens não realiza a justiça de Deus: (Apoiados).

Clamo, porêm: Justiça! Justiça! (Apoiados).

Mas justiça que não fique a meio caminho, justiça completa.

E é preciso mais atingir aqueles que, pela mais nefasta das propagandas, trataram, de criar a atmosfera, o ambiente propício à realização de tais atentados. (Apoados).

A todos êstes deve alcançar uma justiça que têm de ser inexorável!

Porque, na verdade, corta o coração, reflectir que tendo Portugal, à custa do sangue e de indizíveis sofrimentos dos
seus filhos e à custa de sacrifícios de toda a ordem, logrado conquistar perante o concerto das nações uma situação do maior relevo, corra o risco de a ver estragada às mãos de assassinos que são a vergonha da humanidade!

Sr. Presidente: não há mais de dois ou três dias que eu, discutindo nesta casa o projecto sôbre suspensão de garantias, manifestava as minhas apreensões pela notoriedade que, em consequência de sucessivos crimes e movimentos revolucionários, Portugal ia ganhando ao estrangeiro, notoriedade triste, em contraposição tam lamentável, àquela que, noutros tempos, tinham chamado sôbre esta pequena, mas gloriosíssima nação de feitos dos nossos guerreiros é navegadores.

Mal pensava eu quê a poucos dias de intervalo aquela notoriedade ia ser de tam horroroso modo avolumada! (Apoiados).

Isto é grave, Sr. Presidente!

Tam grave, que todos os rebates me parecem poucos para salientar aos olhos de todos os congressistas as responsabilidades tremendas da hora presente!

Sr. Presidente: eu que não tenho absolutamente nenhumas ambições pessoais de ordem política, eu que, do modesto lugar, que ocupo nesta Câmara, só aspiro à função de aqui pugnar pelas essenciais liberdades católicas que reputo indissoluvelmente ligadas ao bem do meu país, eu tenho porventura, únicamente sob êste ponto de vista, alguma autoridade para clamar a todos desinteresse a abnegação.

Pará longe senhores, todas as ambições pessoais! (Apoiados).

Saibamos medir a grandeza dos sacrifícios que a todos nós nos pede a salvação do país. (Apoiados).

E desde que seja êste o nosso ponto de vista, não nos será difícil unir-nos num pensamento comum. {Apoiados).

Se nesta hora solene é nosso objectivo prestar homenagem à memória do grande homem que foi Sidónio Pais, estou convencido de que será êsse o melhor modo de lhe testemunharmos que a nossa gratidão não morreu com êle, antes lhe sobrevive mesmo à custa dê todos os sacrifícios, para continuar e fecundar a sua gloriosa obra!

Tenho dito.