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760 DIÀRIO DAS SESSÕES N.º 80

S. C. O., cujo objectivo ó "contribuir para a paz e segurança, promovendo a colaboração entre as nações por meio da educação, da ciência e da cultura". E este pensamento desenvolve-se nas seguintes razões:

. . . porque as guerras começam nos espíritos dos homens, é nos espíritos dos homens que devem assentar a" defesas da paz;
. . . .porque o desconhecimento das maneiras de ser e de viver dos outros povos tem sido, ao longo da, história da humanidade, causa vulgar de suspeita e desconfiança que transformam muitas vezes em guerras as desavenças entre os povos;

. . . porque uma paz baseada exclusivamente em acordos políticos e económicos de governos não seria paz que obtivesse o apoio unânime, duradouro e sincero dos povos do Mundo, e, portanto, a paz deve assentar, para não se perder, na solidariedade intelectual e moral dos homens.

É facto que os povos comunicam hoje facilmente, e rapidamente entre si pela rádio, pelo cinema, pela imprensa e pela aviação, a não ser em casos bem conhecidos de governos despóticos e tiranos.

Mas, mesmo entre os povos livres, e sobretudo entre os povos livres, é necessário que as informações sejam verdadeiras e justas. Quanto melhor se conhecerem mais se hão-de compreender e estimar; e assim se irão atenuando velhos ódios resultantes de incompreensões e erros do passado, e a imagem artificial do Estado será substituída pela imagem humana do povo que trabalha e vive com ideais comuns.
As relações culturais não constituem uma duplicação das relações tradicionalmente asseguradas por missões diplomáticas e comerciais. Não podendo substituí-las, podem em todo o caso facilitá-las e fortalecê-las, dando-lhes bases de entendimento mútuo e compreensão amigável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São razoavelmente conhecidas, por terem sido estudadas com desenvolvimento em Portugal e na Grã-Bretanha, as relações políticas, diplomáticas e comerciais entre os dois povos, bem como os laços de camaradagem militar que há muitos séculos os unem.
As relações culturais, isto é, literárias, científicas e artísticas, são talvez menos bem conhecidas entre nós, mesmo por aqueles que não desconhecem a contribuição formidável que a Grã-Bretanha tem dado para se formar o conjunto de aquisições intelectuais e artísticas que constituem a civilização actual.
A verdade é que tem havido sempre, com maior ou menor intensidade, relações culturais e intercâmbio de escolares entre os dois países, com influência directa e imediata na vida dos dois povos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No século XV já havia estudantes portugueses nas Universidades de Cambridge e Oxónia. Desde os fins do mesmo século, pilotos e cartógrafos portugueses, formados nas escolas portuguesas, estiveram ao serviço da Inglaterra e colaboraram nas suas expedições marítimas. No século XVI André de Gouveia trouxe para Coimbra o maior Humanista que a Escócia produziu: Jorge Buchanan. A peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. publicada em 1614, teve edições em inglês a partir de 1625.
A primeira tradução inglesa de Os Lusíadas apareceu em 1650, e -deve-se a Ricardo Faushawe, que foi secretário da Embaixada em Lisboa. Ao fluxo de cristãos--novos e outros de Portugal para a Inglaterra correspondeu na mesma época, entre 1590 e 1720, um fluxo de jesuítas botânicos que vieram ensinar nas escolas portuguesas.
Nos séculos XVIII e XIX muitos portugueses foram sácios da Sociedade Real de Londres e muitos foram também os britânicos sócios da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Não é este o lugar apropriado para relatar com pormenor aquilo que qualquer dos países ganhou com o intercâmbio cultural com o outro. Mas há um facto de relevo que não posso deixar sem referência.
A partir de 1790 seguiram para Londres e Edimburgo, como pensionistas do Governo da Senhora D. Maria I e da Casa Pia de Lisboa, muitos estudantes e cirurgiões portugueses, dos quais dez, pelo menos, se doutoraram em Medicina em Edimburgo, entre 1793 e 1812. O contacto directo com mestres, escolas e hospitais britânicos intensificou a expansão da literatura médica inglesa em Portugal, cujo iniciador fora Jacob de Castro Sarmento, em 1742.
Escreveu o falecido Prof. Ricardo Jorge, da Faculdade de Medicina de Lisboa: "Foi sob tais auspícios que se estabeleceram em 1S25 as Reais Escola" de Cirurgia de Lisboa e Porto. Todo o movimento ascensional operado desde então até hoje na instrução e no exercício da profissão em Portugal teve por primeiro agente essa impulsão inicial recebida da ciência britânica".

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Modernamente não se interromperam as relações culturais luso-britânica. e antes se intensificaram, graças sobretudo aos esforços e à acção esclarecida do Instituto de Alta Cultura, pelo Governo Português, e do British Council, pelo Governo Britânico.
Os aspectos mais salientes dessas relações têm sido a criação de cadeiras e leitorados de Português em Universidades britânicas e a manutenção dos Institutos britânicos, em Lisboa e -no Porto, e da Casa da Inglaterra, em Coimbra; a realização de conferência, exposições e concertos de alto nível cultural e educativo, e a concessão de bolsa de estudo, de longa ou curta duração, nos dois países.
Reatou-se nomeadamente a preciosa e antiga tradição de intercâmbio de estudantes, profissionais e investigadores. E não tenho dúvida em afirmar que muito lucrarão os dois países em manter e reforçar ás relações antigas e actuais.
A Grã-Bretanha deu ao Mundo pelo nascimento ou pela formação, poetas, dramaturgos, romancistas pintores, físicos, químicos, médicos, biólogos, engenheiros, arquitectos. filósofos, historiadores e economistas, que são grandes nomes na história da civilização, e muitos deles dos maiores que a humanidade tem produzido. A lista, mesmo redimida aos mais eminentes, seria longa de mais para ser reproduzida aqui.
Mas há um índice que corresponde a um conceito de carácter internacional. À Grã-Bretanha foram atribuídos, desde a sua criação. há cinquenta anos, 16 prémios Nobel em Física, 9 em Química, 13 em Medi dm a (entre os quais Sir Alexandre Fleming, descobridor da penicilina, recentemente falecido), em Literatura (entre os quais Sir Winston Churchill, Primeiro-Ministro do Reino Unido) e 7 na Promoção da Paz. Ë uma glória que qualquer outra nação do Mundo não poderá contestar à Grã-Bretanha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tudo quanto se faça para promover e facilitar as relações culturais luso-brilânicas redun-