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260 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 144

fora da cidade, não se resolve com o facilitar o transporte dos trabalhadores das zonas residenciais para os bairros de Lisboa onde trabalham: resolve-se, sim. com a deslocação dos locais de trabalho, dos estabelecimentos industriais e comerciais, para fora da capital, criando, como deve ser o pensamento do Plano Director, diversas cidades e centros industriais na periferia da grande urbe.
Um outro alto benefício há a esperar da aplicação do Plano, não já no seu aspecto, digamos, restritamente citadino, mas considerando a extensão regionalista que a Assembleia Nacional, ao aprová-lo, sugeriu que se lhe imprimisse. Refiro-me ao que me permitirei designar como «ocupação industrial da zona de Setúbal». Efectivamente, Sr. Presidente, causa pena, mesmo aos menos interessados na geografia económica da magnífica região constituída pelo estuário do Sado, verificar o desaproveitamento das extraordinárias possibilidades que essa zona oferece para a localização de numerosas indústrias. Um amplo porto de mar, um rio navegável em muitos quilómetros, terrenos marginais aptos para a edificação de armazéns e instalações fabris, uma cidade em crescimento, de clima magnífico, rodeada de belezas naturais - tudo isto são factores que já deviam ter atraído para a região de Setúbal as atenções, tanto as dos órgãos do Estado que orientam a localização industrial, como as dos empresários interessados na criação de novas indústrias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: sabe-se o que representa na vida económica de diversos países, como a Holanda, a Bélgica, a Alemanha e modernamente a Rússia, uma rede de canais, naturais uns, outros resultantes de obras mais ou menos consideráveis de engenharia, e que de forma tão importante facilitam e embaratecem os transportes de mercadorias e poupam as estradas. Seguindo o exemplo dessas nações, Portugal, que há 30 anos riscou do seu vocabulário das obras públicas a palavra «impossível», e, num esforço verdadeiramente heróico, sob o comando do eminente Chefe do Governo, ergueu do nada essa vasta obra de fomento constituída pelos portos, rodovias, barragens, pontes, etc., porque não acrescentará essa obra formidável com mais o valioso melhoramento que será o canal Tejo-Sado?
Penso, Sr. Presidente, que temos motivos para não considerar utopia esta obra. O seu estudo económico encontra-se feito, assim como o respectivo anteprojecto, que foi em tempos entregue à Comissão Técnica das Zonas Francas. Para corporizar a ideia, para a transformar de almejada esperança dos povos interessados em mais uma magnífica realidade nacional, julgo que de algo servirá ir falando, ir insistindo, aqui e em toda a parte onde as aspirações do País possam ser interpretadas e tenham eco nas esferas do Poder. For isso me atrevo a confiar nas entidades a quem foi entregue o estudo do Plano Director de Lisboa para que nesse estudo seja considerado o canal Tejo-Sado e, a ele ligado, o aproveitamento industrial da zona de Setúbal. Sob a competente orientação do Sr. Ministro das Obras Públicas, o grupo de escolhidos técnicos que constitui a comissão do Plano vai iniciar os seus importantes trabalhos. Confiemos inteiramente no saber e na dedicação de um e outros, para que, com a brevidade compatível com tão sério problema, possa ser ultimado e dado a conhecer ao País - que deve apreciá-lo vastamente - esse Plano, que tanto influirá no panorama económico e social de importantes regiões dos distritos de Lisboa e Setúbal. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mário de Oliveira: - Sr. Presidente: em clima político particularmente propenso a intensificar a livre circulação de capitais, mercadorias e pessoas, o turismo internacional assume hoje, no espaço económico europeu, um papel de singular importância.
O turismo é, por si só, a viva expressão da nossa época, a traduzir-se num estado de espírito de inquietação, em que o homem procura evadir-se do meio onde sofre 05 efeitos depressivos do sedentarismo urbano, da monótona rotina de um estilo de vida cada vez mais estandardizado.
Por isso, e já que, desgraçadamente, perdeu o contacto reconfortante com a meditação, com a sua vida interior, o homem tende a deslocar-se em demanda de outras latitudes, de outros ambientes, na ânsia de aí encontrar novas forças, novas perspectivas, novos estímulos do acção.
Não é nosso intuito formular um juízo de valor sobre o tema, que é, aliás, extraordinariamente rico na sua problemática política e sociológica, mas simplesmente considerar o fenómeno em si, como uma das grandes realidades do nosso tempo, e ponderar algumas cias suas transcendentes expressões económicas.
Deste último ponto de vista, poderá ver-se que o turista propriamente dito é uma entidade que se desloca com o único objectivo de gastar os seus dinheiros. Não visa qualquer finalidade de lucro - é, essencialmente, uma unidade de consumo.
Ao lado desta categoria de viajantes existe outra que se move em função de necessidades da natureza profissional. A gestão dos negócios públicos e privados fornece uma grande legião humana que contribui para o alargamento deste tipo de correntes migratórias.
E certo que neste domínio já existe um objectivo de lucro directo ou indirecto que suscita a deslocação, mas os seus efeitos económicos imediatos são os mesmos.
Todos os meios de transporte, desde o avião ao automóvel, desde o autocarro e do comboio ao barco, recebem forte pressão de procura.
O avião, sobretudo, com n sua velocidade, a sua frequência e a sua lotação progressivamente acrescidas, está a contribuir decisivamente para o engrossamento das correntes turísticas, canalizando-as e transportando, mas em poucas horas para regiões noutros tempos inacessíveis às bolsas mais abastadas ou às vontades mais caprichosas.
E quase lugar-comum dizer-se que o Mundo se encurtou, que os povos estão mais próximos uns dos outros, mas nunca tais assertos tiveram tanta propriedade como agora no esquema da vida social do nosso tempo.
O movimento turístico, que se acentuou depois da última guerra de forma notável, deu, assim, lugar a intensa proliferação de agências de viagem, que promovem digressões para todos os gostos e para todas as bolsas, com o objectivo de explorarem comercialmente esse estado de espírito.
Se quisermos anotar em breve apontamento os efeitos político-sociais do fenómeno, poderemos acrescentar que a multiplicidade desses movimentos humanos está a contribuir para estabelecer uma recíproca influência entre os povos, uma interpenetração de usos, costumes e culturas.
Se este é um dos factores que podem actuar fortemente para uma melhor compreensão das nações entre si, há,