472 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 51
substituindo-lhe uma expansão radial apoiada num pequeno núcleo de satélites, e segundo eixos definidos de urbanização. Mesmo sem pôr em dúvida esta concepção esboçada no plano director e que continua, segundo parece, a concepção traçada no plano da grande Londres (cf. Relatório Barlow, 1937 a 1939), não deve duvidar-se de que este tipo de desenvolvimento urbano nucleado não tem anulado, económica e culturalmente, a atracção pelas metrópoles e que, portanto, com a maior força surge a conveniência quase indispensabilidade de inserir também o plano director da cidade no plano director da região.
9. Aliás, o objectivo temporal distante do plano director da região - cerca de vinte anos - significa a adopção de uma perspectiva de longo prazo que envolverá, portanto, uma evolução significativa na estrutura e funcionamento da actividade económica e da vida social. Isto é, não se pode limitar o plano a uma extrapolação linear dos necessidades ou das estruturas presentes e ter-se-á, antes, de o tornar vivo, prevendo novas formas de convivência social e de habitat urbano.
Não se duvida da dificuldade de prever as constelações de necessidades do homem citadino nos fins deste século (ou mesmo em 1985). Tudo indica, porém, que, pelo menos nas economias europeias, ir-se-á caminhando para sistemas de abundância, conforto e recreio nível de vida elevado e necessidades diferentes individualizadas a par de um consumo de massa de bens materiais e de serviços colectivos Estas perspectivas concentram-se, porém, em funções usuais da vida urbana habitação (no sentido amplo), circulação e cultura do corpo e do espirito Na alteração dos padrões actuais de consumo virão a tomar grande predomínio (em detrimento da percentagem se, actualmente destinada a consumos alimentar,) as despesas de alojamento e equipamento doméstico, comunicações, saúde, higiene, educação e recreio ou divertimento.
Uma vida mais longa, uma actividade mais curta, quer pela escolaridade mais ampla, quer pela permanente necessidade de aquisição de novos conhecimentos, quer pelos progressos de produtividade e redução dos horários de trabalho, eis um panorama que merece a quase unanimidade de opiniões dos estudiosos do futuro Isto é, tudo indica que se caminhará para um sistema de educação permanente em que a vida familiar, social e profissional e a própria ocupação do tempo livre constituirão um todo harmónico ao binómio tradicional residência local de trabalho irá sobrepor-se a trindade residência local de trabalho locais e modos de ocupação de tempos livres. A consideração deste novo elemento poderá ter maior ponderação nas linhas orientadoras do plano director e merecer ao governo atenção cuidada para evitar a construção de desertos culturais ou a estratificação demasiada das subaglomerações urbanas.
10. For outro lado, a transparência do mundo de hoje e o estreitamento dos contactos económicos e humanos indicam que a formação de um indivíduo implicará uma dimensão espacial diferente, necessitando de um conhecimento de línguas, costumes e factores culturais alheios aos nacionais e uma intermutabilidade de aprendizagens e diplomas. A «Comunicação» em todos, os sentidos terá de se inserir na cidade do futuro, o que dá um sentido ainda mais amplo à trindade atrás referida da residência-trabalho-cultura e recreio. De tal maneira esta evolução da vida social e urbana se tem processado que os geógrafos começam a falar da mutação e afirmam assistir-se a um fenómeno novo. uma maneira diferente de ocupar o terreno, onde surgem novas designações, como metrópoles, tecidos urbanos, megalópoles e nebulosas polinucleares. Esta evolução ou mutação leva a transformar a psicologia e o comportamento dos homens perante um meio híbrido, novo para muitos e, acima de tudo, artificial para todos, daí quê o habitante destas nebulosas se sinta desenraizado nesta fase de transição, em que a concentração urbana modificou radicalmente as relações do homem com a natureza que eram um dos fundamentos da cultura tradicional. Ar poluído, ruídos intensos, climas artificias, urbanização dos campos, espaços artificialmente construídos, mobilidade restringida, levam os indivíduos a perder autonomia, perda ainda mais acentuada pelo desenvolvimento dos transportes colectivos e da informação de massa.
Isto é, novos laços se estabelecem entre os homens e entre eles e a natureza O homem, após ter lutado para conquistar o acesso ao consumo de bens materiais, passará a sentir ainda mais intensamente a necessidade de valores espirituais, intelectuais e culturais, e procurará relações sociais mais intensas e simultaneamente mais personalizadas.
Por outro lado, os campos, os espaços verdes, o mar, a floresta e a montanha serão complemento indispensável da aglomeração citadina, o que conduzirá a alterar radicalmente a nossa concepção de cidade e de vida urbana.
11. A previsão da economia de uma região é certamente mais difícil de estabelecer do que as projecções demográficas, pela simples razão de que podem produzir-se naquele domínio mutações mais rápidas e dependentes do que nas estruturas demográficas Estas últimas previsões assentam em reduzido número de hipóteses quanto a natalidade, mortalidade e migrações, enquanto a economia virá a depender não só da própria evolução demográfica, mas também do progresso técnico geral e sectorial e das suas repercussões nas produtividades, nos preços, cos custos, nas estruturas do consumo, nos níveis e distribuição de rendimentos e até nas evoluções comparadas destas variáveis entre regiões do menor de um mesmo país ou de diferentes países.
Entre estes elementos, a aceleração do progresso técnico tem representado factor de grande variabilidade das localizações da economia moderna, resultando daí um elevado grau de incerteza quanto à forma e natureza dos sectores comparativamente mais adequados a uma dada região podem, no entanto, esboçar-se grandes tendências na composição da produção de bens e serviços interdependente com a alteração dos padrões de consumo. Por um lado, os inovações técnicas conduzirão a processos mais automatizados e mais bem organizados na produção, o que acarreta, na composição dos factores humanos de produção, uma deslocação para um predomínio mais acentuado do sector terciário, por outro lado, as alterações das estruturas do consumo ligadas com a modificação da técnica trazem consigo dinamismos de sectores bem determinados, como, por exemplo, os relativos a novas formas de energia e explosões de actividades industriais novas, como a electrónica e as químicas.
Estes novos elementos virão a intervir na localização de actividades, e portanto através do binómio residência-trabalho, no ordenamento urbano. Estas actividades novas, representando investimentos, não exigem uma localização semelhante às anteriores indústrias e nada impede, a priori, que se procurem descentralizações mediante novas indústrias em lugar de transferências de instalações antigas, para poder imaginar-se uma nova