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4 DE JUNHO DE 1959 871

O Orador: - Como ser político, a inteligência de cada um tem de conceber a vida da sociedade, por um lado, em função dos princípios que definem o seu pensamento e, por outro, dos condicionalismos que podem impor a sobreposição das conveniências de uma actualidade mais ou amenos transitória ao estabelecimento de uma orgânica social preferível, por melhor condizer Com os interesses permanentes da Pátria.
Ë certo que nos encontramos hoje em circunstâncias de verificar que o interesse nacional nos obriga -talvez mais do que nunca - a colaborar, como, aliás, o temos feito sempre, com a situação vigente, para defender a Nação. Entretanto, é caso para perguntarmos a nós próprios se nos intervalos destas crises de incompreensão social de quanto a Nação deve à política dirigida pelo Presidente do Conselho, não houve já oportunidades perdidas de cimentar em melhores alicerces uma estrutura política anais conforme à perenidade dos interesses da Pátria.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - E se não será contraproducente, perante o alargamento contumaz da propaganda subversiva, manter um silêncio que a ninguém aproveita. Silêncio que ameaça destruir a sensibilidade necessária para discriminar até que ponto, ou partir de que momento, a colaboração útil à Pátria poderá começar a ser-lhe prejudicial, por conduzir ao enfraquecimento da vivência de princípios que, debilitados em prudências ani-quiladoras, acabam por se adulterar em renúncia.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - E em proveito de quem ? Ao menos da Situação que apoiamos? E caso para reflectir. Não no que respeita à efectividade do nosso apoio, mas à limitação inconveniente da nossa actividade, pondo os olhos no futuro.
Bem sei que a força da tradição é de tal modo instituidora que até os antitradicionalistas procuram aplicá-la à sua antitradição. E, confundindo a simples continuidade com o tradicionalismo, como quem confunde a parte com o todo, procuram cultivar um neotradicionalismo bizarro, que goza da originalidade de não ter base em que se apoie, nem orgânica quê o mantenha. Mantendo um acatamento reverencioso, primeiro ao nome do regime, acabam por se adaptar ao próprio regime que fez da inquietação e da perturbação o clima normal da vida do País, enquanto pela gestão administrativa o conduziu à subversão económica, em que se lhe afogou o prestígio e se comprometeu a própria independência.
Por culpa da desonestidade dos seus mais eminentes político P Não. Quero prestar justiça à honestidade de muitos dos seus homens, que, apesar de honestos, foram vilipendiados pelos seus próprios correligionários em holocausto à democracia que eles criaram e os devorou. A muitos consumiu não só a dignidade, mas ainda a própria vida, acabando simbolicamente por devorar o próprio fundador da República. Como simbolismo nada poderia ser mais barbaramente significativo !

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - A esse estado de agitação sanguinária nos conduzira periodicamente a República nos seus diversos avatares.
Ë fado destes regimes de suprema autoridade electiva o verem-se obrigados a falecer periodicamente para que as pátrias não sucumbam totalmente no precipício a que vão sendo conduzidas ou para que, uma vez salvas, se regresse de novo ao caminho da perdição, voltando a sacrificar a pátria em holocausto à pureza da democracia.
E que, realizada a vivificação que se impôs, logo o egoísmo, o esquecimento dos males pretéritos, por um lado, a leviandade apaixonada e inconsequente, por outro, se aliam à sofreguidão das multidões para destruírem a organização do Estado, que não contém em si o espírito da permanência. E por virtude desta carência a alternativa continua.

O poder da direcção do Estado, comprometido pela desorientação eleitoral que submete a orientação especializada das elites estudiosas à aprovação da massa ignara, necessita de ser restaurado, vivificando-se novamente com a adopção de certas virtudes inerentes às instituições monárquicas. E, dentro desta alternativa sinuosa, a República passa a designar-se com um determinativo numeral ou ordinal.
(Risos).
Já mais do que uma vez foi necessária a decisão da classe militar, cuja formação moral, temperada pelo culto do sacrifício, se torna particularmente sensível aos interesses menos individualistas e mais sagrados da Pátria.
De uma maneira e de outra já vamos na 6." República ! Depois do movimento das espadas que iniciou a 2.º e do regresso à pureza democrática pela sangrenta revolução civil de 14 de Maio, que instituiu a 3.", depois da 4.º, a de Sidónio, também chamada República Nova, e da 5.º, que foi a Nova República Velha (risos), teve a ditadura militar de proclamar a 6.º República ou Estado Novo para salvar a Pátria. E tudo isto no espaço de dezasseis anos! Dezasseis anos que arruinaram o País e só em duas coisas foram fecundos: em revoluções e em governos! Em dezasseis anos quarenta e seis governos.
Depois disto, os agitados inconsequentes, entre os quais se encontram mancomunados extremistas vermelhos com agitados brancos, e mesmo muitos desgostosos bem intencionados, mas insuficientemente esclarecidos sobre a fatalidade inerente a certas instituições, preparam-se, uns para a fazer surgir revolucionàriamente, outros para a acatar em imprevidente expectativa, uma República n.º 7, que se poderá denominar o 3." Novo Estado Velho!
(Risos).
Semelhante estado de coisas não é exclusivo do regime no nosso país. Em França entrou-se já na 5." República para salvar o que resta da França ultramarina, parte da qual foi desportivamente perdida contra relógio (risos) por um estadista muito dinâmico que preferiu prejudicar a pátria a perder um record de velocidade estabelecido briosamente a trinta dias de prazo!
(Risos).
A coisa principiou com o início de novos conceitos das conveniências e da política da pátria, traduzidos, logo depois da vitória, pelo abandono da Síria! De entoo para cá já a Franca abandonou, desde a Indochina a Marrocos e pela África Negra, nada menos de vinte e uma possessões, com 53 milhões de habitantes!
O que os adversários da França não conseguiram levar-lhe em guerras durante séculos fizeram-no os seus políticos em quinze anos de democrática pureza!

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Na verdade, o espírito monárquico não se traduz apenas na legitimidade do Chefe do Estado, mas também no sentimento de manter sagrada â inviolabilidade do território pátrio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!