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29 DE ABRIL DE 1959 625

revindictas políticas e sobretudo não permitiríamos que se maculassem as nossas crenças, voluntária ou inconscientemente, com afagos demoníacos e promessas de anjos rebelados, em grande escândalo para os nossos dias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas quem se espantará de que seja assim? As épocas de funda crise espiritual sempre trouxeram consigo à espuma da vida tipos de demagogia insopeada, vozes de perjúrio e feições de horror contra a verdade e a justiça.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Porém, se tais indícios não são para espantar, é nosso dever em justa causa alçar a voz quando nenhuma coisa nos emudece para os limitar e suprimir. Eu não sou nenhum moralista nem pregador de oficio, observo apenas o que vejo e advirto como sei e posso. Eu não sou juiz eleito para condenação e castigo de abusos e reincidências, conheço a lei e respeito quem a define. Eu não sou tão sofredor e pacato que não se me altere o sangue contra ameaças ao bem da minha terra e à honra do sen nome.
Mas o que eu sou, como aliás muitos milhões de portugueses, isso sim, é um cidadão livre, no pleno gozo dos seus direitos e garantias constitucionais, que ama e requer a ordem e a paz frutificadoras, pois sem elas não obedece quem deve, não trabalha quem necessita de pão, não haverá honra nem proveito, pela completa inversão da hierarquia estabelecida por Deus para as suas criaturas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O poder de reflexão de que disponho não será grande coisa, mas julgo-me animado de uma certa sensibilidade política como homem que viu e compartilhou de acontecimentos não de todo inúteis para este país.
É por isto que me custa pressentir e saber que três décadas de acção modeladora na chefia do Governo nacional não cavaram profundamente no espirito e no coração de muitos responsáveis, que vêm agora à liça recobertos de vestes como beguinos de nova idade, temerosos do que há-de vir à sua comodidade e fazenda, sem atentar que aqueles para quem escrevem ou falam suspeitosamente os repudiam como a quem não procede com lisura e sinceridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Acredito que também custará, a quantos homens se empenham, com diligência e vigor, em assegurar a continuidade de uma lúcida política de renovação nacional, ouvir e conhecer que há alianças desaforadas de sinais totalmente contraditórios, às quais apenas solda e acciona o sentimento de uma causa que alguns comparticipantes deitam irremediavelmente a perder.
A política sempre foi uma ciência de realidades, e não há memória de que as conjunções ideológica e moralmente dispares hajam conseguido, já não digo a fortuna das nações, mas ao menos a paz e a esperança para elas.
Grande força, e merecimento maior, pode ter a escola, e eu não sei se aã sagrada oficina das almas opera, comunica, representa e forma como é seu dever imperativo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Os limites da urbe alargam-se e multiplicam-se, mas a cividade - a civitas - não sei se acompanha este desenvolvimento e progresso, modelando as almas com limpidez e acção nitente.
E onde está a cansa daquilo em que estou falando? Na nossa transigência e nossa brandura? Na inconsistência da nossa formação mental? No preconceito actualíssimo que opõe tecnicismo e humanismo, renovando, por outros termos, a querela velha de antigos e modernos?
Não há maior mal, nem mais perigoso e radical, do que aquele que alveja os direitos da razão e conduz ao suicídio do pensamento. Não há nada pior do que deixar cair a razão, não só na incerteza da vida, mas principalmente na incerteza e na indiferença da própria razão. A que compromissos de natureza irredutível não leva isto, a que farsas de política infeliz, a que soluções de limitada conveniência e de inevitável falência na ordem nacional! Os que já entrámos no inverno da vida, mal nos vai se ainda não sabemos o que o peso dos anos pesadamente nos ensina.
Sr. Presidente: o nosso Presidente do Conselho é certamente o único homem em Portugal que não se julga merecedor nem credor das homenagens que nestes dias lhe são prestadas, pois guarda consigo ama força maior e mais expressiva do que todos os aplausos: a confiança absoluta na sua inteligência e a firme serenidade do seu coração.
Seria desconhecer a nota mais viva da soa fina sensibilidade se procurássemos levar ao remanso do seu gabinete a ruidosa aclamação das benemerências e do sacrifício que lhe devemos. Uma coisa, todavia, nos é permitida: é dizer do alto desta tribuna, com a responsabilidade devida ao Pais, que quem não deve não teme, quem se esforça não se cansa, quem tem razão não transige.
O que estou dizendo deve entender-se e proclamar-se como reconhecimento da acção de um espirito egrégio na plasticização de ideias perenes em justos moldes de vida pública nacional coerente, arrojada e feliz.
Falo para portugueses que sentem a pulcra e eminente dignidade de o ser, e que não deixam perder ou trocar a sua fé e sentimento patriótico, por nenhumas seduções ideológicas ou messiânicas, tão estranhas e maleficentes como dissídios, tão peregrinas como alheias.
O dia 27 de Abril de 1928 separa duas faces bem contrastantes da história contemporânea de Portugal, imagens tão opostas que pode afirmar-se que de há três décadas para cá é outro mundo. Muitas e muitas coisas que noutro tempo a nossa gente julgava impossível alcançar, na atitude de cepticismo compreensível quando se malogram as esperanças e se amortecem as faculdades criadoras, deram à consciência pública um surto de confiança e de fé propiciatório de novos e grandes empreendimentos.
Com a segurança e visão clara das mais urgentes necessidades e anseios de efectiva valorização e de progresso nacional lançaram-se os fundamentos para que o futuro do País seja mais farto, mais alegre e mais compreensivo das realidades da sua subsistência.
Tudo isso aí está aos olhos de quem queira ver e se não sinta predestinado para reformador imediato de todo o nosso mundo político e social. Tudo isso está patente, mesmo para aqueles que, sem ciência nem consciência, se esforçam por alterar o espirito do nosso povo, cândido e facilmente crédulo, e se apresentam como quem possui e sabe aplicar, de jacto, todas as panaceias de salvação pública. Quem os pode acreditar?
Nós temos razões de ordem moral, intelectual e política para falar só a verdade, para não usar de embustes de propaganda ineficaz, e não se distingue qualquer motivação razoável que deva empurrar-nos para a sombra onde se acolhem os temerosos e os indiferentes. Quando as águas se encapelam, abalam e estrugem, o