O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 115 872

O Orador: - Este sentimento, que entre os monárquicos é unânime, não o é entre os que o não são. Haja em vista, em contraste com as atitudes da França, por um lado, a atitude do nosso Governo em face da índia e, por outro, o acordo dos adversários da Situação, pretendendo seguir o exemplo f rances de abdica cão e renúncia.

Vozes:-.Muito bem, muito bem!

O Orador: - E que nas autênticas-democracias a pátria perde todo o seu significado. A democracia é essencialmente niveladora e escrava do momento que passa. E, como nivela por baixo e não olha à continuidade, despreza as altitudes e o futuro. A pátria passa assim a considerar-se uma palavra mais ou menos obsoleta, que se vai esvaziando de sentido perante a palavra democracia», cujo idealismo agitante é abstracto para criar, mas veemente para destruir.

O Sr. André Navarro: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim é que na França tantos franceses de responsabilidade continuam a trair os interesses da pátria-mãe para se converterem em patriotas árabes, em holocausto à democracia patricida. E ao nosso ponto de vista político o que se nos afigura digno de meditação é que o empenho dos antipatriotas visa, afinal, apenas com diferença de sítios, resultados absolutamente iguais aos dos bons políticos do seu regime.
Também entre nós políticos de responsabilidade, cegos pela paixão, têm apelado para o estrangeiro, em atitudes de hostilidade u Situação, sem atender a se com elas comprometem os interesses da sua pátria. E até já surgiu um jornalista execrando mascarado de patriota selvícola (risos) incitando os habitantes das nossas províncias africanas a sacrificar a Pátria eterna para lhe satisfazer as ambições de triste e hediondo mortal.
(Risos).
Bem sabemos que a honestidade não é exclusivo de nenhum sector político e que entre os democratas convictos se encontram pessoas que nos merecem a mais alta consideração e respeito. Não deixa, porém, de ser digna de reparo a circunstância de ser sempre do mesmo sector, embora mais ou menos avançado, que provêm estes tristes exemplos.
E contra esta fatalidade lutam ingloriamente republicanos honestos e idealistas, que procuram uma situação de compromisso (por isso mesmo fatalmente comprometida e instável) entre idealismos condenados a manterem-se eternamente no campo teórico e um humanismo preconceitual concebido pela razão, mas continuamente desmentido pela lição dos factos.
Comparemos estas instabilidades periodicamente revolucionárias, particulares aos sistemas electivos, de que esta Assembleia se está ocupando, com a vida tranquila das sociedades que não têm que escolher. Comparemo-las em cada nação, consigo mesma no decorrer da História, e entre os diversas nações entre si nos últimos períodos da actualidade. E reparemos em que se não tire nenhuma lição dos factos, permanecendo à espera de que as soluções baseadas em racionalismos teóricos triunfem das fatalidades que lhes são intrínsecas.
A fatalidade de certos regimes está em que na realidade se encontram estabelecidos sobre um plano inclinado. E que não existe uma linha horizontal a ligar os conceitos políticos diametralmente opostos, e todas as situações - que pretendam estabelecer-se em posições intermédias hão de forçosamente resvalar do equilíbrio instável em que se encontram. E ou tenderão para se fixar numa estabilidade orgânica de base cristã, ou para se subverterem no abismo onde as utopias generosas se afogam em sangue e os mentores chamam depuração ao "assassínio dos próprios correligionários que lhes fazem sombra.

Quantos se encontram ainda presos ao prestígio romântico das palavras! Aqueles que não mantêm superstições dentro das próprias crenças é lhes indiferente a palavra república», que no seu polimorfismo serve paru tudo (até para confundir democracia com autocracia comunista) e tem, aliás, na tradição portuguesa um significado tal que os próprios reis se consideravam seus servidores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E faziam-no em boa verdade, porque mais do que ninguém, pela garantia de uma unidade de soberania, eles estavam em condições de servir a rés publica sobre os interesses dos partidos, considerando a Nação como património comum de todos os portugueses, e que, por isso, não é pertença nem de monárquicos nem de republicanos.
E se a Situação merece desinteressado apoio e os monárquicos lho têm dado é porque eles nada têm a temer de qualquer sujeição aos interesses da Pátria, porque onde estiverem os interesses da Pátria está implícito o triunfo dos seus princípios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E se é certo que o tempo não pode estar fora das suas ansiedades; não os interessa a satisfação precipitada dos seus ideais. Não está nos seus princípios n conquista da ordem pela desordem, mas sim a vitória das consciências esclarecidas de um escol que põe acima do momento que passa os interesses perpétuos da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Porém, repetimos: que o sacrifício transitório que entendem dever fazer não possa confundir--se com abdicação e passividade permanente! Ao verificar, como já afirmámos, que mais uma vez se impõe a colaboração leal e desinteressada que os monárquicos têm prestado à Situação desde o primeiro momento, não podemos deixar de considerar quanto esta se tem mantido, em prejuízo da sua própria obra, no apegamento estéril ao prestígio ecolálico de uma palavra, que tão insuperáveis, dificuldades constantemente impõe à continuidade da obra realizada. Palavra definidora de um sistema onde tudo ameaça incerteza e instabilidade, e que tem como condição de permanência o queimar-se periodicamente, para ressurgir das próprias cinzas revolucionárias, como uma fénix representativa da persistência totémica de um feiticismo tribal.
O apoio reflectido que, apesar de todas as discordâncias com numerosos factos (alguns dos quais se pretenderam, modificar no projecto de lei n.º 23 e em outros), tem sido conscientemente e desinteressadamente prestado na defesa de uma situação que vem garantindo a ordem necessária u prosperidade da Nação em nada se valoriza com uma atitude de renúncia e conformismo que falsamente possa interpretar-se como definitivamente acomodatícia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois não será mais útil sei-mos decididos e activos, tanto no apoio ao que reputamos transitoriamente necessário, como na afirmação dos princípios capazes de garantir para além do transitório o