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Diário deu Sessões do 'Senado

Não posso deixar dizer, bem alto e com toda a franqueza, que o ponto de vista apresentado pelo Sr. Cunha Leal era um ponto de vista de bom senso e -de conciliação em que toda a gente, militares ou não militares, poderia ficar bem, só tendo a ganhar com isso o bom nome da pátria, o bom nome da justiça, a disciplina do exército e a verdade.

A minha inteligência, em razão de estar há muito tempo alapado na minha modesta vida da província, não consegue perceber nitidamente o facto político que obrigou a esquerda da outra Câmara a deslocar o eixo da questão e a antepor a uma idea, que para mim não representava qualquer intuito político, mas intenções de absoluta conciliação, uma habilidade para se fazer votar na generalidade a moção do Sr. Jaime de Sousa, apresentada em primeira mão, com um discurso muito arrendado, mas não conseguindo convencer a maior parte da Câmara.

A este Sr. Deputado seguiu-se o Sr. Cunha Leal que, no fim da sua fala, em voz eloquente, muito sentida e vibrando muito bem, apresentou um projecto permitindo que fossem imediatamente soltos os oficiais presos em S. Julião da Barra, com homenagem na área da l.a divisão militar, alvitre a que o meu coração se associou enternecidamente e que permitia, sem risco absolutamente nenhum para as averiguações posteriores, averiguar-se a quem cabiam as responsabilidades e punir quem tivesse de ser punido.

Parecia-me isto muito mais sensato do que um simples projecto de amnistia que .importa o reconhecimento duma pena não definida nem calculada, que os aviadores entenderam, a meu ver muito bem, representar um empanamento nos galões da sua farda.

Nestas questões militares, na minha qualidade de paisano que sempre foi, e agora com a idade que tenho não poderei deixar de ser, costumo sempre neste lugar dizer claramente a minha maneira de ver.

Uma cousa que no meio de toda esta embrulhada me regalava até certo ponto era ver a magistral figura de Gago Cou-tinho fora do todos estes acontecimentos e incidentes. Por desgr,aça, no meio de tudo isto, nem o nome glorioso de Gago Coutinho escapou incólume. O seu nome

foi envolvido e com. pasmo, julgando a confecção dum projecto de lei privativa dos parlamentares, ouvi um orador, aliás exprimindo-se muito bem, e sendo militar, afirmar da sua cadeira de parlamentar | ter aquele projecto sido elaborado pelo almirante Gago Coutinho!

Não me parecem estas afirmações feitas por'um Deputado —não sei se da maioria se doutra cor política— com o eco que essas afirmações têm, ouxpodem ter, saindo do Parlamento, prudentes nem sensatas.

O Sr. almirante Gíago Coutinho, muito prudentemente, estava fora e acima das paixões e paixõezinhas, envolvendo pormenores de várias espécies levantados à roda de factos da aviação.

Não acontece lo mesmo com outras pessoas ; e mais ou menos fui iníormado, e a Câmara sabe que uin dos nossos colegas desta Câmara, general. promovido por distinção, por uma lei aqui votada, e que recentemente ainda comandava a l.a divisão, não se sabe porquê, mas decerto contra sua vontade., deixou de a comandar.

Francamente, não estou a fazer política . . .

Ouve-se um Sr. Senador a rir.

O Sr. Pereira Osório (aparte): — Isso é claro como água de Vidago.

0 Orador:—V. Ex.a ri-se?

1 V. Ex.a não chega a compreender a minha afirmação? Muito o sinto, muito sinto não ver. compreendido por Y. Ex.a o meu estado de espírito, mas asseguro não estar a fazer política e não ser inimigo nem amigo, nem conhecido, nem compadre, nom afecto a qualquer das pessoas em questão.

Não conheço sequer o Sr. Gago Coutinho. Conheci-o há trinta anos, perdêmo--nos de vista, e se uos virmos na rua naturalmente ainda o reconhecerei, tam repetido tem andado por aí o seu retrato, mas ele já se não lembrará de mim.

Não tenho relações de intimidade com o Sr. general comandante da l.a divisão; não conheço sequer de vista o Sr. general que governava o Colégio Militar; não sei se é alto, baixo, gordo ou magro, não lhe sei o feitio. .