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6 DE MARÇO DE 1959 290-(3)

As tendências para o aumento dos consumos, a satisfazer por melhorias nos salários e nos rendimentos, que irromperam em toda a parte neste pós-guerra, assinalado por tão profundas transformações políticas no Mundo, se satisfeitas irreflectidamente, podem conduzir, e já têm conduzido em muitos países, a dolorosas crises de carência de bens, que se materializam em inflações perigosas e reduzem o poder aquisitivo da moeda para níveis que em pouco tempo anulam as esperanças de melhores dias.
O excesso de. consumos contraria a poupança e influi por isso mesmo na criação de investimentos. De modo que os aumentos de consumo têm de ser cuidadosamente vigiados, a fim de evitar os seus efeitos , na estabilidade monetária e na formação do investimento.
O problema do aumento dos consumos é, pois, um dos elementos sérios de uma política nacional, ligado a outros problemas de natureza financeira e económica, que necessita de ser visto à luz das condições de produção dos bens necessários à sua satisfação. E estas incluem o desenvolvimento gradual e eficiente dos recursos materiais disponíveis e a produtividade do homem que os explora.
Se a um aumento de salários não corresponder um aumento na produtividade, ou se a um acréscimo nos consumos não corresponder um acréscimo nos bens ou serviços indispensáveis, é certo haver abalos que se traduzem em perigosos desequilíbrios na harmonia económica, com deficiências na balança de pagamentos por força de grandes importações e atrasos no produto interno, com o seu cortejo de dificuldades, conhecidas de todos por se terem repetido entre nós desde o começo do século actual.

A unidade nacional

4. Estas considerações têm actualidade em toda a Europa, e também em Portugal, que dela faz parte integrante.
Quem seguiu com atenção o desenrolar dos acontecimentos que culminaram ainda há pouco na criação do mercado comum e se debruça sobre a influência que tão grande acontecimento pode ter nos destinos do velho continente não pode deixar de reflectir sobre as medidas a tomar e o caminho a seguir para enfrentar os efeitos da formação de um bloco produtor e consumidor de cerca de 200 milhões de pessoas, muito em breve. Com efeito, a larga área europeia que o constitui dispõe de territórios ultramarinos providos de grandes riquezas potenciais, como as do Sara e as das Áfricas francesa e belga, e é apetrechada no aspecto industrial e agrícola em condições de eficiência, que, já em alto nível tecnológico na actualidade, vai ser ou está a ser adaptado a consumos que ultrapassarão no futuro os de qualquer outra comunidade mundial.
Por outro lado, as rivalidades políticas dos dois blocos americano e eslavo, firmados em ideologias antagónicas, numa luta sem tréguas pela hegemonia económica mundial, geram incertezas ameaçadoras, que podem tornar sombrios os próximos anos.
O momento é, pois, cheio de delicados problemas políticos, económicos e sociais, que necessitam do esforço de todos os que sinceramente têm a peito o bem-estar colectivo.
À primeira condição de resistência as forças que tendem a enfraquecer o esforço comum é a da unidade nacional.
O País sofreu muito com a agitação revolucionária das três primeiras décadas deste século. Uma das consequências dessa agitação reflectiu-se no atraso dos seus instrumentos do fomento e em fraquezas económicas, que obstaram à criação dos rendimentos indispensáveis a melhorias no nível de vida.
Nenhum país, subevoluído ou não, de riqueza potencial à espera de exploração adequada, de consumos insuficientes e de possibilidades prometedoras se pode dar ao luxo de profundas dissenções políticas, que produzem abalos na governação, espalham incertezas e geram desconfianças.
A unidade nacional é o maior e o mais proveitoso factor de progresso - unidade orientada no sentido de procurar obter dos recursos potenciais os meios que lhe permitam enfrentar as dificuldades internas e as que, vindas do exterior, se reflectem nas actividades nacionais.

A paz pública

5. A segunda condição de progresso económico, que não existirá sem a unidade nacional, é a da paz pública.
Não é com perturbações nas ruas ou com apaixonados debates de palavras, que na maior parte das vezes apenas douram os factos ou os desconhecem, que se administra, no presente momento, uma nação fraca de reservas económicas, embora susceptível de as possuir.
O mundo das ideias parece ser infinito e decompor-se em soluções divergentes ou antagónicas, que muitas vezes não consideram na sua grandeza e repercussões os problemas a que procuram adaptar-se. Se persistirem muitas soluções para um problema e se cada um, teimosamente, procurar impor a sua, ainda que à custa de agitações políticas de relevo, então é certo que a vítima é o aglomerado nacional.
Ora os problemas da economia moderna, com grande influência na prosperidade colectiva, não são susceptíveis de muitas soluções.
E para muitos daqueles que nos dizem respeito outros povos mais progressivos encontraram a rota mais adequada. A adaptação ao meio dos melhores métodos de organizar e produzir, e a repartição do produto interno, de modo a não ferir consumos indispensáveis, embora reduzindo os supérfluos, são certamente necessidades vitais na actual conjuntura. E nada ou pouco poderá ser feito sem uma sólida unidade nacional, orientada no sentido do progresso, que possa fazer incidir o esforço colectivo na resolução de problemas urgentes. As soluções encontradas afectarão todas as camadas sociais, ainda aquelas, ou talvez se possa dizer, com propriedade, ainda mais aquelas que na aparência se apresentam mais fortemente protegidas.
A unidade nacional e a paz pública parecem ser, no momento presente, as duas mais fortes alavancas da prosperidade colectiva.
As grandes obras de renovamento económico a traduzir em aumento de consumos sob a cúpula da justiça social, não podem ser convenientemente realizadas no meio de agitações políticas ou de abalos sociais perturbadores. Requerem paz e sossego e impõem a desinteressada cooperação de todos, fora de egoísmos ou de ambições que são causa de abusos e descontentamentos.

O desequilíbrio nos pagamentos em 1957

6. Procurar-se-á dar corpo a algumas das ideias que acabam de expor-se nos comentários feitos adiante. Mas deseja-se fazer sobressair agora um aspecto da vida económica durante o exercício financeiro sujeito a apreciação.
Pela primeira vez, de há alguns anos a esta parte, foi deficitária a balança de pagamento da zona do escudo.