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11 DE FEVEREIRO DE 1955 583

Noutras zonas as águas remancham, e na sua calma depositam as matérias sólidas que carreiam, e ura são partículas esterilizantes de areia ou rocha, ora são - cada vez menos - os autênticos nateiros, todos carregados de detritos orgânicos fertilizantes e correctivos.

Ainda noutras partes correm nem tão lentas que deixem depósito, nem tão rápidas que. rasguem o chão, mus sempre afogando as searas, matando as plantações herbáceas.

Na sua invasão as águas das cheias formaram o continuam modulando a planície ribatejana, estando calculada em 40 000 ha a área sobre que podem espalhar-se, só naquele troço do Tejo médio, entre Tancos e a foz do canal da Azambuja, ao longo de 72 km, em cujas aluviões se encontram quase todas as vinhas ... não chegarei a dizer incriminadas.

E é tempo de referir que as estimativas de que pude socorrer-me me não computam em mais de 10 000 ha a parte desta superfície plantado de vinhas, sendo, pois, oportuno pôr a pergunta: porque cultura dita tão boa e tão fortemente ligada em muitos espíritos, segundo parece, ao aproveitamento das várzeas ribatejanas só ocupa efectivamente uma quarta parte da sua totalidade, se é que a, tanto chega?

Direi que por, na verdade, só excepcionalmente SB plantarem no Ribatejo vinhas em terrenos efectivamente dotados de outras possibilidades económicas de exploração.

Um exame mais aproximado mostra que nas zonas das terras do Ribatejo onde o terreno é mais fértil pouco se encontra vinha.

E rara nos campos da Golegã, escassa nos campos da Chamusca; pouca se encontra nos de Salva terra ou Benavente e na melhor parte dos da Azambuja. Onde há vinha com dominância cultural é no concelho de Alpiarça, no de Almeirim, em campos de Vaiada e alguns de Santarém, nas manchas de aluviões fracas, onde a baixa produtividade não permite contrabalançar a incerteza de as culturas arvenses chegarem a termo, pelo risco das cheias.

Esta é que é a verdade sobre a cultura da vinha no Ribatejo.

Ali, como por toda a parte, ama-se a terra e respeita-se pelos frutos que pode dar; onde ela ú realmente capaz de criar pão raros se têm atrevido a desviá-la para a vinha, e esses mesmos só em tempos recentes, sob a influencia das circunstâncias em que os homens e a natureza todos pareciam votados a desanimai- a cultura cerealífera. Mas depressa descobriram que nessas terras, de que a vinha não será digna, também o vinho não é o melhor.

O Sr. Camilo Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

Muito agradecia a fineza de me responder a estas duas perguntas: primeiro, se de há quatro anos a esta parte V. Ex.ª tem verificado qualquer aumento nas plantações naquelas áreas que aqui têm sido condenadas como indicadas para a vinha; segundo, se a plantação nestas zonas não teria sido preterida por outras culturas na hipótese de os preços nu de os rendimentos que o agricultor pudesse auferir estarem proporcionado.

O Orador: - Posso responder que na área das minhas observações mais imediatas só tenho visto fazer plantio de vinha em terras fracas e depois de se verificar em anos sucessivos que as culturas arvenses não eram satisfatórias.

Onde a terra é rica e fértil disputam-na quase com violência; que o digam os proprietários, muitas vezes pouco menos que insultados se não se prestam a arrendar ou dar de parceria, para o melão, para o tomate., para o pimento e ainda há pouco - mas já não infelizmente! - para o cânhamo, os terrenos que lhes silo propícios.
Tanto quanto eu sei, há zonas do Ribatejo que estão de facto plantadas de vinha, porque o rendimento em face dos preços das retribuições concedidas à cultura cerealífera, não aconselha esta cultura.

O Sr. Camilo Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

Há uma coisa que eu não percebo. Se cada uma das zonas afirma não ter excedido o limite devido na plantação, como é que no conjunto se tira a ilação de que o equilíbrio não foi respeitado?

De duas uma: ou a conclusão geral que cada um tira não está certa, ou varia zona tem plantado mais do que seria consentido pela persistência do equilíbrio da produção.

Ora, se esse limite não foi excedido, então há um exagero na conclusão que se tem alardeado ...

O Orador: - Eu já disse a V. Ex.ª que não venho aqui contribuir para o estudo geral rio problema vitícola. Desejo apenas restabelecer n verdade o apresentar algumas considerações que possam evitar que sejam prejudicados as soluções a dar à crise vinícola. Este ó que é o meu discurso.

O Sr. Camilo Mendonça: - ... mas se os limites foram excedidos, não percebo como é que dentro de cada zona só afirma que não se plantou em demasia. De resto, a viticultura não é nem pode sor um caso â parte na agricultura portuguesa.

O Orador: - Nesse ponto posso estar de acordo com V. Ex.ª e, de facto, estou.

Mas V. Ex.ª tem todo o direito, como ou, do vir a esta tribuna apresentar os sons pontos do vista, e estou convencido até de que o discurso de V. Ex.ª ganharia muito mais em ser feito duma só vez do que a prestações.

O Sr. Camilo Mendonça: - Posso colaborar das duas formas.

O Orador: - Na minha convicção do que se passa no Ribatejo, a propósito venho pedir a vossa atenção para algumas fotografias, que melhor do que as minhas palavras mostram que o Tejo pode ser duro, embora só se tenha querido falar dele como pretenso elemento fecundante das terras.

A vista desses extensos areais, obra de poucos e recentes Invernos, desses largos canais rasgados, dessas árvores derrubadas, dessas hortas perdidas, em que o assoreamento chega a encher até aos bordos os próprios tanques de rega, é que quero a afirmar e levar à consciência de VV. Ex.ªs e à vossa inteligência a noção do contrário daquilo que é frequentemente afirmado: a inundação não é só melhoradora, nem os seus danos são todos de fácil ou rápida reparação.

O decantado nateiro, suposto fautor principal da riqueza do vale do Tejo, essa terra gorda arrancada às chãs, às encostas e às várzeas das Beiras e do Alto Alentejo, quase tem desaparecido com a própria fertilidades dessas terras, pela intensidade da erosão e da cultura, despojadas quase até aos ossos, que são as lajes penedos do Centro, como, a propósito, escreveu um clássico seiscentista. Já não vive o Ribatejo da carne do outras regiões, que a não tom mais para lhe dar com a generosidade de outrora.

Hoje são limitadas as áreas áreas se deposita verdadeiro nateiro e alargou-se: constantemente aquelas onde só fica areia, vinda de longe mi arrancada de alguma alverca rasgada pouco atrás.