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226 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 31

Resultado em muitos casos não se faz diagnóstico ou faz-se um diagnóstico provisório; às vezes poderá etiquetar-se o doente com um diagnóstico
definitivo ...
Passadas semanas, nova brigada, mas com novos médicos; atendem-se, como é natural, as primeiras consultas; não há tempo de atender as segundas, as terceiras e todas as demais; não há pois possibilidade de completar ou rectificar as observações. E como observar os doentes em tratamento ambulatório antigo, os doentes em regime de ensaio e tantos outros? Como ouvi-los para alteração ou mudança de terapêutica? Como tomar conhecimento das modificações operadas, das intercorrências e de alterações ligadas à evolução da doença?
Qual a repercussão social e humana que se opera nos doentes e famílias que se deslocaram de longas terras, com dificuldades de toda a espécie, até mesmo ligadas às características do doente, e que têm de regressar a casa sem consulta, sem conselhos, sem tratamento e com despesas feitas?
Estes apontamentos, muito esquematizados, só servem para demonstrar que há necessidade de uma cobertura neuropsiquiátrica da Nação mais produtiva e de maior eficiência.

Como?

Criando:

1.º Dispensários centrais junto de cada hospital psiquiátrico;
2.º Dispensários regionais em algumas sedes de distrito;
3.º Dispensários sub-regionais nas cidades ou regiões de grande densidade de população.

O dispensário central, dispensário do hospital psiquiátrico, terá sob sua dependência e fiscalização os dispensários regionais, cada um dos quais superintenderia sobre um grupo de dispensários sub-regionais.
Em cada dispensário regional haveria um ou mais médicos psiquiátricos.
Exemplifiquemos:
Coimbra possuiria um hospital psiquiátrico com o seu dispensário central.
Na Covilhã haveria um dispensário regional, ligado ao dispensário central, e sob sua dependência dispensários sub-regionais em Castelo Branco e Guarda;
Em Viseu, um dispensário regional, ligado ao dispensário central, que teria sob sua orientação dispensários em Lamego e Aveiro;
Em Leiria, um dispensário regional com dispensários sub-regionais em Caldas da Bainha e Figueira da Foz;
Em cada dispensário haveria duas consultas semanais, sempre pelo mesmo psiquiatra, director do dispensário regional; quer dizer com três médicos-psiquiatras, independentemente do pessoal do dispensário central, é possível fazer na zona centro uma assistência psiquiátrica suficiente e dentro das exigências que a psiquiatria moderna recomenda.
Os dispensários poderão ter a sede própria, mas é de recomendar que vivam dentro do hospital local ou fazendo parte de qualquer outra organização de assistência neuropsiquiátrica. Não se deve adoptar uma norma rígida para a integração deste serviço de saúde mental nas instalações sanitárias locais, públicas ou particulares.
A única dificuldade a pôr à execução deste programa de assistência mental está certamente, na falta de pessoal de enfermagem convenientemente preparado sob o
ponto de vista técnico e social, pois é de absoluta necessidade que o serviço seja o mais aberto possível, de maneira que a osmose entre o serviço e a colectividade se torne permanente, obrigue a um contacto estreito e a uma supremacia efectiva sobre o público, de modo a conseguir-se, muitas vezes, a cura do doente sem o retirar do meio em que vive, podendo até actuar sobre esse mesmo meio e impedindo que o estado dos doentes evolucione de forma a tornar indispensável a hospitalização, impedindo as recaídas dos antigos hospitalizados ou procurando mesmo impedir que a doença evolucione até à cronicidade.
Ora estes objectivos não podem conseguir-se com as brigadas em passagem fugaz, mas sim com os postos de observação e tratamento psiquiátrico, onde deve actuar permanentemente o pessoal de enfermagem e do serviço social e, em dias alternados, o médico especialista, o qual tem de estar sempre presente. Só com semelhante organização os doentes serão observados e acompanhados psiquiàtricamente, como convém e o projecto aconselha, com regularidade e frequência.
É da maior importância realizar um certo número de averiguações sobre os doentes saídos dos hospitais psiquiátricos, a fim de inquirir a influência que tem na evolução de cada doença o sexo, a idade do doente, a duração da hospitalização, o tipo de tratamento aplicado, as condições sociais e o meio para onde o doente vai à saída do hospital e ainda a frequência das recaídas e remissões.
Há que averiguar, com relativa precisão, as doses dos medicamentos aconselhadas nas tratamentos extra-hospitalares e bem assim saber dos problemas que surgem para a família pelo uso daquela medicação; há que determinar também as instruções a fornecer à família e bem assim as medidas a adoptar pelos serviços públicos, a fim de serem vigiados convenientemente os doentes com alta, de modo a evitar complicações graves, evitar as presumíveis, proteger o doente, a família, a colectividade, e por fim facilitar a readaptação do doente à vida no exterior.
Ora estas e muitas outras questões de grande interesse para a compreensão e resolução de muitos problemas pelos psiquiatras não podem ser esclarecidas pelos médicos das brigadas, que, em marcha muito acelerada, percorrem em correria o País, sem aquele sossego, tranquilidade e ponderação que a importância dos assuntos exige (as brigadas gastam mais tempo nas viagens que em consultas e tratamentos). Mas todos estes problemas e outros estudos epidemiológicos, sociológicos e sociopsicológicos só podem ser enfrentados com consciência e sucesso através da organização dos dispensários regionais e sub-regionais, como fica preconizado.
E depois ... só com este equipamento e com esta organização será possível aplicar à psiquiatria as técnicas epidemiológicas, obtendo das doenças tratadas e não tratadas de uma determinada colectividade dados, na verdade indispensáveis, para instalar devidamente os serviços psiquiátricos, e bem assim inquirir certas características da população relacionadas com os costumes, a organização social, o ambiente, capazes de ter influência sobre o aparecimento e desenvolvimento das perturbações mentais, e ainda a acção de cada uma delas na sua estrutura etiológica.
As técnicas epidemiológicas constituem pois um instrumento indispensável para se julgar da prevalência e da incidência das perturbações mentais em determinados grupos de população, para se saber do uso que (...)