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10 Diário das Sessões do Senado

Sr. Presidente: já que tal encargo me foi cometido, não será apenas no cumprimento dessa delegação, que eu pronunciarei as palavras que vou dizer, parque satisfarei também um dever muito íntimo do meu coração, obedecerei, a uma como que uma imposição da minha sensibilidade, dizendo a V. Exa. e à Camara que o assassinato cometido na pessoa do Sr. Sidónio Pais foi um dos desastres que, no decorrer da minha vida, mais profundamente me tem impressionado.

Tenho a felicidade de ainda ter os meus pais, vivos e de nunca ter perdido um filho.

Não conheço, por isso, as grandes dores que esmagam o coração ou aniquilam toda a felicidade, duma vida.

Mas creia V. Exa. que a morte do Sr. Presidente da República produziu no meu sistema nervoso o mesmo abalo que me causaria talvez a perda de um amigo querido, arrebatado inesperadamente à minha convivência e ao meu afecto.

Sr. Presidente: eu não soube da morte do Sr. Sidónio Pais se não no dia seguinte ao atentado, pelas nove horas. Percebi que na rua se fazia um desacostumado alarido e que se comentava o bárbaro assassinato com uma vivacidade impressionante; e se alguma cousa me consolou, para que não tivesse de corar de vergonha por ser português, foi o verificar imediatamente que, toda aquela gente, que era na maior parte gente humilde e proletária, se associava aos protestos contra o atentado, com uma indignação igual à que me possuía nesse momento.

Era a verificação iniludível de que a perda do Sr. Dr. Sidónio Pais tinha sido uma perda nacional. Eu vi quanto ela comovera a alma popular, e quanto, a figura gentil ao Presidente morto se insinuara no animem do povo generoso e bom.

E, todavia, seria de presumir, que as pessoas que se não podiam aproximar do Sr. Dr. Sidónio Pais, não conhecessem os dotes que encerrava o seu coração e o seu espírito!

Eu tive ocasião de me aproximar dêle algumas vezes, e, cada vez que o ouvi, tive a impressão nítida de que estava em frente de um homem verdadeiramente superior.

Devi-lhe provas de consideração que não esqueço, mas não é de mim que me cumpre falar agora.

Em nome dos Senadores pela agricultura é que eu preciso de pôr em relêvo a vasta acção governativa de Sidónio Pais, porque não raras vezes se cometeu a injustiça de se dizer que Sidónio Pais não se preocupava com fazer, obra de Govêrno, porque não tinha outra preocupação que não fôsse a da manutenção da ordem pública.

Isto não é verdade, Sr. Presidente!

Sidónio Pais não, fez a imensa obra de Govêrno que podia ter feito, porque realmente a necessidade, de manter a ordem e de garantir a estabilidade da situação política foi, de todas a maior. Mas muito fez, que é preciso que se não olvide nesta terra onde a crítica floresce e os benefícios depressa caem no esquecimento.

Num país onde o espírito de ordem estava desorganizado, num país onde cada conservador se sentia metido, por assim dizer, dentro de si mesmo, mal conhecendo o seu vizinho, êle conseguiu reùnir em volta de si todas essas fôrças que representam a paz social, a vontade de trabalhar e de progredir dentro da lei e da verdadeira liberdade.

Bastaria isto, Sr. Presidente, para ser grande a sua obra.

Mas êle fez mais: deu impulso à assistência pública, criando uma obra admirável de socorro aos inválidos e às criancinhas, a que para sempre ficará ligado o seu nome; pela primeira vez em Portugal deu uma forma orgânica e prática à independência da magistratura judicial; reformou, com a sua intervenção directa, o ensino secundário e superior, nos termos felizes e brilhantes a que acabou de referir-se o ilustre Senador e director, da instrução superior, Sr. Queiroz Veloso; ao exército, a quem tanto devemos, reforçou o espírito militar, aumentou-lhe a disciplina abalada por lutas intestinas, e de soldados pouco garboso, mal vestido, que aí topávamos pelas ruas, fez essa cousa briosa e disciplinada, que é hoje o corpo de tropas da guarnição de Lisboa.

Fez mais ainda: concorreu para a solução dum dos mais importantes problemas da vida nacional, restituindo-a paz à alarmada consciência dos católicos portugueses, e não descurou os mais importais dos aspectos das nossas questões económicas.

Veja V. Exa. Sr. Presidente, para não