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866 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 115

rece que lidamos com o continente. Mas em Angola leva tanto tempo a chegar cá o dinheiro que chegamos à conclusão de que não vale a pena para lá vender. Em 1957 vendemos para um cliente de Vila Luso fazenda na importância de 2.834$, importância esta que o banco vai enviando lentamente, e ainda hoje recebemos 123$70 por conta. O cliente pagou em devido tempo ao banco, mas ainda nos ficaram a dever agora 572$10».
Sr. Presidente: devo ainda chamar a atenção para as repercussões sociais e políticas destes problemas. É claro que os trabalhadores não compreendem que as fábricas nas quais trabalham reduzam os dias ou fechem até e que ao lado outra instalação trabalhe com dois e três turnos.
A questão, do ponto de vista económico, se pode mostrar que a indústria está doente, cabalmente se compreende; do ponto de vista social, porém, é mais difícil de explicar.
Nestes termos, o encerramento de fábricas, o pleno trabalho de outras, a diminuição do número de operários, fatal consequência do encerramento de unidades fabris e da montagem dos teares automáticos, os salários fatalmente baixos de uma indústria em grave crise, o acordo colectivo de trabalho desactualizado, a mistificação do subsídio de parto às operárias, as dificuldades da falsa indústria caseira e mesmo as da indústria domiciliária, com os seus salários de miséria, ...

O Sr. Dias Rosas: - Muito bem!

O Orador: -.... são problemas que afligem os trabalhadores e que tornam as massas operárias - o que é gravíssimo - apropriado caldo de cultura de bacilos ideológicos, que até agora nunca tinham afectado a maior parte das regiões do Norte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- É indispensável, Sr. Presidente, estudar os problemas do trabalho com coragem, com decisão e com franqueza. Não vale a pena esconder a verdade; dá sempre mau resultado. É melhor explicar aos trabalhadores, na sua maioria esmagadora gente honesta e boa, que enquanto a indústria estiver em crise não podem gozar certas regalias que lhes tinham sido dadas, prometidas ou que ardentemente desejam; é melhor dizer-lho do que continuar a manter essas regalias no papel e faltar-lhes com elas na realidade.

O Sr. Melo Machado: - Muito bem!

O Orador:- Outras questões mais é preciso esclarecer. Os operários prefeririam, por exemplo, que fosse estabelecida, quando possível, a semana inglesa, embora, como é evidente, descontando as horas nos outros dias, e gostariam também que fosse dispensada para as suas mulheres com mais de 35 anos e com filhos a obrigatoriedade da escola primária.
Na verdade, se não aprenderam a ler até esta idade, não me parece justo coagi-las agora. A uma operária que trabalha oito horas, que tem de tratar da roupa e de fazer a comida para si, para o marido e para os filhos, não me parece bem obrigá-la a frequentar a escola; nem sei que calma poderá ter para desperdiçar o tempo - noutras circunstâncias ganhá-lo-ia- que é necessário para aprender a ler, a escrever e a contar.

O Sr. Melo Machado: - Muito bem!

O Orador:- Do mesmo modo pedem o cumprimento da legislação relativa às horas das refeições e a proibição do trabalho das mulheres e crianças de noite, etc.

Outras reivindicações poderiam talvez ser satisfeitas se a indústria estivesse reorganizada.
Mas tudo isto, Sr. Presidente, são problemas que é forçoso agarrar, agarrar rapidamente, com vontade férrea de os resolver.
Sr. Presidente: vou terminar. Antes, porém, quero fazer minhas as brilhantes palavras do nosso colega Sr. Deputado João Rosas relativamente à fatal diminuição do nível de emprego na indústria de que estou a falar e da urgente necessidade de encaminhar para aquelas regiões outras actividades que absorvam os braços desempregados e já habituados a trabalho fabril.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Peço, por isso, o estabelecimento das novas indústrias, sempre que não seja concreta e indiscutivelmente contra-indicado, nos concelhos onde fecharam fábricas e na proporção dos estabelecimentos encerrados.
Sr. Presidente: os pobres mais pobres são os que já tiveram. É aos concelhos onde eles existem que é preciso acudir primeiro, como manda a caridade e a justiça.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: a presença, há dias, do Sr. Ministro do Interior num serão promovido, no Pavilhão dos Desportos, pela Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio foi mais um testemunho oficial da consideração que ao Governo merece tão forte baluarte da vida recreativa portuguesa.
De facto, as sociedades de recreio têm desempenhado entre nós, há mais de um século, um papel de notória importância na difusão da cultura entre as chamadas camadas populares. Por isso do seu meio têm surgido alguns dos grandes valores artísticos do nosso país, sobretudo nos campos do teatro e da música.
Mas as modificações por que a sociedade portuguesa tem passado nos últimos cinquenta anos, mercê de solicitações novas do progresso; as concepções modernas da construção civil e da segurança das pessoas; a complexidade crescente da organização social, impondo a adopção de normas de actuação, estas e outras razões servirão de explicação à longa crise que têm atravessado muitas dessas sociedades, agora animadas na frequência da sede pela televisão - justo cavalo de batalha das casas de espectáculos por esse País fora, diga-se em abono da verdade.
Apreciando certos casos, tenho algumas vezes a mim mesmo formulado a pergunta de se não teria já passado o tempo das sociedades de recreio. Tendo apenas como actividade três ou quatro bailes por ano e um aparelho de televisão todas as noites ligado; tendo apenas como resultado de exercícios um déficit permanente, que a bolsa de já poucos carolas vai cobrindo, essas sociedades não estão hoje a desempenhar a sua função específica, tornando-se elementos de certo modo perturbadores, pela insistência com que solicitam subsídios a diversas entidades, espécie de reforma a que se julgam com direito por serviços prestados, esquecidas de que, tendo sido fundadas por vontade dos sócios, naturalmente acabarão quando eles se dispersarem por desinteresse.
Mas, apreciando outros casos de vitalidade associativa em que o espírito de sacrifício sinónimo de dedicação, de fogo interior- atinge expressão infelizmente rara nos tempos de hoje, apreciando programas