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11 DE JUNHO DE 1959 909

menagens de veneração e de respeito na «passagem do Dia de Portugal S. Ex.ª há-de gostar que vá convosco este alto e nobre pensamento e às nossas razões de certeza acrescentará mais uma da sua apaixonada predilecção: O» Lusíadas são o cântico da conquista do mar, são a voz nova e hoje eterna da transformação de Portugal num pais de navegadores, e ali bem perto da chamada Praia das Lágrimas o homem do mar que vai de capitão na nau do Estado há-de viver e reviver a glória da Nação a que preside o esforço do povo que representa e os caminhos do futuro que lhe está confiado. No seu coração largo de marinheiro há-de caber com agrado este nosso culto de Camões, o maior cantor do mar de todos os tempos e de todos os idiomas.
E termino, Sr. Presidente, não sem relembrar as palavras por onde principiei, para solicitar-lhe agora que acrescente o vigor da sua autoridade presidencial e o mérito da sua cultura de humanista a este nosso apelo em favor de uma restauração da consciência camoniana, a única que em todas as épocas e circunstâncias sempre se identificou com a própria consciência nacional.
O grande pensador espanhol que se chamou Francisco Rodrigues Marin disse, num dia do ano de 1924, perante os reis de Espanha, as seguintes palavras, cora que deu fim a um discurso sobre Camões:

Senhor! A prosperidade das nações, a altura do nível da sua cultura, têm por principalíssima causa o ideal. Povo sem outro norte que não seja a concepção materialista da vida é povo que perdeu de todo, lamentavelmente, o direito a florescer ou a reflorescer. Ainda se está a tempo. Que não seja tudo consagrado a matéria, que é de si mesma bruta e pouco nobre, mas que por desdita se vai em tais termos assenhoreando do Mundo que nos ameaça, talvez em curto tempo, com o maior dos males e prenúncio certo de ruína espantosa: com o mal da completa anulação da vida do espirito. E ai daqueles, homens e povos, que esquecem ser o espirito o único que nos diferencia dos animais e nos assemelha a Deus!

Isto disse - e com que razão! -, na Espanha de 1924, D. Francisco Rodrigues Marin a propósito de Camões. Não andam longe da mesma intenção as palavras que eu trouxe a esta Camará em louvor e glória de Camões no seu dia comemorativo, que a vontade da Nação quis e muito bem que fosse o Dia de Portugal.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Castilho de Noronha: - Sr. Presidente: ocorre amanhã a data mais festiva do nosso calendário cívico - Dia da Lusitanidade. Dia em que, numa alentadora visão retrospectiva, se revivem as horas mais gloriosas, os anos. mais venturosos, os séculos mais esplendorosos da história de Portugal.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Muito bem!

O Orador:- Dia que terá a sua comemoração votiva aí onde pulse um coração português.
De facto, português que se preze não pode deixar de vibrar de profunda emoção num dia destinado à recordação das glórias que opulentam a história do seu país.
Poucas nações, ia a dizer nenhuma nação, podem rever com tanto orgulho, com tão legítimo desvanecimento, o seu passado como Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Nessa visão do passado açode-lhe ao espirito deslumbrado essa grandiosa cruzada em que o Portugal quinhentista se empenhou de olhos postos no formoso ideal da expansão do seu nome o da civilização cristã.
Perpassa-lhe ante os olhos atónitos essa plêiade, reduzida em número, mas grande pela sua indomável bravura, de valentes e destemidos guerreiros que, em gloriosas arrancadas, operaram prodígios de valor, implantando em continentes distantes, em terras longínquas, a bandeira do Portugal. As conquistas sucediam-se vertiginosamente unias às outras. De triunfo em triunfo, Portugal estendia assombrosamente os seus domínios.
Mas nem o fragor das duras pelejas em que os Portugueses se empenharam os aturdiu, nem o brilho das vitórias lhes turvou a visão a ponto que não apercebessem a caducidade e a instabilidade das conquistas, materiais que não tivessem a valorizá-las a conquista espiritual.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E por isso as terras que os Portugueses conquistam transformam-se em cenários de uma intensa acção missionária exercida por ardorosos apóstolos que, em magníficos gestos de desinteresse e abnegação, se devotaram a causa da cristianização dos novos domínios de Portugal.
Verdade é que no decurso dos tempos muitas dessas terras se desmembraram de Portugal. Mas nem por isso o sen nome caiu ai no esquecimento.
Valha por todos o exemplo do Brasil, desse grande Brasil que Portugal afeiçoou à sua imagem e semelhança, do que resultou essa amorosa comunhão de ideias, de afectos, de sentimentos, culminando na fraterna e indestrutível solidariedade que liga os dois povos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Brasil é o documentário vivo a atestar a excelência da política que Portugal adoptou no período das conquistas; Brasil é o padrão imorredouro da grandeza do Portugal colonizador. Está nisso a razão por que o Brasil se associa a Portugal nu celebração do Dia da Lusitanidade, que é também o dia da comunidade luso-brasileira - Brasil comemora-o com o mesmo júbilo, com o mesmo entusiasmo.
E tanto Portugal como o Brasil celebram esse dia sob a égide de Camões. E não é sem razão: Camões - disse-o alguém - é a própria legenda da alma lusitana que se revela no seu génio, na sua sensibilidade artística, na sua bravura blindada pela fé no ideal, na sua intuição divinatória do futuro, das sombras que projectam o progresso, como um mito glorioso da nacionalidade, a alma eterna da raça.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Camões cantou, em estrofes de ouro, as grandezas de Portugal. Os Lusíadas são o lampadário aceso no altar da Pátria. A luz fulgurante dessa chama surpreende-se, em toda a sua intensidade, a chama do patriotismo que ardia no peito dos valorosos portugueses que dilataram a fé e o império.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Salvando-se a nado de um naufrágio, Camões salvou também o preciosíssimo manuscrito que era a sua única riqueza e com que aportou à índia. Foi da Índia - muito grato me é frisá-lo - que Camões trouxe