O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1036 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 100

me, com a Câmara, pela maneira como se saiu da responsabilidade que sobre ele impendia nesse delicado momento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente:-Inútil acrescentar quanto a magna sessão conjunta ficou a dever à palavra de oiro e à autoridade do eminente académico e Digno Procurador à Câmara Corporativa Sr. Dr. Júlio Dantas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Paulo Rodrigues: - Sr. Presidente: completa-

se hoje, precisamente, um século sobre o dia era que, nu vila do meu circulo que é agora a cidade das Caldas da Rainha, nasceu o grande pintor José Malhoa.
Numa casa modesta, à sombra tutelar da velha matriz de Nossa Senhora do Pópulo, nasceu de pais humildes José Vital Branco Malhoa, e a história da sua juventude é a história de tantos que só a preço de vontade tenaz conseguem fazer render e impor os seus talentos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem novo o mandaram para Lisboa e aqui, onde o destinavam ao oficio de entalhador, ensaiou Malhoa os primeiros passos duma carreira de artista que havia, de tornar-se gloriosa.
Nascido na região tão linda daqueles velhos coutos onde os frades de Alcobaça ergueram, nos alvores da nacionalidade, a escola primeva do nosso ruralismo, Malhoa, no seu talento omnímodo de grande artista, iria ser, sobretudo, o pintor da terra e da gente portuguesa, na» suas alegrias e nas suas penas, exaltando, em milagres de cor e de luz, a própria vida da grei.
Pintor por vocação, Malhoa legou-nos uma obra prodigiosa : durante sessenta anos - que tantos decorreram entre o primeiro e o último quadro do mestre- cerca de dois mil trabalhos seus enriqueceram o património artístico deste pais.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-Traduzindo, em humana linguagem, na expressão mais rica das cores e dos tons, os reflexos da beleza infinda de Deus, pode dizer-se que nenhum género de pintura foi estranho à obra fecunda de Malhoa: desde a paisagem ao retrato, desde os motivos religiosos (recordo ao acaso), como os retábulos do «Baptismo de Cristo» e de «Nossa Senhora da Consolação», aos temas nacionais e históricos, como «Â partida de Vasco da Gama para a Índia» e «O descobrimento do Brasil», até aos quadros magníficos da vida simples dos campos, como «As promessas», «A volta da romaria», (Festejando o S. Martinho» e tantos, tantos outros, onde sobre todas as centelhas do seu génio ficou marcado o portuguesismo deste grande pintor português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nascido nas Caldas da Rainha e vivendo grande parte da sua existência na linda vila de Figueiró dos Vinhos, Malhoa trazia no sangue e nos olhos o sentido mais alto da luz que do céu se espalha a jorros sobre aqueles campos férteis do nosso distrito; por isso a expressão suprema da sua mensagem é o serviço e louvor da beleza das coisas criadas - quase um novo cântico do sol, vivido em franciscana, humilde singeleza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando um dia Malhoa quis retribuir a afeição do povo da sua terra, ofereceu-lhe, cm nobre simbolismo, o retrato majestoso da Senhora Rainha Dona Leonor - figura altíssima da caridade, da caridade que é na escala cristã a maior das virtudes e, tendo inspirado a instituição genial das suas Misericórdias, permanece na moderna assistência social, através de todos os progressos da técnica, como o espirito quo vivifica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A gente da minha terra, que a rainha fundou e onde o artista nasceu, junta-se agora, em consagração unanime, a Festejai e honrar a sua memória.
Já essa homenagem se alarga por Portugal além.
E eu sinto que obedeço a claro imperativo das gentes do meu circulo ao evocar nesta alta Camará - e faço-o com sincera emoção- o nome do grande artista e grande português que foi José Malhoa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ernesto de Lacerda: - Sr. Presidente: passando hoje o centenário do nascimento do grande mestre da pintura portuguesa José Malhoa, seja-me permitido, em simples mas sentidas palavras, prestar tributo de sincera homenagem à sua memória.
Além da minha qualidade de Deputado, eleito pelo círculo de Leiria, onde Malhoa nasceu, viveu uma grande parte da sua vida e morreu, uma outra circunstância, de especial significado para o meu espírito, me comanda o dever de evocar o seu nome e ;i sua obra nesta Assembleia, no dia em quo se estão realizando várias cerimónias comemorativas do seu centenário.
É que, se Malhoa nasceu na formosa cidade das Caldas da Rainha, se viveu muito do seu tempo em Lisboa, ele passou a maior parte da sua vida de artista insigne em Figueiró doe Vinhos, a linda vila do norte do distrito de Leiria, que é a minha terra natal, e foi nela que realizou n mais valiosa parcela da sua obra admirável, e nela, na sua vivenda «O Casulo», se lhe fecharam para sempre os olhos, em 20 de Outubro de 1933.
Figueiró dos Vinhos foi, assim, pode dizer-se, a terra adoptiva do grande artista, terra que ele amou carinhosamente, a ponto de dela fazer o seu viveiro de arte, pois nela encontrou, nu sua paisagem de maravilha, a luz que ilumina as suas tela» de beleza verdadeiramente incomparável.
Malhoa foi a Figueiró pula primeira vez por sugestão de outro grande artista, o ilustre figueiroense o escultor Simões de Almeida, seu professor de Desenho, e tão encantado ficou com os vastos horizontes, a pureza dos ares, a luminosidade do sol e a exuberância da vegetação que emoldura esta terra, que a ela só prendeu para sempre e com seus pincéis de ouro, em verdadeiros poemas de arte, gravou e imortalizou as belezas naturais, os costumes tradicionais e os tipos característicos desta formosa região.

Daqui o tributo de veneração e de homenagem que, de forma especial, é devido pêlos figueiroenses à memória desse extraordinário pintor naturalista, cuja presença parece ainda hoje sentir-se na contemplação das coisas belas eternizadas pela mugia do seu pincel na galeria prodigiosa da sua arte.
Figueiró dos Vinhos não esquece, nem poderá jamais esquecer, o que deve a Malhoa, como intérprete genia dos encantos da sua paisagem, que ele tão bem soube reproduzir em criações de beleza sem par, que são da