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12 DE DEZEMBRO DE 1962 227

eles fazem dos serviços existentes e se presumir do provável resultado das modificações ou alterações que forem sendo introduzidas na organização vigente.
Não é pois com as brigadas e nas brigadas que se podem seguir estes novos rumos da psiquiatria de hoje.
O estudo destes doentes exige cuidados muito particulares e o uso de uma táctica e de uma técnica bem especializada. O médico não pode limitar-se a conhecer o doente por fora; precisa de penetrar na sua alma e viver os seus problemas.
Não podem ser vistos cinematogràficamente, em desfile contínuo, por vezes em número de dezenas, em ritmo mais ou menos acelerado. Eles têm de ser vistos pelo médico, e não o médico visto por eles.
«Hay que seguir a los mismos enfermos - dizia Baruk - pues la experiência más fructuosa en psiquiatria es trabajar en profundidad y non en superfície. No se puede juzgar del valor psico-patologico de una vida por haberla observado durante un acto o un entreacto».
A observação do doente, a história clínica do doente, tem de ser completa e perfeita. A biografia incompleta e imperfeita leva certamente a um caminho errado; com ela não se chega à cura. Estes doentes são mais difíceis do que os doentes somáticos. Estes colaboram com o médico; os mentais muitas vezes procuram desorientar o médico. Mas é preciso conquistar o doente, para isso necessita de merecer a sua confiança; não basta estudá-lo e compreendê-lo, é preciso querer-lhe muito; necessita quase sempre mais de ternura do que de remédios. O espírito é o melhor instrumento para curar outro espírito.
Ora os métodos e a orientação de que depende um diagnóstico certo e uma terapêutica activa e eficiente não se podem conseguir no regime das brigadas a serem vistas ... pelos doentes ...
Só a criação sugerida de dispensários poderá conseguir uma assistência psiquiátrica no País com resultados seguros e em curto prazo; só assim se obterá uma obra de profilaxia que oporá um dique ao número crescente de doentes mentais e portadores de anomalias de carácter e de comportamento.
Esta a realidade dos factos, apesar do esforço enorme despendido pelo Estado e pelos médicos, que, com a consciência do dever cumprido, têm dedicadamente procurado vencer a insuficiência e deficiência da assistência psiquiátrica no País!
De quem a culpa?
Do grande número de doentes e do pequeno número de psiquiatras, além de outras razões, comuns em todo o Mundo.
Não vemos razões invencíveis que se possam opor, com resultado positivo, ao planeamento sugerido e a estudar que fica esboçado.
Cremos que nem o factor económico o poderá contrariar, pois a organização das brigadas como funcionam, não será muito menos dispendiosa do que a rede dos dispensários... De resto, o programa pode ser executado em fases, nada obriga a cumpri-lo de um jacto; o que interessa é aceitá-lo e estabelecer um ritmo de trabalhos de maneira a adquirir-se a certeza de que, dentro de um prazo - três ou quatro anos -, todas as cidades terão um estabelecimento de assistência neuropsiquiátrica ligado a uma rede de outros estabelecimentos, que permitam a cobertura suficiente e eficiente da nossa terra para se fazer a profilaxia das psicoses e o tratamento integral dos doentes do espírito.

13. Compreende a Câmara, no entanto, que provisoriamente a cobertura do País por meio de dispensários seja insuficiente. Para este período provisório - e só para ele - aceita a persistência das brigadas, com todos os seus inconvenientes.
Assim se justifica a base XVII do projecto da Câmara.

14. Cremos que a maior dificuldade em se conseguir para breve uma organização psiquiátrica suficiente e eficiente esteja na falta de pessoal técnico, maior e menor, necessário ao bom funcionamento das diferentes unidades psiquiátricas.
Uma enfermeira psiquiátrica não se improvisa, e em nenhum ramo da medicina o papel da enfermagem tem igual importância e exige tão complicada formação. Poder-se-á mesmo afirmar que o êxito do diagnóstico, mas sobretudo da terapêutica, depende da maneira, como a enfermeira souber cumprir.
Os métodos de educação da enfermeira psiquiátrica têm de seguir paralelamente a marcha das doutrinas e da técnica de diagnóstico e de tratamentos usados nas doenças do espirito.
A sua educação tem, pois de estar sempre actualizada.
Que distância da enfermeira simples guarda do doente mental as enfermeiras de hoje, sabedoras dos métodos terapêuticos a aplicar aos doentes, com conhecimentos, técnicos e práticos, da formação e desenvolvimento da personalidade, conhecedoras das técnicas da conduta humana, dos conceitos de angústia, dos aspectos sociológicos da assistência psiquiátrica, dos métodos de trabalho «em grupo», no propósito de se criar um ambiente da vida colectiva análogo ao ambiente para onde o doente há-de voltar!
E depois ... o problema do número de enfermeiras e de auxiliares é grave problema, que, em geral, as administrações não compreendem, podendo o facto originar sérias dificuldades e até impossibilidade de bons efeitos no tratamento dos doentes! Só a enfermeira com as habilitações referidas poderá conhecer perfeitamente os seus doentes e conhecer a sua personalidade, isto é, as suas particularidades, as suas excentricidades, qualidades e sintomas, a sua conduta, as suas conversações e actividade preferidas; só então a enfermeira compreenderá que é preciso respeitar o doente, considerando-o um ser humano, tratá-lo, acarinhá-lo, cuidá-lo com atenção e com interesse e não ... suportá-lo!
A enfermeira precisa, por consequência, independentemente de conhecimentos técnicos, de possuir um conjunto de predicados especiais, que formam a sua vocação, apropriada e destinada a tão delicada missão.
Em tais circunstancias e com tal pessoal, o doente encontra-se protegido, encontra-se acompanhado, e não repelido, como sucede quando, erradamente, se lhe mostra que é um ser à parte das pessoas normais! O doente, em muitos casos, procura refugiar-se e é para a enfermeira que apela nos momentos de maior perturbação.
A enfermeira ouvindo, falando, aconselhando, sugestionando, explicando, torna-se em sua confidente e consegue modificar as desordens de comportamento, as perturbações de conduta... E quantas vezes, inquirindo das causas no passado do doente, das suas relações e reacções com o meio social em que vivia e em que vive no próprio hospital, consegue uma série de dados da maior importância para ser regulado e ordenado o melhor tratamento contra o estado psíquico do doente!