12 DE JULHO DE 1956 1275
e ai se lançam, apressados, a oferecer os seus braços, o sen sangue e a sua existência para servirem o próximo.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:- E em toda esta faina, regra geral, têm de lutar com a carência de todos os recursos. Os subsídios e auxílios do Estado são sempre diminutos para tão grande e numerosa família, e dai vá de encarniçarem-se em dar vida à sua própria fé, havendo para tanto de bater à porta dos corações generosos para que os ajudem na aquisição dos seus meios e instrumentos de luta, e dai vá de dar voltas à imaginação para que a atracção das quermesses, das festas, das competições desportivas, etc., possa alimentar os sempre magros fundos da sua organização, na qual o serviço da colectividade consome constantemente combustíveis, deteriora e corrompe os materiais, exige imperativamente modernização e actualização de meios que possibilitem a sua acção.
Ao voluntarismo e à coragem física somam-se na exigência a tenacidade e a força moral para que não soçobrem.
Este magnifico espirito seria, por si só, elemento suficiente para que os Poderes Públicos olhassem este agrupamento de homens com o maior interesse e o maior desvelo, dando-lhes, senão o material mínimo de que carecem, ao menos todas as facilidades legais que fosse possível, e cito a propósito a isenção de taxas e licenças, a concessão de carburantes e óleos com benefício de preços, etc.
Mas, se a segurança de muitas vilas repousa ao presente nas suas corporações de bombeiros, quero lembrar que amanhã, em épocas trágicas e tempestuosas, a segurança das próprias cidades pode repousar, e em muito, na acção dessas mesmas corporações. Refiro-me, particularmente, ao caso de defesa da Nação contra os efeitos da guerra.
Muitas pessoas se apavoram com as explosões atómicas. Quero, porém, lembrar que estas, pela sua instantaneidade de acção, permitem ao socorro que monte imediatamente uma operação de ataque, com vistas ao salvamento, e desde logo, por utilização de colunas móveis vindas do exterior, dê início ao combate às radiações e aos focos de incêndio.
Porém, os exemplos de Hamburgo e de Berlim, na última guerra, e as lições tiradas da guerra da Coreia provam que as tempestades de fogo, conhecidas pelo nome de t ciclones de fogo», são muito mais graves.
Os incêndios provocados por bombas de térmite e mais modernamente por napalm, atingindo as mais altas temperaturas, exigem um combate que é difícil e moroso. Recordo, a propósito, que Hamburgo ardeu de uma só vez por oito dias consecutivos.
É nessas horas graves que se torna necessário concentrar todos os meios do serviço de incêndios, já não duma cidade, porque são absolutamente insuficientes, mas de todo um distrito ou de toda uma região do Pais.
Por isso, na prevenção destes males, urge ao presente encarar o valor efectivo que as corporações de voluntários representarão em circunstâncias tão graves e, como tal, encarar problemas que não podem ser relegados para soluções de última hora.
Por isso chamo a atenção do Governo para o facto, que é do maior interesse nacional, e ouso solicitar que se concedam a estas corporações:
1.º Facilidades que importa dar ao recrutamento destes voluntários, assegurando-lhes posição legal nos interesses da defesa nacional e como tal libertando-os das obrigações militares em caso de mobilização geral, pois devem ser afectos à mobilização da defesa civil. Outras soluções compensadoras, de natureza moral e legal, que lhes devam ser conferidas, a fim de facilitar o seu recrutamento;
2.º Facilidades na obtenção dos materiais, veículos e combustíveis, a que já fiz referência. Deve, porém, neste particular procurar obter-se a uniformidade nacional de materiais e meios de acção, para que não suceda, como no presente, que os calibres das bocas de incêndio, sendo diferentes de vila para vila e de cidade para cidade, possam vir a dificultar ou impossibilitar a utilização e emprego das corporações na concentração da luta contra o fogo numa cidade atacada por um «ciclone de fogo»;
3.º Uniformidade de ensino e de adestramento em todo o País, com as correspondentes exigências de cultura e conhecimentos técnicos, para os graduados e comandantes;
4.º Mais acentuada protecção em subsídios, reforçados pelo próprio Estado, como segurança da defesa colectiva, e buscados fora dos apertados limites até aqui estabelecidos pela verba anual recebida legalmente dos impostos de seguros. A margem tributária dos seguros parece-me ainda longe de atingir as suas possibilidades, e demais se atendermos a que os magníficos e poderosos imóveis em que as companhias hoje transformam os seus lucros sofrerão amanhã dos mesmos males dos seus segurados em caso de guerra.
Todos os meios que aponto servirão para difundir e cultivar esse magnífico espírito de voluntarismo, que é honra e orgulho nacional e que tanta gente ignora ou esquece.
No voluntarismo destes homens ingressaram figuras nobres e generosas, que lhe deram tradições e história. Refiro-me, entre outros, ao infante D. Afonso, 1.º comandante dos Voluntários da Ajuda, que chegou ele próprio a acorrer a quase todos os sinistros, guiando o carro dos voluntários; a Guilherme Cossoul, Marcelino Mesquita e José Elias Garcia, dos Voluntários de Lisboa; a Mariano Costa, dos Voluntários de Campo de Ourique; a Eduardo Pinto Bastos e Eduardo Macieira, dos Voluntários Lisbonenses, etc.
E, quanto ao Porto, não posso esquecer a figura de Guilherme Gomes Fernandes, dos Voluntários do Porto, que deixou afamado nome internacional.
Todo este belo e generoso espírito precisa de encontrar o carinho da Noção, e temos de nos convencer de que, a par dos cuidadosos progressos e do melhor interesse pelos corpos permanentes, não podemos deixar de contar com as corporações dos voluntários.
A sua têmpera e a sua fé merecem o apreço do País, mas a sua dedicação e a sua prestimosa acção, no caso da defesa nacional, exigem o interesse da Nação, para que esta organização viva e subsista.
Estas palavras têm o seu sentido próprio neste final do seu 12.º Congresso Nacional, no momento em que o mundo se vê dividido em campos tão opostos e em que a humanidade se debate em crises de materialismo e de ambição, que chegam a apavorar as consciências sãs.
Verificarmos, pois, que nesta terra portuguesa existem milhares de homens que não pensam em si, mas na vida do próximo, que pairam com seus ideais e sua fé viva acima das mesquinhices do mundo, é sentirmos que aqui, na nação lusitana, ainda existem muitos dos valores morais que fazem a vida e a história dos países.
Ao vermos, pois, florescer esse generoso voluntarismo bem podemos afirmar que ele tem de viver e subsistir,