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10 DE MAIO DE 1967 471

que dois terços da população mundial, de 6 a 7 mil milhões de homens, viverão em cidades.
Este novo arranjo distributivo da população implicará ordenamento geográfico diferente e não só influenciará os comportamentos e atitudes individuais, familiares e sociais, mas será também acompanhado de alterações, quer das estruturas e níveis de consumo, quer das próprias relações humanas Desde já podemos verificar que a população urbana cresce rapidamente em todos os países e, por isso, o caso português nem constitui excepção, nem representa um valor extremo.
Pode, em conclusão, afirmar-se que a aglomeração urbana é um traço das economias industriais e que a «cidade» traduz o modo de viver das economias modernas.
Não desejando fugir ao desenvolvimento económico e social - antes o afirmando em cada momento solene da vida nacional -, ter-se-á de aceitar a ideia de que a maior parte dos portugueses virá a habitar em cidades, ou aglomerações de tipo urbano, e de que estas devem ser preparadas para ai se poder viver.

6. A «cidade» adaptada ao desenvolvimento tecnológico e a dimensão económica requerida pelos mercados não pode, porém, ultrapassar os limites que as deseconomias de outra natureza lhe impõem, em particular, não pode pensar-se que a aglomeração de entidades ou elementos característicos da «cidade» do passado possa constituir a cidade do futuro, do mesmo modo que uma aglomeração de carroças não originou o comboio. O homem tem de reinventar a cidade do futuro para evitar, ou que se concretize o que já foi escrito sobre as grandes cidades por um grande poeta «só pensam em si próprias e devoram populações inteiras no seu tormento», ou que correspondam ao que já foi descrito por um grande urbanista «as cidades estão doentes de um mal que não sabemos tratar».
E abundam os retratos destes monstros modernos que enervam os homens, entediam os jovens, mobilizam os seres, minam os valores tradicionais; a delinquência juvenil, as nevroses e as doenças mentais, a poluição e o ritmo intenso, o cancro e as crises cardíacas, são factos que coabitam connosco nas grandes cidades e constituem fantasmas das grandes metrópoles.
Este objectivo fundamental de tornar a aglomeração urbana um local ou complexo social onde a vida possa ser vivida encontra-se em quase todos os planos, directores ou não( das grandes regiões polarizadas numa «metrópole». Daqui resulta a grande preocupação com elementos de natureza não económica, nem tecnológica: a sociologia urbana passou a ter foros de cidade e a constituir um conhecimento indispensável aos planeadores.

7. A esta luz, ganham maior relevo as deficiências ou insuficiências que se apontam no próprio trabalho (veja-se, por exemplo, p 151 do vol. v), as quais «resultaram fundamentalmente da falta de elementos estatísticos apropriados, de estudos mais desenvolvidos a cargo de alguns departamentos interessados nos problemas da região e, sobretudo, da definição da missão da capital e da BUÍ. zona de influência na política de desenvolvimento sócio-económico da Nação, de forma a saber-se, concretamente e com maior equidade, até onde ir no equilíbrio entre o aproveitamento de toda a capacidade desta privilegiada região e o imprescindível amparo, e até ressurgimento, das outras regiões da metrópole», a que esta Câmara se permite acrescentar «das outras regiões ultramarinas». Assim, por exemplo, e no simples domínio das perspectivas demográficas, dificilmente poderá construir-se a «unidade demográfica» da região de Lisboa (no plano estimada em 2 800 000 pessoas) sem se tomar em consideração as restantes «unidades demográficas» previstas ou construídas para a metrópole e para as províncias ultramarinas. Aliás, a própria alteração das condições migratórias da população portuguesa sugere uma profunda revisão das estimativas e projecções feitas no plano director.
À consciência dos limites e do insuficiente enquadramento sócio-económico só pode responder, se pretendermos andar com rapidez e pelo caminho mais ajustado, a solução de fraccionar agora e tentar eventualmente num futuro próximo a imediata inserção deste plano director no III Plano de Fomento e a recomendação de se adoptar uma maior flexibilidade na concretização de orientações preliminares e provisórias, devendo atribuir-se um acentuado carácter dinâmico ao plano director e submetê-lo a revisões em períodos curtos que permitam ajustamentos criteriosos. «Este plano director, na fase actual de estudos, constitui um ponto de partida de uma grande série de esforços consecutivos que lhe são inerentes», afirmação da p 68 do vol. I, que indica a consciência e probidade com que o plano em apreciação foi elaborado e que merece o aplauso desta Câmara.
Vem a Câmara Corporativa acentuar ainda esta necessidade e sugerir que a orientação de considerar o plano director um «ponto de partida» esteja bem presente na mente de todos, de modo a que ele não constitua obstáculo nem ao dinamismo da «própria região, nem ao crescimento desejado de outras zonas do País.

8. Aceitando, portanto, que um plano desta natureza possa passai por fases de aperfeiçoamento sucessivo, que vão desde os inquéritos e análises que permitam a avaliação crítica das necessidades e das actividades, até à formulação do processo de orientação política que origina os programas de execução e as ordens de prioridade, a Câmara conclui facilmente que deverá continuar a alargar-se a tarefa básica de investigação dos fundamentos quantitativos e qualitativos que servem de base ao plano director.
Num plano desta natureza, poderá atender-se, pelo menos, a duas perspectivas distintas.
Uma, em que a aglomeração de Lisboa figura apenas como um todo pontual em contacto com outros pontos de aglomeração e em que, para além desta rede de relações pontuais, concretas e presentes, se encara a rede de relações, potenciais e futuras.
Outra, visa os estudos urbanos propriamente ditos, destinados a analisar o funcionamento e a organização do espaço interno da aglomeração de Lisboa.
Se se adoptar esta orientação, ter-se-á não só de situar, como atrás a Câmara referiu, o desenvolvimento da legião de Lisboa no todo nacional, mas também de ter em conta a repartição de uma população maior num espaço bidimensional imutável, e em particular naquele espaço que caracteriza a aglomeração essencial- a cidade de Lisboa. Se se raciocinar deste modo. podem imaginar-se diversas soluções de crescimento urbano, que vão desde n instalação de uma Lisboa nova (ou Lisboa paralela) até à criação de «cidades novas» mais ou menos afastadas, passando pela inserção no núcleo citado de aglomerações próximas em expansão natural e pela urbanização em continuidade com a metrópole actual e estruturando-a através de novos ou antigos centros urbanos Afigura-se a esta Câmara que o plano director teve como objectivo louvável limitar o crescimento anárquico da aglomeração de Lisboa,