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Diário daa Setsôei do Senado

Isto vem a propósito de tendo eu de comparar o meu esquerdismo com o esquerdismo do Sr. Presidente do "Ministério, e surgindo possivelmente dessa comparação alguma divergência, alguém querer tirar partido político do facto quando dessa divergência não haverá conclusão política a tirar.

O programa do Partido Republicano Português fica exactamente sendo o mesmo.

Desta possível discordância, que não envolve quebra de amizade, nada pode resultar também que altere as nossas boas relações políticas.

Disse eu ontem, Sr. Presidente, que queria apoiar o Governo sinceramente, e porque desejo sinceramentB apoiá-lo é que vou fazer algumas considerações sobre o assunto.

No final da declaração miniãterirJ. diz--se:

«O Governo saído do bloco das usquer-das parlamentares ó chamado a realizar o ideal democrático. E não há ideal republicano onde não há justiça social».

Na mesma altura o Governo reconhece que a melhoria cambial não teve reflexos na carestia da vida; que os preços dos géneros se mantiveram, com pequenas excepções, se ó que não pioraram alguns. Declara que defenderá «a causa dos consumidores e dos inquilinos» e quo intervirá «abrindo as barreiras alfandegárias, se tanto for preciso».

Já anteriormente dissera, referindo-se a medidas pela pasta da Agricultura:

«Será preciso que o Estado reivindique pelos convenientes modos jurídicos ái-eas importantes de terras latifundiárias, repartindo-as . . . etc.»

Yem logo adiante assegurar-nos a «liberdade económica», e, tendo-nos anunciado no começo da sua declaração a instituição de um banco do Estado, veni nesta altura dizer-nos que combaterá todos os monopólios.

Promoverá a «expansão das organizações sindicais vantajosas para o Estado», e não terá dúvida em reconhecer n capacidade jurídica dos sindicatos profissionais, etc., etc«

De modo que, Sr. Presidente, no fim de tudo isto —perdoem-me os ilustres membros do Governo e não julguem que estou a fazer crítica mordaz e tendenciosa— depois de feita toda esta exposição à Câmara, o Governo deixa-nos na dúvida sobre qual seja a sua característica político-social, visto que tem um pouco do tudo no seu esquerdismo, isto é, ficamos sem saber se o esquerdismo do Governo é socialista, comunista, sindicalista, anarquista ou se estamos em presença, pura e simplesmente, de um Governo liberal, sendo em tal caso oportuno lem-brarmo-nos de que, para todas estas orientações avançadas, excepto a última, a forma liberal económica é reaccionária.

Em tais termos, Sr. Presidente, tenho necessidade de, sob o ponto de vista es-qusrdista, me descolar um pouco do Governo.

Não tenho que considerar o Governo como partidário, nem como Governo de esquerdas ou direitas; é um Governo composto de figuras que conheço e respeito e -é sob o ponto de vista governamental que vou apreciá-lo.

Quanto ao seu esquerdismo, os factos dirão :jiial ele é, e então terei ocasião de me pronunciar a esse respeito, um Governo, Sr. Presidente, chegado a esta Câmara, vale para nós pelas pessoas que o compõem, pelo apoio que lhe deu a outra Câmara e pela declaração ministerial que nos apresenta.

Querendo encurtar o mais possível as considerações que tenho a fazer, e desejando apreciar a situ.ação do Governo pele, declaração ministerial, lembro-me de reduzir a minha análise a uma espécie de balanço, em que considero como «activo» as forças, quer morais quer materiais, de que o Governo dispõe para executar o seu programa, e em qne considero como «passivo» todas as obrigações que o Governo a si mesmo impõe na soa declaração.

Feito o balanço, eu poderei dizer com toda a franqueza, se o «activo» for superior ao «passivo»: — apoio com toda a dedicação o Governo.