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12 DE DEZEMBRO DE 1956 111

drama e, sem detença, tomam posições, com clareza, a ponto de apanharem de surpresa os partidos comunistas, como o próprio Kremlin, e contagiarem, aqui e além, elementos pró-comunistas.
Raro se tem visto mais espontânea, sentida e generalizada manifestação de solidariedade!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: cedo entre nós a juventude das Universidades, liceus e escolas de Lisboa se reuniu numa grandiosa manifestarão de protesto contra os imperialistas soviéticos e de camaradagem para com os seus colegas mártires, manifestação que imediatamente se propagou a lodo o País. Depois foi o povo inteiro que acorreu a exprimir u sua mágoa e a contribuir com o Réu auxílio generoso. Logo em seguida o movimento regionalista acode também a tomar posição.
Por fim, na passada sexta-feira, são os trabalhadores quem significa a solidariedade ao povo magiar e a repulsa pelo atentado de que foi vítima em impressionante manifestação, a que toda a população se associou, paralisando o trabalho e a vida no momento em que alguns dirigentes sindicais foram entregar a mensagem em que exprimem os sentimentos dos trabalhadores portugueses.
Nesta Assembleia já V. Ex.ª, Sr. Presidente, traduzindo o sentir unânime da Câmara e interpretando os sentimentos do País, manifestou a nossa solidariedade à nação húngara e formulou veemente protesto contra a brutal agressão de que foi vítima o seu povo.
Pouca gente terá ficado estranha, muito poucos terão podido ficar indiferentes, a acontecimentos que feriram tão profundamente a nossa, sensibilidade de homens. Todavia, houve alguns. Alguns porque tenham perdido os últimos restos da sensibilidade de homens, alguns porque, seguros da sua tranquilidade na paz que lhes asseguramos, tenham preferido não sacrificar comprometedoras conveniências políticas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Houve silêncios, silêncios que, para lá do seu significado, nos dão a medida de quanto pode o ódio, de quanto é capaz a vaidade e a arrogância de certos espíritos que se recusam a aprender a própria evidência, a compreender a lição da história.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: comemora-se este ano o 20.º aniversário da Mocidade e da Legião Portuguesa. Completam-se também este ano vinte anos sobre o deflagrar do movimento a que se ficou chamando a guerra civil do Espanha.
Hoje, como então, a ordem do dia do comunismo, sob qualquer disfarce, é a mesma: a luta contra a civilização cristã, luta por todos os meios, luta por todos os processos, luta impiedosa, que nada desperdiça e a que tudo servis.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foi nesse momento que a minha geração compreendeu a tragédia do momento histórico que vivia, pressentiu, no heroísmo dos cadetes do Alcazar de Toledo, os tempos e o destino com que chegava à vida e acorreu às fileiras da Mocidade Portuguesa, pronta a servir, a cumprir a sua missão.
Recordo, Sr. Presidente, a alegria saudável com que tantos se encontraram senhores de si, conscientes da sua missão, dispostos a defender a sua fé.
Foi um período de viva consciência nacional, que sucessivamente galvanizou todas as camadas da população, que viveu, com intensidade e claro entendimento, o drama do país vizinho quase como coisa própria, talvez por instinto, talvez pela compreensão de que ali se jogava o destino da nossa civilização.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Passaram vinte anos! Essa geração foi poupada à guerra e, insensivelmente, foi sendo tocada pelo clima de paz que o Mundo, à força de ansiar, finge ter encontrado, pelo afrouxamento decorrente do reacender de mitos e bandeiras que então pareciam ter os dias contados, pelas ilusões que quase a fizeram esquecer que o perigo se mantinha intacto, o conflito só podia desaparecer por abdicação ou esmagamento de uma das partes.
Eis senão quando o drama húngaro - mais longínquo, mas tão perto - vem fazer reavivar recordações, despertar seu sentimentos, chamar de novo a reunir e a combater.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Entretanto, outra geração chega. Como há vinte anos atrás - mesmo quando a muitos poderia parecer apática ou indiferente -, compreende o significado da luta, ouve a voz da sua consciência generosa, pressente, no heroísmo dos seus colegas húngaros, o sentimento da tragédia da sua época e apresta-se a cumprir a sua missão. Honra lhe seja.
Cabe-nos a responsabilidade de não deixar que a nossa invejada tranquilidade, a pax lusitana, constitua motivo para afrouxamento de vigilância, de amolecimento perante a luta surda que continua a travar-se.
Sr. Presidente: ufana-se o comunismo de ter por si a juventude, os trabalhadores e os intelectuais. A força de o repetir, sem claro desmentido, foi-se criando a ideia de que assim era - a juventude, atraída pela sua ânsia de justiça e generosidade dos seus sentimentos; os trabalhadores, pelo peso de amargas condições de vida, pela insegurança e intranquilidade do seu viver diário; os intelectuais, pelo quimérico da, sua s abstracções pelo orgulho da sua razão, pela vaidade das suas inteligências infalíveis ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pura ilusão! Hoje, como há vinte anos em Espanha, foram os jovens, os trabalhadores e os intelectuais quem fez a revolução em Budapeste, quem não se deixou vencer por mais de dez anos de opressão, terror e privação de toda e qualquer liberdade, quem soube permanecer fiel à sua crença e à sua tradição e lutar, desesperadamente, por elas, ainda quando de todo lhe faltava a esperança!
E nem sequer aqueles rapazes que, no mais puro ambiente lysenkiano, deviam constituir os arquétipos do homem comunista foram ganhos pelo marxismo. Foram esses que incendiaram os tanques, que lutaram nas ruas e que constituem o grosso da coluna dos deportados e também dos refugiados. Grande exemplo e grande lição, que temos, por dever imperioso, de compreender e tirar!
O fracasso do comunismo é evidente hoje na Hungria, como há vinte anos o foi em Espanha.
Mas não nos iludamos.
A tirania comunista continua a imperar na terra magiar, o sangue inocente derramado não se perderá, mas muito tempo se pode passar antes que o povo hún-