O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

11 DE JUNHO DE 1959 907

influentes e decisivas na vida e na existência de todo o mundo moderno?
É porque este dia não separa, não divide, não afasta ninguém dos clarões desta luz do espírito com que Portugal se ilumina, do calor desta fogueira de amor pátrio em que Portugal se aquece, da paz desta gente amorosa e aventureira que com Portugal levou Europa, e tudo quanto nela se continha de civilização e de cultura, ao mundo velho do Oriente, onde ainda está, e- ao mundo novo do Ocidente, onde renasceu em corpo e em alma que já só se extinguirão se Deus algum dia apagar do universo tudo quanto o Ocidente simboliza e nele se condensa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Não divide, não aparta nem distancia no lar lusitano este dia que se define e se afirma como o Dia de Portugal, por excelência. Cabemos todos neste lar e a todos nos abrangem a honra, a dignidade, a imortalidade que os Portugueses ganharam e que o legado genial de Camões não deixou que morressem, nem na verdade do estudo, nem nas emoções artísticas da beleza, nem nas profundas influências de tudo quanto de bom foi connosco, Portugueses, e logrou no mundo descoberto superar os males da ocupação e da conquista por bens de convivência humana e integrações de fé, de cultura e de civilização. E o que aqui dentro nos não divide, nem afasta, nem separa, o que nesta terra quente e querida da Pátria nos chama e incita a uma solidariedade fraternal que nos amaine as paixões, nos extinga os ódios, nos esbata as malquerenças e nos aproxime pelo coração e pelo espírito, tudo isso nos une e nos liga e nos aperta ainda mais àquele outro mu a do de maior dimensão que vive para além das linhas de demarcação nacional e que é o mundo de cujos valores fomos intérpretes e mensageiros e é também o mundo de que fomos matriz criadora, mundo que no seu conjunto ou subsiste ou morre neste entrechoque do espirito e da matéria, de Deus e de Satã, do homem livre na sua universalidade de pessoa imortal e do homem escravo no seu confinamento de número efémero.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: tenho querido apenas dizer - pobre de mim -, algo de semelhante ao. que Latino Coelho disse tão cristalinamente no seu imorredouro discurso da Academia das Ciências do Lisboa por ocasião do terceiro centenário da morte de Camões:

Nenhum povo tem como o português um destes felicíssimos espíritos, que são ao mesmo passo o génio da nação e o génio da poesia e em cujas obras respire ao mesmo tempo a pátria e a humanidade, a glória privativa de um só povo, e o destino comum de uma inteira civilização. Imortal é o Camões, imortal para os seus, imortal para- os estranhos. Para os seus, porque em versos admiráveis divulgou as empresas, em que foram protagonistas. Imortal para os estranhos, porque os feitos que reconta são o berço onde incubou, fecunda, a novíssima civilização.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: o mandato de que andamos investidos e agora nos prende, em melindrosas responsabilidades, a uma revisão de conceitos do estatuto principal da Nação impõe-nos - e seria gravíssimo se o esquecêssemos - que neste dia, o Dia de Portugal, tenhamos bem presentes no nosso foro interno a coesão humana na unidade nacional e, no conceito do mundo, a força daqueles valores de espirito pelos quais perante o mundo respondemos, com incontestáveis direitos de autoria, por uma acção a que Fidelino de Figueiredo chamou ca ligação dos hemisférios morais da terra, o reconhecimento pelo homem da sua casa terrena, da casa que Deus lhe dera, mas de que ele só se haveria de apossar por seu esforço próprio e por uma epopeia que, no dizer de Harry Meyer, mais do que um belo poema, é o manifesto poético da ética ocidental».

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador:- Se ficássemos mudos e estranhos, pela palavra e pelo espirito, a estes dois imperativos - ode um exame da força e do valor da consciência nacional e o da nossa posição fundamental perante a civilização do Ocidente - nós estaríamos- hoje faltando a um dos mais altos deveres de altiva soberania que havemos de vigorosamente clamar e reivindicar nesta Câmara.
Anda na verdade inerente ao nosso mandato de Deputados da Nação o dever de zelar, consolidar, revigorar a unidade nacional, unidos nós mesmos na serenidade e na firmeza sem falso amor próprío e sem paixão, assim como por igual se nos impõe reivindicar, defender e servir o quanto somos e valemos na grandeza e na universalidade desta nossa civilização, cuja carta moral seria bem outra sem o nosso esforço e sacrifício e que só em Camões encontrou voz eloquente e expressão sublime que pudesse falar em nome do mundo moderno.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: em 1954, um ilustre professor francês deu a lume notável tradução de Os Lusíadas para a gloriosa língua da doce França. Publicou-se essa tradução sob os auspícios do Instituto Francês em Portugal, e Pierre Hourcade, o ilustre director desta instituição de cultura, quis escrever no prefácio daquela tradução as seguintes palavras:

La signification des Découvertes dans l'Histoire s'en trouve éclairée d'un jour nouveau, qui révèle leur importance primordiale a l'origine de nos préocupations les plus actuelles. Sous leur revêtement d'époqne, Les Lusíadas en acquièrent une vie nouvelle, se parent d'une seconde et singulière jeunesse. Cette épopée moderne célebre la naissance dn monde ou nons vivons.

Pois bem, por essa mesma época publicava-se em Portugal uma História da Literatura Portuguesa que por aí anda em mãos de estudantes e de estudiosos, obra a que não faltam nem o talento nem o saber, mas em que também abundam perigosos e errados princípios de interpretação e de critica, e nessa História da Literatura Portuguesa, da autoria de dois portugueses, Os Lusíadas são considerados suma obra ideologicamente desactualizada para um leitor moderno. E, Sr. Presidente, parece que estamos nós oficialmente dando razão a este critério que deveria merecer toda a nossa discordância e veemente acção de prova em contrário.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Decaíram na cultura superior em Portugal os estudos camonianos, suponho ter sido extinta a respectiva cátedra em uma das nossas Faculdades de Letras e serem hoje bem precárias a frequência e a assiduidade de alunos a cadeira que na outra Faculdade existe e porventura já só existe porque há um fundo material que a sustenta e uma responsabilidade moral perante a memória de Zeferino de Oliveira, seu fundador, que a não