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4 DE JUNHO DE 1959 863

Na verdade, a variada complexidade dos problemas do ultramar, desde o económico ao social, político e religioso, incidentes no plano nacional ou internacional, requer, de facto, do alto magistrado ultramarino um somatório de qualidades tais que o coloquem acima do vulgar dos chefes e o imponham ao respeito de todos
- estrangeiros e nacionais- junto dos quais tem de exercer a sua acção.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Daqui resulta naturalmente a necessidade de se proceder a uma selecção rigorosa de tais elementos.
Por isso, o Sr. Ministro do Ultramar, nas breves palavras proferidas no acto da posse, a que tive a honra de assistir, deixou transparecer nitidamente essa preocupação quando acentuou que, se a escolha de um governador ultramarino nas actuais conjunturas históricas do Mundo não constituía tarefa fácil, esse mesmo problema se revestia de particular acuidade quando se tratava do governo da província de Timor.
E bem se compreende qual o alcance das palavras desse ilustre membro do Governo. É que governar com criterioso senso político qualquer das províncias ultramarinas no momento presente em que o Mundo se debate numa barafunda caótica de ideologias as mais perniciosas, no intuito de aberta ou veladamente lançar a confusão e a desordem no seio de povos habituados, de há séculos, a viver irmanados à sombra protectora da mesma bandeira gloriosa das quinas, constitui, na realidade, tarefa não só difícil como, por vezes, ingrata.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-E por isso do governante que parte para o ultramar e que, antes de mais, se deve rodear, tanto quanto possível, de elementos também de escol, que são ou devem ser os seus imediatos colaboradores, com os quais tem necessariàmente de contar, sob pena de ver minada, torpedeada e condenada a fracasso toda a sua acção governativa, e sobre quem recaem, em última análise, as responsabilidades da administração de uma província ultramarina, seja ela qual for, se exige que tenha profundamente arreigado no sen espirito, a par de um entranhado amor à Pátria, sempre presente a seus olhos nas horas boas ou más, um alto critério de justiça, de prudência, de senso comum, de fino tacto político e administrativo, de perfeita isenção e imparcialidade, de
nítida compreensão dos problemas ultramarinos, que, permanecendo embora no fundo quase os mesmos em todas as províncias, oferecem aspectos de pormenor que não convém nunca perder de vista e podem variar, como de facto variam, com o condicionalismo do espaço e do tempo e com a idiossincrasia desse mesmo povo cujos destinos lhe estão confiados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mas, por isso mesmo que é difícil a arte de governar povos, que não são meros autómatos, mas sim seres livres, dotados de corpo e alma, mais nobre e gloriosa é, sem dúvida, a tarefa daqueles que, pelo seu reconhecido mérito e invulgares dotes que possuem, merecem ser guindados a altos postos de comando, que se não confiam a qualquer um, mas somente a espíritos de escol, perfeitamente integrados na orientação política do Estado Novo e no valor histórico, humano e cristão da missão civilizadora de Portugal no Mundo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Ora as palavras do novo governador de Timor, proferidas no acto da posse, palavras lúcidas, serenas e firmes com que tentou definir as verdades fundamentais que informam o seu espirito, não deixaram lugar a dúvidas quando disse no seu notável discurso:

Acredito nos valores e nas possibilidades da civilização cristã e na missão de Portugal no Mundo, não como quem visiona epopeias, mas como quem sabe que o fim de uma nação não é a contemplação do seu passado, mas sim a construção do seu futuro ...

De facto assim deve ser, e ai dos povos que não sabem preparar e construir o seu futuro! ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Investido no poder pelo Governo Central, que não lhe regateará o apoio e o auxílio necessários em todas as circunstâncias, como lhe assegurou o Sr. Ministro do Ultramar, o novo governador de Timor está decididamente empenhado em valorizar e defender aquela província ultramarina, o mesmo é dizer em servir a Pátria, onde quer que ela reclame a sua presença.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Por isso, na firme certeza de que esta Assembleia me acompanhará nos mesmos sentimentos, daqui formulo votos muitos sinceros por que o Sr. Major Temudo Barata faça em Timor um bom governo, a bem da Nação.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente: na sessão do dia 22 último o Sr. Deputado Carlos Coelho teceu algumas considerações -teceu parece-me ser termo particularmente adequado ao caso-, que o seu talento soube apresentar bem concatenadas, acerca do projecto de instalação de uma secção de fiação de lãs, com carácter de fábrica-piloto, em determinado estabelecimento industrial de Lisboa.
S. Ex.ª confessou lealmente o sen interesse pessoal no caso, como mandatário de uma massa eleitoral que entende poder ser afectada pelas respectivas consequências; é também interesse de análoga ordem, embora de certo modo noutro sentido, que me provoca a pedir a atenção de V. Ex.ª e da Assembleia para o esclarecimento de alguns pontos que, creio, poderão contribuir para definir mais rigorosamente e limitar a proporções mais exactas a questão abordada pelo nosso ilustre colega. E só não o fiz mais depressa por uma ligeira indisposição de saúde me ter impedido de vir cá na passada semana.
Acresce, porém, que na minha intervenção estou, sob um aspecto, em posição mais singularizada do que a do Sr. Deputado Carlos Coelho: é que, por força de um jogo de circunstâncias que não provoquei nem desejei, me encontro individualmente ligado à empresa visada nos comentários do Sr. Deputado, em posição, aliás, nem directiva nem lucrativa; mas, se entendi que isto não deveria desviar-me de procurar servir um interesse mais geral, considero que me impõe a abstenção de todas as considerações subjectivas, e vou limitar-me, portanto, à recordação ou apresentação de factos notórios ou fáceis de verificar.
O primeiro deles é o da oposição de interesses que naturalmente se estabelece entre os criadores de gado