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8 Diário das Sessões do Senado

O Sr. Queiroz Veloso: — Sr. Presidente: com sacrifício vim assistir a esta sessão, porque a minha saúde mal mo permitia. Mas, representando nesta Câmara as Universidades portuguesas, entendo que, ainda com maior sacrifício, eu não podia deixar de vir aqui prestar a última homenagem ao professor ilustre da mais antiga das Universidades portuguesas.

Estão de luto as Universidades; está de luto todo o professorado português. E que ninguêm, como o Sr. Sidónio Pais, melhor soube compreender e conjugar os legítimos interêsses do professorado com as mais altas conveniências do ensino.

Sem o mínimo ressaibo de lisonja para a sua memória, é de justiça proclamar-se que nunca as Universidades portuguesas tiveram um Estatuto mais perfeito, uma Constituição mais liberal, uma organização mais flexível, capaz de preencher os múltiplos anos do ensino universitário moderno.

Pois êsse Estatuto não foi, apenas, simplesmente assinado pelo falecido Chefe do Estado. Com pleno conhecimento de causa o posso dizer, pois tambêm tive a honra de colaborar nesse diploma, que a nova Constituição universitária foi por êle considerada em todas as suas minudências, amorosamente discutida em todos os seus fins, promulgada com a absoluta consciência de que o novo Estatuto representava a pedra angular do ensino superior em Portugal.

O mesmo sucedeu com a reforma do ensino secundário e, em geral, com todos os diplomas que refundiram e melhoraram as nossas Faculdades e Escolas. Nunca o professorado português tinha visto, naquele alto cargo, um homem que tam profundamente se interessasse, com tanta sinceridade e tam verdadeiro entusiasmo, não só pela miserável situação material dos professores, como pelos fecundos resultados que duma nova organização do ensino público podiam advir para a reconstrução scientífica e económica da nossa nacionalidade.

Mas o atentado de que foi vítima o Sr. Dr. Sidónio Pais não feriu apenas, dolorosamente, o professorado português: ofendeu a nação inteira.

Como disse o orador que me precedeu, Portugal não é rico de homens notáveis,

E o Sr. Dr. Sidónio Pais era incontestavelmente um homem. Mostrou-o na sua ponderada energia, na rapidez das suas resoluções, no rasgado, das suas vistas, na generosa acolhida com que recebia os deserdados, na intrépida serenidade com que afrontava os maiores perigos. Mostrou-o até na morte! (Apoiados).

Pois é de homens que Portugal precisa, tanto tem baixado, infelizmente, o carácter da gente portuguesa. É desta decadência — triste sintoma de todas as grandes crises nacionais — que resulta êste espírito de desordem, êste fermento de anarquia, esta permanente intraqùilidade, que nos violenta e oprime há alguns anos. A indispensável que êste desvario acabe por uma vez. Assim não se pode trabalhar, estudar, viver! (Apoiados).

Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história. E certo que até hoje uma estrela providencial parece ter velado por nós. Mas não esqueçamos que uma tenebrosa nuvem a obscureceu já, durante uma longa noite de sessenta anos.

Estamos a poucas semanas da abertura da Conferência da Paz. Nela temos o nosso lugar marcado, por legítimo direito de conquista, mercê dos heróicos sacrifícios dos nossos soldados. Pois é nesta conjuntura, quando o mais pequeno deslize nos pode fazer perder a situação ganha à custa de tantos esforços, que um monstruoso crime prostra o Chefe do Estado!

É, preciso, Sr. Presidente, que esta desorientação termine. Por honra nossa, pelo perigo que pode correr a nossa independência, ponham-se de parte todas as ambições e todas as vaidades, unam-se todos os esforços numa desinteressada e generosa conjunção de boas vontades. Só assim faremos de Portugal um país livre, tranquilo, honesto, trabalhador. (Apoiados).

Tenho dito.

O Sr. Machado Santos: — Sr. Presidente: como homem de acção, que até hoje apenas de frente tem sabido atacar os seus inimigos; como homem público que tem como emblema da sua política apenas o estandarte da reconciliação nacional, não posso deixar de protestar contra êsse atentado que veio neste momento vi-